Perdi o sono diante da notícia de que a
PF começou a prender donos de empreiteiras. Botei pilhas no gravador e
comecei minha delação
Estado de Minas: 22/11/2014
Perdi o sono diante da notícia de que a Polícia Federal começou a prender os donos das empreiteiras. Fui dono de empreiteira e o meu sócio era engenheiro da Petrobras. Apaguei as luzes do apê, deixei tocar o telefone sem atender, bem como o maldito interfone que dá para a rua, botei pilhas novas no gravador e comecei minha delação premiada sobre o episódio do suborno.
Meu sócio era efetivamente engenheiro da Petrobras, mas aposentado. Muito amigo, concordou em ficar com 10% do capital da empreiteira por exigência legal. Foi dos homens mais honestos e puros de sentimentos que este país já conheceu, casado, apaixonadíssimo pela mulher, ambos muito cultos, ele um dos engenheiros mais completos que o leitor possa imaginar. Pudera: primeiro lugar de sua turma na velha Escola de Engenharia de Juiz de Fora, que era o ITA, o IME daquele tempo.
Num balanço honesto sobre os anos todos em que fui empreiteiro só me envolvi em dois episódios de suborno. Dei um potro barato a um economista, que havia comprando um sítio, ele botou no presente o nome Dudu, fiquei furioso, rompemos relações.
O outro suborno foi mais grave e até hoje me incomoda. A funcionária da estatal que liberava minhas faturas mostrou-me, numa revista, a propaganda de uma tábua de privada feita de acrílico. Não creia o leitor que a frase anterior esteja errada: Houaiss abona “ou outro material” para tábua de privada, que, aliás, hoje é feita de plástico. Mas o tampo de acrílico era a coisa mais bonita do mundo na opinião da senhora que liberava as faturas da empreiteira.
Não existindo a peça para comprar em Juiz de Fora, pedi à excelente funcionária que tomasse as medidas da parte de cima do seu trono matinal, envelopei a folha de papel pardo com as medidas, remeti para um amigo do Rio, que encomendou a tábua acrílica transparente, cheia de florezinhas coloridas no meio das quais a funcionária poderia assentar a sua flor.
Morrendo de vergonha, levei-lhe o suborno imaginando que o presente ficaria entre nós, a subornada e o corruptor. Duas horas depois, toda a estatal, que tinha milhares de empregados, sabia do suborno, porque a funcionária fez questão de mostrar o lindo presente aos funcionários de todos os andares. Pronto, aí está a delação premiada. Aguardo, tranquilo, a tornozeleira eletrônica e autorização para trabalhar em casa.
Descuidos
Nosso telejornalismo é meio descuidado no capítulo dos números. Um incêndio destruiu imensa fábrica de tecidos no Centro da cidade de São Paulo, três galpões reduzidos a cinzas, e os repórteres dos telejornais informaram que os bombeiros apagaram o fogo com 30 mil litros de água de reuso. Ora, bolas: 30 mil litros são dois caminhões-tanques pequenos, que não apagam o fogo de uma quitinete. E tem mais uma coisa: num incêndio que ameaça destruir quarteirão repleto de prédios, alguns residenciais, faz sentido pensar em economia de água ou água de reuso?
Os incêndios na Serra do Cipó e na Serra dos Órgãos, ora queimavam 1.500 hectares, ora queimavam área equivalente a 1.500 campos de futebol. Esta mania de campo de futebol em lugar de hectare deveria dar demissão por justa causa, mas é repetida todos os dias em todos os telejornais. E o melhor da festa fica por conta do jornalista Chico Pinheiro, no Bom dia Brasil do dia 24 de outubro, ao chamar o vigilante Thiago, de Goiânia, GO, de “suposto serial killer”. Suposto como, seu Chico? O vigilante é autor confesso dos homicídios, que ora são 39, ora 29 ou mais que 39. A perícia confirmou que em oito mortes a munição saiu do revólver encontrado na casa do Thiago. Suposto não tem o menor cabimento.
O mundo é uma bola
22 de novembro de 1546: Calvino edita um decreto que regulamenta os nomes que devem ser dados e os que são proibidos aos recém-nascidos em Genebra. Taí: boa ideia para um país inzoneiro, que já não aguenta a revoada de Maiconjéquissons.
João Calvino (1509-1564) era um chato. Teólogo e reformador cristão, foi um dos grandes nomes da Reforma protestante. E daí? O só fato de ter existido depõe contra a espécie humana. Se o mundo não acabar dentro de alguns anos, o bispo Crivella será referido como um dos grandes nomes da reforma evangélica e aquele apóstolo, o das toalhinhas suadas que curam hemorroidas e espinhelas caídas, será outro reformador importantíssimo.
Em 1842, inaugurada em Santa Cruz, no Rio de Janeiro, a primeira agência dos Correios com entrega domiciliar. Em 1943, o Líbano se torna independente da França. Em 1963, o presidente americano John F. Kennedy é morto a tiros em Dallas, Texas. Em 1975, Juan Carlos assume o trono da Espanha. Dois filhos que teria tido fora de casa, um ainda solteiro, outro já casado, pediram teste de paternidade recusado pela Constituição espanhola. Hoje é o Dia da Esteticista e o Dia do Músico.
Ruminanças
“O dinheiro é a maior evidência de que o diabo existe”(Santo Agostinho, 354-430).
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