Deputações
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas : 01/03/2015
Embatuquei, dia
desses, diante da entrevista dada à Itatiaia por um brasileiro residente
em Israel: “Hitler não usurpou o poder. Foi eleito democraticamente na
Alemanha, um dos países mais desenvolvidos da Europa”. Donde se conclui
que a democracia é um perigo, vide a reeleição de dona Dilma. A ditadura
é aquilo que se conhece. Não sei como funciona o voto distrital nem era
nascido quando tivemos a República Velha, mas até o gato lá de casa, se
houvesse, saberia que, naquela república, tivemos parlamentares
alfabetizados e honestos. Não todos, é verdade, mas a esmagadora
maioria.
Por quê? Ora, porque havia coronéis e seus eleitores de cabresto. Conhecendo a rapaziada criada em sua região, o coronel escolhia para representá-lo os mais estudiosos, os mais educados. Elementar: ninguém gosta de ser representado por um idiota analfabeto. Se é para escolher e deputar – enviar (alguém) em missão ou comissão –, que se escolha e depute o mais destacado, o melhor. Deu para entender?
Lácteas
Numa ruminança transcrita nesta coluna, meu ilustre colaborador, o professor-doutor R. Manso Neto, comentou notícia da BBC, segundo a qual o litro do leite no Reino Unido estaria valendo menos que o litro de água mineral. Em nosso universo leiteiro, sempre brincamos com a história de botar água no leite para cortar a acidez. Em pequenas quantidades, é difícil descobrir nas análises das cooperativas. Havia o “pré-resfriador português”, pote plástico de dois litros de sorvete, muito lavado, cheio com água de mina, que passava 24 horas no freezer da fazenda e a pedra de gelo era posta no fundo do latão de 50 litros. À medida que o leite entrava no latão, era resfriado para diminuir a loucura da multiplicação bacteriana quando vai para o latão nas temperaturas brasileiras.
Hoje, todas as fazendas têm pré-resfriadores de aço inox, os latões praticamente desapareceram e o leite vai da fazenda para a cooperativa nos tanques dos caminhões isotérmicos, mas os preços pioraram no último ano. Na Zona da Mata aqui de Minas, os produtores estão recebendo R$ 0,80 por litro enviado. A água mineral sem gás, que tomamos em casa, me custa R$ 0,90 por litro. Ainda bem que já não mexo com leite. Se mexesse, estaria furioso.
Fui vizinho de fazenda de um economista muito divertido, também produtor de leite, que vivia repetindo: “O leite é o único produto em que a soma dos insumos é maior que o valor do produto final”. Mas a atividade é divertida, um vício em que a gente trabalha com as vacas, bichos abençoados. Copio de um livro meu, portanto não é plágio, o cálculo do crescimento de um lote de 10 vacas mestiças, perfeitamente adaptadas ao meio, ressalvando o fato de a eficiência reprodutiva do rebanho normalmente não chegar aos 100%, metade machos, metade fêmeas.
Com as 10 vacas iniciais, no primeiro ano temos 10 vacas e 5 bezerras = 15 fêmeas. No segundo ano 10 vacas, 5 garrotas (bezerras de sobreano) e 5 bezerras = 20 fêmeas. No terceiro ano, 10 vacas, 5 novilhas de dois anos, 5 garrotas e 5 bezerras = 25 fêmeas. No quarto ano, 15 vacas, 5 novilhas, 7 garrotas e 7,5 bezerras = 32,5 fêmeas. No quinto ano, 20 vacas, 5 novilhas, 7,5 garrotas e 10 bezerras = 42,5 fêmeas.
A partir do sexto ano, ainda com as 10 primeiras vacas perfeitamente “operacionais”, o negócio se transforma numa loucura: são 25 vacas, 7,5 novilhas, 10 garrotas e 12,5 bezerras = 55 fêmeas. Sete anos, mesmo na roça, passam muito depressa. É claro que você vendeu fêmeas refugadas e perdeu algumas acidentadas, picadas de cobras, coisas que acontecem. É claro, também, que lápis e papel aceitam qualquer coisa, mas que a vaca é um bicho abençoado, é.
O mundo é uma bola
1º de março de 86 a.C. – Lúcio Cornélio Sula, no comando de um exército da República Romana, entra em Atenas e destitui o tirano Aristion, que era apoiado pelas tropas de Mitrídates VI do Ponto, como se isso interessasse, hoje, ao fidelíssimo leitor do grande jornal dos mineiros.
Em 317, Crispo e Constantino II, filhos do imperador romano Constantino I, e Licínio Júnior, filho do imperador Licínio, recebem o título de Caesar, muito parecido com a atual Medalha da Inconfidência: todo mundo tem.
Em 710, Rodrigo, rei visigodo, após a morte de Vitiza, é eleito rei da Espanha. Vitiza sucedeu ao pai, Égica, também conhecido como Flávio Egira, nome bem mais simpático para um rei visigodo.
Em 1146, o papa Eugênio III torna a publicar sua bula Quantum Praedecessores, convocação para a Segunda Cruzada e minha fiel operadora de fogão de cinco bocas torna a perguntar por que não faço jejum de carne durante a quaresma.
