quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Fronteiras - Eduardo Almeida Reis

No Brasil daquele tempo, até os relógios japoneses eram contrabandeados

Estado de Minas: 05/02/2015 




Vejo em excelente programa de TV entrevistas de um delegado da Polícia Federal e do ministro Aroldo Cedraz, do Tribunal de Contas da União. Depois de 12 anos de governos petistas, com os doutores que têm presidido o Senado, ministros dos tribunais superiores nos assustam. Mas Aroldo Cedraz de Oliveira, apesar de ter sido nomeado pelo Lula, é médico veterinário, tendo, portanto, credenciais para lidar com a fauna brasileira.

Falando das dificuldades de policiar nossas fronteiras – só com a Bolívia são 3.400 e com o Paraguai 1.920 quilômetros – o delegado disse que a Faixa de Gaza tem fronteiras de 51 quilômetros com Israel e, apesar de toda a tecnologia israelense, os palestinos receberam mais de 3 mil foguetes para bombardear seus vizinhos. Na verdade, o delegado falou em 20 x 80 quilômetros, mas deve ter incluído a faixa litorânea ou entendi mal.

Certa feita, hospedado na fazenda de um amigo próxima da fronteira com o Paraguai, resolvi dar um passeio no Fiat 147, alugado em Londrina, para conhecer o país vizinho e comprar umas coisinhas. Na estrada de terra havia um posto alfandegário brasileiro, construção modesta de madeira. Parei o Fiat e constatei que o agente alfandegário, fardado, dormia a sono solto. Acordei-o e perguntei se poderia trazer do Paraguai três relógios para minhas filhas. Pois é: no Brasil daquele tempo, até os relógios japoneses eram contrabandeados.

“O senhor vai trazer no pulso ou no bolso?” perguntou o admirável funcionário. “No bolso” expliquei. E ele: “Eu não estou aqui para examinar o bolso de ninguém”. Comprei os relógios e o amigo que me ciceroneava, guarda-costas do fazendeiro que me hospedava, aproveitou a viagem para comprar uma pistola Walther PPK. Jogou fora a caixa e trouxe a pistola nas costas por baixo da camisa. 

Bonecas

Na edição de 24 de dezembro comentei as fotos da dinamarquesa Benita Marcussen, de Copenhagen, mostrando a maluquice dos seus conterrâneos que vivem com bonecas de silicone. Casados, solteiros, viúvos, divorciados compraram bonecas de silicone e se deixam fotografar ao lado das companheiras, que, seja dito de passagem, não resmungam, não têm TPM, não sofrem de gases e não conhecem a menopausa.

No mesmo dia, leitor atento e amigo contou-me caso interessantíssimo que leu no livro A guerra dos parafusos, de Antonio Barreto, seu companheiro de papo e copo no bar Lua Nova-Maleta, ponto de encontro em BH de jornalistas, poetas, escritores e artistas plásticos.

Antonio de Pádua Barreto Carvalho (Passos, MG, 1954) reside em Belo Horizonte desde 1973. Engenheiro projetista, trabalhou para a Mendes Júnior na construção de estradas, pontes e ferrovias em algumas cidades do Oriente Médio. Tem vários prêmios nacionais e internacionais nos gêneros poesia, conto, romance e literatura infanto-juvenil.

Relatou que certa noite no Iraque observou o entra-e-sai de operários num dos alojamentos da construtora. Foi apurar e descobriu que um operário, durante a escala em Copenhagen do voo Brasil/Iraque, adquiriu uma boneca inflável sabendo que no país em que iria trabalhar não era permitido o comércio sexual. Além de satisfazer o seu entusiasmo noturno, bolou uma forma de ganhar bom dinheiro extra e se transformou em cafetão da boneca de silicone. Daí o entra-e-sai no alojamento. 

Dinossauros

Nos anos 90 mandei fazer bela camisa de flanela quadriculada, com quadrados vermelhos, mangas compridas e andei viajando por aí. De vez em quando ouvia o bordão “Não é a mamãe”, sem saber que era provocado por minha bela camisa. Havia um programa de tevê, Família dinossauro, que obviamente nunca vi, em que um bonecossauro usava camisa parecidíssima com a minha. Hospedado em casa de amigos, em Brasília, voltei a ouvir o bordão e fiquei sabendo que era por causa da camisa.

O jornalista e escritor Guilherme Fiuza vem de lançar o livro Não é a mamãe – Para entender a era Dilma. Autor de ótimos livros que comprei e li, excelente cronista, brilhante analista da política brasileira, Fiuza explica a era Dilma com lucidez e humor numa coletânea das crônicas que publicou em jornais e revistas.

Até aí, tudo bem, mas cada vez que termino a leitura de 20 ou 30 páginas percebo que estou triste, que parei de ler para não continuar me aborrecendo. A sucessão de verdades desagradáveis, mesmo com humor, entristece o leitor. Mas há um índice onomástico, que faz do livro obra de consulta permanente.
 
O mundo é uma bola 

5 de fevereiro de 146: finalmente, término da Terceira Guerra Púnica com a destruição de Cartago, sem dispensar os alunos brasileiros de continuar estudando as chatíssimas Guerras Púnicas e a sentença com que M. Pórcio Catão terminava todas as suas intervenções no Senado: Ceterum censeo Carthaginem esse delendam, “Aliás, sou de opinião que Cartago deve ser destruída”.

Em 1597, crucificados “Os 26 mártires do Japão” na cidade de Nagasaki durante a perseguição ao cristianismo promovida pelo Xogunato de Tokugawa. Os 26 foram beatificados em 1627 e canonizados em 1862. Hoje é o Dia do Datiloscopista.

Ruminanças 

“Geralmente ri por último quem compreendeu a piada por último” (Terry Cohen).

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