Profissionalismo
Num exame oral, mais importante do que estudar a matéria é saber alguma coisa da vida e da obra do examinador
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas : 28/02/2015Muito pior do que o sujeito que não sabe é aquele que pensa que sabe. De ciência própria assino a frase anterior. Tenho diploma de bacharel obtido numa das melhores faculdades brasileiras, a do Catete, que tinha um corpo docente como raramente se viu na história deste país. Estudei o suficiente para aprender que nada sei da ciência do direito. Creio desnecessário repetir, mas repito, que tirei 10 numa porção de provas orais. Num exame oral, mais importante do que estudar a matéria é saber alguma coisa da vida e da obra do examinador. Assim, você contorna a pergunta, muda de assunto, elogia o professor e deixa a banca a cavaleiro de um 10. Tirei 10 na banca de francês do vestibular da Faculdade Nacional de Direito e até hoje não falo uma palavra da língua indo-europeia do ramo itálico que se desenvolveu do latim vulgar na Gália transalpina, com influência do frâncico, e se tornou a língua oficial da França e de certos países de colonização francesa. Passando nos dois vestibulares, escolhi a Faculdade do Catete por sua localização.
Que aconteceria se o vosso philosopho, operador do direito, fosse convidado para ganhar milhões de dólares defendendo o economista Nestor Cuñat Cerveró? Elementar, meu caro Watson: contrataria advogados competentes e dividiria os milhões com eles. Foi assim, mas de graça, que absolvi um bandidão no Tribunal do Júri do Rio: dividi a causa com um jovem professor de direito penal, que falou pelos cotovelos. Primorosamente engravatado, fiquei quieto na tribuna e “absolvemos” o bandidão que tinha a mania de atirar nos glúteos, nas nádegas e/ou nas bundas das senhoras que encontrava nas ruas do seu bairro. Freud explica e o atirador, pintor de automóveis, que já estava preso pelo mesmo crime, pintou meu carro na penitenciária.
O grande problema da economista Dilma e do economista Guido é que, diplomados, pensam que entendem de economia. Este pobre país entrou na história como Pilatos no Credo.
Esportes
Começo este belo suelto pedindo ao caro e preclaro leitor que pegue dez notas novas de 50 reais, presas pelo elástico que em BH se chama gominha, e lance as 500 pratas, com toda a força, no corredor de sua casa. Depois, meça a distância entre o ponto de lançamento e local da queda. Em seguida, faça a mesma prova com 20 notas novas de 50 reais, presas pela mesma gominha, para descobrir que vão cair um pouco mais longe. Há uma relação entre o peso do produto lançado e a distância percorrida, respeitados certos limites. Por exemplo: está para nascer o atleta capaz de levantar, em notas novas de 50 reais, cada um dos roubos da Petrobras desviados para o PP, o PMDB e o PT.
Anotadas num bloquinho as distâncias dos seus dois lançamentos no corredor doméstico ou na sala de visitas, cuidemos do philosophar do philosopho. Há esportes olímpicos muito recentes na história. O basquete e a canoagem datam de 1936, o judô é de 1964, o vôlei das “meninas do vôlei” (sic) é de 1980. Por isso, acho que sua excelência o ministro do Esporte, o piedoso pastor George Hilton dos Santos Cecílio, natural de Alagoinhas, BA, nascido em 1971, que faz política em Minas Gerais a serviço do não menos piedoso bispo Edir Macedo, dono da Iurd, deve inventar um esporte para as Olimpíadas de 2016: lançamento (ou arremesso) de dízimos.
Pacotes como aqueles que a Polícia Federal encontrou com o pastor em 2005 no Aeroporto da Pampulha, em BH, com 976 mil reais (em valores atualizados), seriam arremessados pelos atletas dizimistas, novo esporte olímpico. No pódio, em lugar das medalhas de ouro, prata e bronze, por motivos mais que óbvios, os vencedores receberiam bananas.
O mundo é uma bola
28 de fevereiro de 1525: o espanhol Hernán Cortés executa o último imperador asteca Cuauhtémoc, também chamado Cuauhtemoyzin ou Guatimozin. Em 2013, Bento XVI formalizou sua renúncia ao Trono de Pedro como prometeu alguns dias antes. Quando aceitou usar, em sua viagem ao México, aquele pavoroso sombrero, diagnostiquei: “Benedictus PP. XVI está liquidado”.
Em 1644, holandeses abandonam São Luiz do Maranhão, que volta ao domínio da família Sarney. Em 1854, primeiro desfile de carros alegóricos no Rio de Janeiro: tem gente que paga para desfilar. Em 1897, deposta pelas tropas francesas a última rainha de Madagascar, Ranavalona III, também conhecida como Ranavalo Manjaka III (1861-1917), feia pra dedéu, última rainha malgaxe. Como é do desconhecimento geral, malgaxe é relativo à República Malgaxe (atual República Democrática de Madagascar) ou o que é seu natural ou habitante: madagascarense.
Em 1930, o coronel José Pereira rebelou-se contra a decisão de João Pessoa, governador da Paraíba, de desarmar os coronéis do sertão, fato que ficou conhecido como “Levante da Princesa”. Hoje é o Dia da Ressaca. Duas aspirinas (para quem pode), duas colheres de sopa de mel, muita água mineral e cama.
Ruminanças
“Nunca um espanhol adia / a morte de quem o maltrata, / nem faz demorar a sua vingança...” (Tirso de Molina, 1583-1648).
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