SEM PERDER A TERNURA
Wanderléa convoca uma reunião de
energias positivas para afastar o pessimismo do Brasil. Show em BH
da turnê de 50 anos de carreira da cantora já está esgotado
Ana Clara Brant
Estado de Minas: 16/03/2015 A cantora Wanderléa, conhecida como Ternurinha e musa da Jovem Guarda, que prevê lançar sua autobiografia neste ano |
“Tenho 50 anos de carreira, carrego uma paixão de um povo inteiro por mim, e não posso deixar de me manifestar e passar essa mensagem positiva que está na minha alma”, diz a cantora Wanderléa, de 68 anos.
A paixão do público por ela está comprovada na velocidade com que se esgotaram os ingressos para o show que ela fará na próxima quinta, em BH. Desde a semana passada não há mais nenhum lugar disponível.
A “mensagem positiva” que ela se sente obrigada a transmitir faz eco com o apelido de Ternurinha que essa mineira de Governador Valadares recebeu ainda na adolescência, quando já fazia sucesso no Rio de Janeiro, integrando a Jovem Guarda.
“Tudo que está acontecendo (nos campos político, econômico e ambiental) está trazendo um psiquismo péssimo no mental do brasileiro. Estamos muito assustados. A minha geração tem uma maturidade para perceber isso. Temos que fazer um pensamento positivo forte. Essa reunião de energias positivas e boas vai nos ajudar a sair desse momento de dificuldade. Ficar pessimista dificulta mais ainda, traz mais sofrimento. Temos que nos concentrar em transformações, sobretudo dessas pessoas que estão no poder, que têm condições de atuar. É um momento de nos unirmos, no sentido de mandar muita força de luz para o universo”, afirma.
Para mais bem ilustrar o convite que faz, ela cita um de seus sucessos, É o tempo do amor (Já chegou/ Novamente a bonança/Todo mal já passou/Já voltou a esperança/Vamos dançar e namorar/Sempre alegre ser/Vivendo assim a sorrir/A vida tem mais sabor), torcendo para que sirva de exemplo.
Wanderléa ganhou o apelido de Ternurinha por diversas razões. Primeiro, pela música Ternura, que virou um hit em sua voz, em 1965; segundo, por ela ter sido a atriz principal do filme Juventude e ternura, em 1968, do diretor Aurélio Teixeira; e terceiro pelo especial estrelado por ela e Eramos Carlos, A Ternurinha e o Tremendão.
“Fora o fato de eu ser mineirinha, aquele jeitinho que é só da gente, respeitoso, amoroso, reforçou ainda mais. Hoje, as minhas filhas são as minhas ternurinhas”, diz. A cantora nasceu em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, mas foi há pouco tempo que ela teve oportunidade de conhecer de fato a sua cidade. E, melhor, de uma maneira inusitada. Além de ter ganho a chave do município, a artista mineira descobriu que sua terra natal é a capital do voo livre no Brasil e decidiu ousar: pular de paraglider junto com uma de suas filhas, Jadde.
“Fiquei encantada com a luminosidade de Valadares. Foi maravilhoso o voo que fiz e pude conhecer minha cidade de uma maneira bem diferente, do alto. Brinquei que, mesmo tendo ficado tantos anos longe e morado tão pouco tempo lá, agora eu conheço a cidade muito melhor do que meus conterrâneos (risos). Foi maravilhoso e tenho muito orgulho de ser valadarense”, diz.
TURNÊ A turnê do show Wanderléa... Maravilhosa, na qual revisita o disco homônimo, de 1972 e com a qual celebra meio século de estrada, passa por Governador Valadares no próximo sábado. Estão ainda na programação Nova Era (dia 20) e Ipatinga (dia 22). “Fico até emocionada de saber que em BH a casa já está lotada. Ainda mais no meu estado. Vai ser muito bacana viajar com a turnê dos meus 50 anos de carreira por Minas, mesmo não sendo a banda completa”, afirma. “Aí vai estar apenas o meu quarteto, mas, mesmo assim, o show não vai deixar nada a desejar.”
Além do destaque ao álbum de 1972, o show inclui grandes sucessos como Pare o casamento, Prova de fogo, Se você pensa, Foi assim, Quero ser locomotiva, Krioula, Te amo e Gostaria de saber. “A intenção era pegar um pouco de tudo que eu fiz, principalmente os anos 1960, quando comecei, e de que as pessoas se lembram bastante”, conta.
Aliás, não é apenas a cantora que está em ritmo de festa. O movimento musical e comportamental do qual ela fez parte, junto com os amigos Roberto e Erasmo Carlos, Jerry Adriani, Ronnie Von, Eduardo Araújo, Martinha, entre outros que formavam a Jovem Guarda, também completa cinco décadas.
No entanto, Wanderléa diz que preferiu focar nas comemorações de sua carreira, embora isso não seja desdém pelo fenômeno do iê-iê-iê. “A gente fez festa quando a Jovem Guarda completou 30, 40, 45 anos. Fizemos especial, saímos em turnê. Eu, particularmente, estou querendo celebrar de uma maneira mais individual, até para ter uma liberdade maior para fazer as minhas coisas, o meu show. Afinal, são 50 anos de uma trajetória muito bonita”, afirma.
Na primeira vez em que soltou a voz, ela era uma menina de apenas 13 anos e morava em Lavras (Sul de Minas). Wanderléa se lembra exatamente desse dia, quando a convidaram para cantar numa rádio local. “Tiveram que colocar uma cadeira para eu alcançar o microfone. Cantei Caminhemos, do Herivelto Martins, que foi sucesso com a Dalva de Oliveira. Gostei tanto que nunca mais quis largar aquilo. Sempre falei com minha mãe que meu sonho era cantar na ‘ládio’. Era uma coisa de alma e determinação”, recorda.
Filha de pai mineiro, descendente de libaneses, e mãe carioca – o casal teve13 filhos – , Wanderléa conserva a maior parte de suas recordações das Gerais da época em que viveu em Lavras e onde se concentra boa parte de seus familiares. “A maioria dos meus irmãos nasceu lá. Tenho tios morando na cidade ainda. Mas fomos embora para o Rio de Janeiro quando eu tinha 6 anos.”
Na Cidade Maravilhosa, ela cresceu e a carreira deslanchou. Aos 15 anos, conheceu Roberto Carlos e já começou a gravar. “Foi muito rápido e um sucesso muito grande. Olho para trás e nunca imaginei chegar a tudo isso. Foi o meu amor pela música que me fez chegar aonde estou”, diz.
Wanderléa acaba de finalizar sua autobiografia pela Editora Record e concluiu também um livro de poemas, ilustrado pela filha Yasmin. “Sempre gostei de escrever e acho que é um bom momento para lançar a minha biografia. Vamos tentar neste ano”, avisa.
Sueli Costa
A última vez que Wanderléa esteve em Belo Horizonte foi em julho de 2013, no projeto Compositores.BR. Ela interpretou canções do repertório de Sueli Costa. A Ternurinha gostou tanto do resultado que decidiu fazer um disco dedicado à cantora e compositora carioca. “Eu já tinha gravado Sueli nos anos 1970, mas, depois desse show em BH, a Gravadora Eldorado se interessou e estamos em estúdio revendo toda a obra. Está ficando muito interessante, mas ainda não sei quando será lançado”, conta.
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