Um novo e promissor tratamento
Pesquisa conduzida por professoras da
Fumec há 14 meses identificou alterações metabólicas em células
cancerígenas tratadas com fitoterápicos
Bruno Freitas
Estado de Minas: 04/10/2014Com a estudante Gabriella Pires, as pesquisadoras Luciene Tafure e Mariana Gontijo propõem novas formas de combater o câncer de mama |
Segundo tipo mais comum, principalmente entre as mulheres – 22%, segundo o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) –, o câncer de mama tem na fitoterapia – a cura por meio das plantas – um novo e promissor meio de tratamento, que pode, a longo prazo, elevar a sobrevida média de 61% dos pacientes, depois dos cinco primeiros anos de diagnóstico. Pesquisa iniciada pela Faculdade de Ciências Humanas, Sociais e da Saúde (FCH) da Universidade Fumec há 14 meses, e cujos primeiros resultados foram apresentados na 29ª Reunião Anual da Federação das Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), em agosto, em Caxambu (Região Sul de Minas Gerais), identificou alterações metabólicas em células doentes tratadas com fitoterápicos, com indicativos de morte celular.
A observação foi realizada por alunos de Biomedicina, com a coordenação das professoras nas áreas de bioquímica, imunologia e patologia geral Mariana Gontijo Ramos e Luciene Simões de Assis Tafuri, em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – que forneceram as substâncias das plantas utilizadas. A expectativa agora, com a continuidade dos estudos, é identificar alternativas de curva e prevenção, além do tratamento convencional já adotado.
Duas previsões de dados do Inca para este ano ressaltam a importância do desenvolvimento de pesquisas como esta no combate ao mal, que é relativamente raro abaixo dos 35 anos: 5 mil mortes devem ocorrer por câncer de mama até o fim do ano, além de 57 mil novos casos em todo o mundo.
“A pesquisa surgiu do interesse de professores e da universidade em desenvolver atividades científicas. Em colaboração com grupo de pesquisas da UFMG, surgiu a ideia de se trabalhar com células de câncer de mama e produtos naturais. Na universidade, existia uma série de substâncias a serem testadas. Quando surgiu a ideia, pegamos as substâncias disponíveis e não sabíamos quais teriam atividade biológica. Realizamos testes para saber quais eram ativas e, dessas, quais as mais ativas. A melhor ação foi a com a warifteína”, conta a professora Luciene.
A pesquisa durou cerca de um ano na fase inicial, com os resultados preliminares divulgados, e vai continuar por pelo menos mais um ano em busca de respostas mais completas. Quatro alunos em iniciação científica – todos bolsistas (CNPq, e dois do Pro-PIC) – participaram da observação microscópica. Um deles integra hoje o Ciências Sem Fronteiras, do governo federal, realizando pesquisas nos Estados Unidos. Substância extraída de plantas frequentes na Região Nordeste do Brasil, como a abuteira, a milona, a jarrinha ou a orelha-de-onça, a warifteína é muito utilizada na medicina popular, por exemplo, como chá antidepressivo e no trato respiratório. A substância foi isolada em laboratório, aplicada nas células com câncer e apresentou o melhor efeito. Além da UFMG, a Universidade Federal da Paraíba forneceu a substância. “São plantas comuns na natureza, encontradas entre o Ceará e a Bahia. As quantidades são pequenas, menos de 1ml, colocando em contato com células com tumores mantidas em cultura”, explica a professora da Fumec.
EXPOSIÇÃO Durante o procedimento de pesquisa, na medida em que as células foram crescendo, em intervalos de observação de 24 horas, 48 horas e 72 horas, doses de warifteína eram acrescentadas para medir esse crescimento. As pesquisadoras identificaram, então, que, quanto maior o tempo de exposição da substância à cultura, maior era o número de células mortas. “Além de matar a célula, a warifteína alterava o seu formato. O principal resultado foi a morte da célula. Queríamos ver se era possível matar a célula cancerígena com o menor efeito colateral, o que foi demonstrado pelos estudos. Na segunda fase, queremos entender quais os mecanismos de morte, como essa substância mata as células, testando o efeito citotóxico da substância na célula cancerosa. Também vamos fazer testes nas células sadias”, adianta a pesquisadora.
O tratamento conseguiu reduzir a viabilidade da célula cancerígena em 70%, em 72 horas de exposição. Morte considerada expressiva pelas pesquisadoras.
A metodologia, ressalta Luciene, venceu pela simplicidade, por se valer de técnicas usadas corriqueiramente em laboratórios de pesquisa, com recursos relativamente pequenos, sem aparelhos sofisticados. Essa é também a primeira e, até então, única experiência da Faculdade de Ciências Humanas, Sociais e da Saúde da Fumec no uso de fitoterápicos em células cancerosas.
Mariana e Luciene sustentam que, com os resultados já obtidos, podem-se identificar substâncias a serem usadas no tratamento do câncer de mama com o mínimo de efeitos colaterais aos pacientes, principalmente mulheres. “Esperamos que a pesquisa contribua com mais uma substância a ser usada no tratamento. Ainda há muitos estudos a serem feitos. Temos um caminho bem longo pela frente, mas todas as pesquisas começam com esse tipo de estudo, que serve de base para estudos mais avançados, até chegar aos testes em humanos. Esperamos contribuir para um achado importante. É preciso valorizar a pesquisa básica, para a qual não se dá tanta importância, porque não tem muita visibilidade”, conclui Mariana.
Saiba mais
O que é fitoterapia?
É a cura por meio das plantas. As ervas medicinais hoje têm papel valioso como recurso terapêutico oferecido pela natureza. A fitoterapia consiste no conjunto das técnicas de utilização dos vegetais no tratamento das doenças e na recuperação da saúde.
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