sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Tecnec e pipa - Eduardo Almeida Reis

 Contou-me que, uma tarde, no motel, a jovem choramingou: 'Eu quero soltar pipa'. E o bom amigo rodou BH inteira comprando linhas, varetas, e papéis

Estado de Minas: 20/02/2015





Do alto de seu 1,81m, Maria Beltrão pautou tecnec no programa Estúdio i. É uma tolice inventada por dermatologista americano, homem de Harvard, para denominar as rugas no pescoço (nec, em inglês) provocadas pela tecnologia (tec): uso excessivo de tablets e celulares. Diversas jornalistas consultadas e 58% dos telespectadores admitiram ter problemas de postura e dores nas costas provocados pela tecnologia.

Maria Beltrão liderou o grupo conduzindo o programa com o seu lindo, admirável, cobiçado pescoço à mostra. Está para nascer o homem sério que não sonhe com o pescoço da filha do muito saudoso Hélio Beltrão, que tentou desburocratizar esta choldra que tem hino, bandeira e constituição.

Uma das providências do grande Beltrão seria acabar com o reconhecimento de firmas nos cartórios, assunto que conheço bem. Durante anos, reconheci diariamente milhares de firmas num cartório carioca, no qual os contratantes nunca tiveram suas assinaturas. Deu para entender? O jovem philosopho deixava uma pilha de contratos para o funcionário do tabelionato “reconhecer” as firmas à noite, em casa, e apanhava os contratos deixados na véspera com as assinaturas “reconhecidas”. O país é pouco sério, mas o pescoço de Maria é seriíssimo.

No mesmo programa, um comentarista de cultura e comportamento falou da pipa, brinquedo que consiste numa armação leve de varetas, recoberta de papel fino, e que se empina no ar por meio de uma linha: arraia, cafifa, pandorga ou raia. Lembrei-me de um bom amigo, cidadão exemplar, casado, pai de filhos, que descolou namorada 30 anos mais nova para alegrar sua existência.

Contou-me que, uma tarde, no motel, a jovem choramingou: “Eu quero soltar pipa”. E o bom amigo rodou Belo Horizonte inteira comprando linhas, varetas, colas e papéis finos para montar, no escritório de sua indústria, as pipas que empinou com a gostosa num condomínio de Brumadinho.

Terrorismo


Os zoológicos do Rio e de Brasília brigam pela girafa Zagalo, contenda que pode ser analisada pela óptica jurídica, chata como sempre, pelo viés ambientalista normalmente histérico ou à luz do sexo dos girafídeos, que escolhi num acesso de lubricidade senil. Acontece que fui ao livro do Robert A. Wallace, Ph.D em sexo animal, e não achei um capítulo sobre girafas in love, motivo pelo qual peço licença para abordar o terrorismo com esta lucidez que o leitor conhece.

Enquanto philosopho, afirmo que os membros de uma célula terrorista, com seus AK-47 e mísseis (!), não alugariam nem comprariam apê em prédios de 20 andares com porteiros, elevadores e câmeras de segurança. Alugam ou compram em edifícios baixos, de poucos apartamentos, em residências urbanas ou sítios das zonas rurais.

Se me fosse dado palpitar, diria às forças de segurança de diversos países, sem exclusão do Brasil, que divulgassem números de telefones tipo “disque denúncia”, sem identificação do denunciante, para que toda a população ordeira pudesse telefonar informando sobre vizinhos “estranhos”.

É relativamente fácil para o morador de um edifício pequeno, de seis ou 10 apartamentos, desconfiar da movimentação dos vizinhos, como também é fácil ver as pessoas que entram ou saem das casas próximas. Nas zonas rurais, o negócio é mais complicado. Ainda assim o controlo \ô\ não é impossível.

Pausa para contar que encuquei um professor particular de português, sujeito brilhante, saudoso amigo, quando escrevi controlo para fugir do galicismo controle \ô\. O regionalismo lusitano controlo também foi pescado no francês contrôle, mas o aluno rebelde se divertia com essas brincadeiras e alcançou a maturidade sem saber francês nem português.

Volto ao terrorismo para perguntar ao leitor se não achou minha ideia supimpa? Se o problema é de todos nós, é importante que ninguém se omita, verbo omitir, latim omitto (< *ommitto <*obmitto),is, mísi,missum,tère ‘deixar escapar, omitir, passar em silêncio etc.’. Falou?

O mundo é uma bola

20 de fevereiro de 1255: o rei Afonso III, de Portugal, doa os castelos de Ayamonte e Cacela a dom Paio Peres Corrêa, Mestre da Ordem de Santiago. Em 1547, Eduardo VI é coroado rei da Inglaterra. Tinha nove anos de idade. Filho de Henrique VIII e de Jane Seymour, era parente por via materna do responsável pela coluna Tiro&Queda. Tuberculoso, o priminho morreu em 1553.

Em 1725, na colônia inglesa de New Hampshire, América do Norte, primeiro caso registrado de um Native American escalpelado por brancos. Em 1777, esquadra espanhola de 10 mil homens (10 mil!) chega à enseada catarinense de Canasvieiras disposta a recuperar as terras sul-brasileiras. Informada de que o Datenão e a ministra Ideli passam os finais de semana em Santa Catarina, a espanholada se mandou de volta para a Península Ibérica, hoje considerada Europa.

Em 1832, Charles Darwin visita Fernando de Noronha. Dizem que o arquipélago é muito bonito. Em 1941, os nazistas enviam o primeiro grupo de judeus para os campos de concentração. No mesmo ano, criação no Brasil do Correio Aéreo Nacional. Em 1962, num foguete Atlas, o astronauta John Glenn faz o primeiro voo orbital norte-americano. Em 2006, o historiador britânico David Irving é condenado por um tribunal austríaco a três anos de prisão por ter negado o Holocausto durante a II Guerra Mundial.

Ruminanças

“O natural é aborrecido”  (Paul Valéry, 1871-1945).

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