Em 1493, a caravela La Pinta atraca no Porto de Baiona, Galícia, na Espanha, regressando da América, no primeiro sucesso da expedição de Colombo.
Em 1981, nasceu Ana Hickmann, linda como ela só.
Ruminanças
“Quem admira vilmente coisas vis é um esnobe” (Thackeray, 1811-1863).
Por quê? Ora, porque havia coronéis e seus eleitores de cabresto. Conhecendo a rapaziada criada em sua região, o coronel escolhia para representá-lo os mais estudiosos, os mais educados. Elementar: ninguém gosta de ser representado por um idiota analfabeto. Se é para escolher e deputar – enviar (alguém) em missão ou comissão –, que se escolha e depute o mais destacado, o melhor. Deu para entender?
Lácteas
Numa ruminança transcrita nesta coluna, meu ilustre colaborador, o professor-doutor R. Manso Neto, comentou notícia da BBC, segundo a qual o litro do leite no Reino Unido estaria valendo menos que o litro de água mineral. Em nosso universo leiteiro, sempre brincamos com a história de botar água no leite para cortar a acidez. Em pequenas quantidades, é difícil descobrir nas análises das cooperativas. Havia o “pré-resfriador português”, pote plástico de dois litros de sorvete, muito lavado, cheio com água de mina, que passava 24 horas no freezer da fazenda e a pedra de gelo era posta no fundo do latão de 50 litros. À medida que o leite entrava no latão, era resfriado para diminuir a loucura da multiplicação bacteriana quando vai para o latão nas temperaturas brasileiras.
Hoje, todas as fazendas têm pré-resfriadores de aço inox, os latões praticamente desapareceram e o leite vai da fazenda para a cooperativa nos tanques dos caminhões isotérmicos, mas os preços pioraram no último ano. Na Zona da Mata aqui de Minas, os produtores estão recebendo R$ 0,80 por litro enviado. A água mineral sem gás, que tomamos em casa, me custa R$ 0,90 por litro. Ainda bem que já não mexo com leite. Se mexesse, estaria furioso.
Fui vizinho de fazenda de um economista muito divertido, também produtor de leite, que vivia repetindo: “O leite é o único produto em que a soma dos insumos é maior que o valor do produto final”. Mas a atividade é divertida, um vício em que a gente trabalha com as vacas, bichos abençoados. Copio de um livro meu, portanto não é plágio, o cálculo do crescimento de um lote de 10 vacas mestiças, perfeitamente adaptadas ao meio, ressalvando o fato de a eficiência reprodutiva do rebanho normalmente não chegar aos 100%, metade machos, metade fêmeas.
Com as 10 vacas iniciais, no primeiro ano temos 10 vacas e 5 bezerras = 15 fêmeas. No segundo ano 10 vacas, 5 garrotas (bezerras de sobreano) e 5 bezerras = 20 fêmeas. No terceiro ano, 10 vacas, 5 novilhas de dois anos, 5 garrotas e 5 bezerras = 25 fêmeas. No quarto ano, 15 vacas, 5 novilhas, 7 garrotas e 7,5 bezerras = 32,5 fêmeas. No quinto ano, 20 vacas, 5 novilhas, 7,5 garrotas e 10 bezerras = 42,5 fêmeas.
A partir do sexto ano, ainda com as 10 primeiras vacas perfeitamente “operacionais”, o negócio se transforma numa loucura: são 25 vacas, 7,5 novilhas, 10 garrotas e 12,5 bezerras = 55 fêmeas. Sete anos, mesmo na roça, passam muito depressa. É claro que você vendeu fêmeas refugadas e perdeu algumas acidentadas, picadas de cobras, coisas que acontecem. É claro, também, que lápis e papel aceitam qualquer coisa, mas que a vaca é um bicho abençoado, é.
O mundo é uma bola
1º de março de 86 a.C. – Lúcio Cornélio Sula, no comando de um exército da República Romana, entra em Atenas e destitui o tirano Aristion, que era apoiado pelas tropas de Mitrídates VI do Ponto, como se isso interessasse, hoje, ao fidelíssimo leitor do grande jornal dos mineiros.
Em 317, Crispo e Constantino II, filhos do imperador romano Constantino I, e Licínio Júnior, filho do imperador Licínio, recebem o título de Caesar, muito parecido com a atual Medalha da Inconfidência: todo mundo tem.
Em 710, Rodrigo, rei visigodo, após a morte de Vitiza, é eleito rei da Espanha. Vitiza sucedeu ao pai, Égica, também conhecido como Flávio Egira, nome bem mais simpático para um rei visigodo.
Em 1146, o papa Eugênio III torna a publicar sua bula Quantum Praedecessores, convocação para a Segunda Cruzada e minha fiel operadora de fogão de cinco bocas torna a perguntar por que não faço jejum de carne durante a quaresma.
Em 1493, a caravela La Pinta atraca no Porto de Baiona, Galícia, na Espanha, regressando da América, no primeiro sucesso da expedição de Colombo.
Em 1981, nasceu Ana Hickmann, linda como ela só.
Ruminanças
“Quem admira vilmente coisas vis é um esnobe” (Thackeray, 1811-1863).
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