Para mim a solidão
representa a oportunidade de revisar nosso gerenciamento, de projetar o
futuro e avaliar a qualidade dos vínculos que construímos
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 16/03/2015 De vez em quando, a melhor ciência comprova fatos que descobri faz tempo. Apesar do nome, Mihaly Csikszentmihaly nunca fez delação premiada na Operação Lava-Jato: é considerado o grande psicólogo da felicidade e já em 1994 comprovou que os adolescentes que não aguentam a solidão são incapazes de desenvolver o seu talento criativo.
O sociólogo Robert Lang, professor da Universidade de Nevada, fala do luxo que significa viver sozinho. Eric Klinenberg, da Universidade de Nova York, publicou um livro cujo título, em tradução livre, é Ficando só: o extraordinário aumento e surpreendente apelo de viver sozinho. Erin Cornwell, socióloga da Universidade Cornell, em Ithaca, Nova York, depois de muito estudar concluiu que os maiores de 35 anos, quando moram sozinhos, têm maior probabilidade de sair com amigos do que as pessoas casadas da mesma idade.
Susan Cain, autora do livro cujo título, ainda em tradução livre, é Silêncio: o poder dos introvertidos num mundo que não consegue parar de falar, defende a riqueza criativa que surge da solidão e pede, pelo bem de todos, que se pratique a introversão: “Sempre me disseram que eu deveria ser mais aberta, embora eu sentisse que ser introvertida não era algo ruim. Durante anos fui a bares lotados, muitos introvertidos fazem isso, o que representa uma perda de criatividade e de liderança que nossa sociedade não se pode permitir. Temos a crença de que toda criatividade e produtividade vem de um lugar particularmente sociável. Só que a solidão é o ingrediente essencial da criatividade. Darwin fazia longas caminhadas pelo bosque e recusava convites para festas. Steve Wosniak inventou o primeiro computador Apple sentado sozinho em um cubículo na Hewlett Packard, onde trabalhava. Solidão é importante. Para algumas pessoas é o ar que respiram”.
Susan lembra que, rodeadas de gente, as pessoas se limitam a seguir as crenças dos outros para não romper a dinâmica do grupo. A solidão, por sua vez, significa abrir-se ao pensamento próprio e original. Reclama que as sociedades ocidentais privilegiam a pessoa ativa à contemplativa, e pede: “Parem a loucura do trabalho constante em equipe. Vão ao deserto para ter suas próprias revelações”.
Mihaly Csikszentmihaly, de 80 anos, nasceu na Croácia e emigrou para os EUA com 22 aninhos. Obteve seu Ph.D em 1965 pela Universidade de Chicago, a mesma do ainda ministro Joaquim Levy, nomeado pela incompetenta. Csikszentmihaly parte do princípio de que as pessoas são seres sociais, que depois de passar o dia rodeadas de gente, de reunião em reunião, atentas ao celular e às redes sociais, hiperativas e superconectadas, precisam da solidão que oferece um espaço de repouso capaz de curar, o que faz dela, solidão, algo fundamental para a criatividade, a inovação e, pasme o leitor, para a boa liderança.
Filósofo dos mais respeitados, Byung-Chul Han, autor de A sociedade do cansaço, louva as palavras de Catão: “Esquecemos que ninguém está mais ativo do que quando não faz nada, nunca está menos sozinho do que quando está consigo mesmo”.
Na mesma linha de raciocínio temos o filósofo Francesc Torralba, da cátedra de Ethos da Universidade Ramon Llull, autor de A arte de ficar só: “Para mim a solidão representa a oportunidade de revisar nosso gerenciamento, de projetar o futuro e avaliar a qualidade dos vínculos que construímos. É um espaço para executar uma auditoria existencial e perguntar o que é essencial para nós, além das exigências do ambiente social”.
Chego às 565 palavras e poderia escrever um livro inteiro sobre o assunto, mas creio ter convencido o leitor com as opiniões de Francesc, de Byung-Chul Han, de Susan Cain, de Mihaly Csikszentmihaly. Javier Urra, Mireia Darder, Irvin Yalom e um philosopho amigo nosso assinam embaixo. Joel Silveira (1918-2007), imenso repórter, correspondente de guerra, 40 livros publicados, Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, admitiu: “É não saindo de casa que a gente sabe das coisas”.
O mundo é uma bola
16 de março de 597 a.C., os babilônios capturam Jerusalém e substituem Jeconias por Sedecias como rei. Como o leitor deve estar lembrado, Sedecias ou Zedequias ou Matanias foi o 20º e último rei da Judá. Acabou deposto e levado para o exílio. Era o terceiro filho de Josias com Hamutal e minhas fontes são omissas quanto a Hamutal, mas posso garantir que cheirava mal: todos catingavam. Quando foi constituído em rei vassalo, o rei babilônico Nabucodonosor mudou o nome de Matanias para Zedequias. Nos 11 anos do seu reinado, Zedequias “fazia o que era mau aos olhos de Jeová”. Talvez fizesse transfusões de sangue, malvistas pelas Testemunhas de Jeová.
Em 1521, Fernão de Magalhães alcança as Filipinas. Se me não falha a memória, foi flechado por lá, coitado. Em 1792, cascaram fogo no rei Gustavo III da Suécia, que morreria no dia 29 de março do mesmo ano. Em 1843, fundação da cidade de Petrópolis, RJ, que tem no Centro a Rua 16 de Março.
Hoje, na mitologia greco-romana, é o primeiro dia do Bacanal, Festival de Dionísio (Baco para os romanos), deus do vinho, dos grãos, da fertilidade e da alegria.
Ruminanças
“Há países em que a diplomacia tem ciclos: dos bêbados, dos homossexuais, dos bolivarianos...” (R. Manso Neto).
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