Cristiane Agostine, Denise Arakaki e Beth Koike |
30/03/2015VALOR ECONÔMICO
Escolhido para comandar o Ministério da Educação, o filósofo e
professor da USP Renato Janine Ribeiro defendeu ontem a expansão do
Pronatec e afirmou que os programas sociais do governo federal devem
estar atrelados à educação e à formação de mão de obra para o mercado de
trabalho. Em entrevista ao Valor PRO, serviço de notícias em tempo real
do Valor, Janine disse também apoiar mudanças no currículo escolar e
melhores salários aos servidores da área.
“A tendência do Pronatec é expandir mesmo. Tem que qualificar cada
vez mais a mão de obra. Precisamos ter trabalhadores que saibam cada vez
mais atender às expectativas do mercado de trabalho exigente. Toda
discussão sobre competitividade e produtividade passa essencialmente
pela formação da mão de obra”, disse Janine. “A inclusão social está se
tornando algo que vai depender cada vez mais da educação para o trabalho
e para a vida.”
Na análise do futuro ministro, a formação de mão de obra é
fundamental e será “o grande gerador de recursos” para o desenvolvimento
econômico e a inclusão social.
Janine foi anunciado na sexta-feira, conforme antecipou o Valor PRO, e tomará posse na próxima semana, no dia 06.
Em meio ao ajuste fiscal comandado pelo Ministério da Fazenda, Janine
disse que as restrições orçamentárias representam “um grande pesar” na
execução das ações da Pasta, mas não devem prejudicar investimentos na
área – considerada como foco do segundo mandato, com o lema “Pátria
Educadora”.
Janine terá como desafios as medidas de contenção no Fies, que
reduziram o número de contratos de financiamento estudantil e
dificultaram a renovação do benefício. Há problemas também no repasses
de recursos do PROUNI e no custeio das universidades federais, além do
fraco desempenho dos alunos do ensino infantil e médio.
O novo ministro evitou detalhar suas propostas para o Fies, ENEM e
PROUNI antes de tomar posse no cargo. No entanto, disse que há
convergência na sociedade sobre quais devem ser a prioridades. “A
sociedade brasileira, no que tange à educação, foi convergindo cada vez
mais sobre as questões que são necessárias. Então tem que mexer nos
currículos, tem que melhorar a remuneração… Tudo isso tem que ser
feito”, afirmou. “Agora como vai ser feito, quando vai ser feito é outra
história”, disse.
Com 65 anos, o futuro ministro assume no lugar de Cid Gomes (PROS) e
será o quinto titular da Educação da gestão Dilma. Professor titular de
Ética e Filosofia Política na USP, Janine tem feito uma leitura crítica
do governo e da presidente. Em entrevista publicada na edição deste mês
da revista “Brasileiros”, analisou a conduta do ministro da Fazenda,
Joaquim Levy, como uma “quase intervenção tucana”, disse que o ministro é
o único “indemissível” e que quem votou em Dilma “está meio estupefato
pelo caminho tomado e não sabe se esta medicina mais neoliberal vai
funcionar ou não”. Na entrevista, feita antes do convite para o cargo, o
professor afirmou que a presidente intervém demais nos ministérios e
não confia nos titulares, atacou a falta de comunicação e disse que a
presidente não tem a concepção de que deve prestar contas à sociedade.
Janine apontou ainda o isolamento da presidente e o descolamento dela em
relação à política e às bandeiras da esquerda.
Com perfil acadêmico, diferente da ampla maioria dos ministros da
Educação, é formado em Filosofia pela USP, tem mestrado pela Université
Paris 1 Pantheon-Sorbonne, doutorado pela USP e pós-doutorado pela
British Library. Colunista do Valor até a edição de hoje, Janine foi
entre 2004 e 2008 diretor de avaliação da Capes, órgão que cuida da
avaliação e eventual fechamento dos programas de pós-graduação.
Na Capes, Janine travou embates com o setor empresarial e, por conta
disso, sua indicação foi recebida com receio por alguns representantes
do setor de ensino superior privado. Segundo fontes do setor, o
professor era contrário aos grupos privados de ensino no período em que
esteve à frente da Capes. “Para o setor é uma situação delicada. Na
época da Capes, havia ainda aquele ´ranço´ da universidade pública com
os grupos privados. Mas isso pode ter mudado”, disse uma fonte do setor.
Na opinião do consultor especializado em educação Carlos Monteiro, o
setor privado de ensino superior não deve ter ganhos relevantes com o
novo ministro. “Ele tem gabarito para ser ministro, mas tenho dúvidas de
como será o relacionamento com o setor privado. É um nome ligado ao PT e
à Academia, que não vê com bons olhos os grupos privados de educação”,
disse Monteiro. “A época em que ele esteve na Capes foi a mais difícil
para aprovação dos programas de mestrado”. O consultor destacou ainda
que Janine chega num momento muito complicado no setor tanto para as
universidades públicas, que tiveram redução de 30% da verba, quanto para
os grupos privados, que sofrem com os problemas do Fies.
Para o ex-ministro e acionista da Kroton Walfrido dos Mares Guia, a
nomeação é uma boa escolha.
“Nunca conversei com ele. Mas leio os seus
artigos e o considero uma pessoa muito equilibrada. Vejo como uma boa
escolha”, disse.
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