sábado, 28 de março de 2015

Luz sobre os dinossauros

Revista científica divulga artigo sobre os gigantes que habitaram o mundo há milhares de anos, dando foco para os animais encontrados em Peirópolis, na zona rural de Uberaba


Cristiana Andrade
Estado de Minas: 28/03/2015



Reconstrução do Uberabatitan ribeiroi em seu ambiente de vida em Uberaba, há 70 milhões de anos, considerado o maior dinossauro do Brasil (Rodolfo Nogueira/Divulgação)
Reconstrução do Uberabatitan ribeiroi em seu ambiente de vida em Uberaba, há 70 milhões de anos, considerado o maior dinossauro do Brasil

Peirópolis, zona rural de Uberba, no Triângulo Mineiro, está com os holofotes voltados para si esta semana, tanto no meio científico como para seus visitantes. Está em exposição no Museu dos Dinossauros, até amanhã, o mais importante exemplar de ovo de dinos já encontrado no país. A rápida exposição tem explicação: nas próximas semanas, a revista de divulgação científica Scientific American publica duas edições especiais sobre dinossauros com artigos de pesquisadores brasileiros e americanos. O ovo, que foi achado na região, é alvo de estudo de um projeto de doutorado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que ainda não foi publicado em revistas científicas, por isso, a peça não está exposta no acervo do museu.

Uma das reportagens da Scientific American é sobre os gigantes do Triângulo Mineiro, em referência aos grandalhões herbívoros, de caudas e pescoços muito longos e patas bem possantes, cujos fósseis foram encontrados nessa região: o Uberabatitan ribeiroi, o maior dinossauro do Brasil, com cerca de 24 metros de comprimento e sete de altura no topo da cabeça, o Baurutitan britoi e o Trigonosaurus pricei.
Segundo o geólogo e paleontólogo Luiz Carlos Borges Ribeiro, professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), que esteve à frente do Centro de Paleontologia Llwellyng Ivor Price por 18 anos, o artigo que ele escreve com o atual supervisor do complexo, o professor da UFTM e paleontólogo Thiago da Silva Marinho, aborda a relevância econômica e cultural dos fósseis para toda comunidade de Peirópolis buscando promover o desenvolvimento sustentável por meio do turismo e do projeto Geoparque Uberaba, que começa a tomar corpo e promete não só valorizar o patrimônio geológico local, mas também integrar as três principais estrelas da região: os dinossauros, o gado zebu e o espírita Chico Xavier.

O material da revista é ilustrado pelo uberabense Rodolfo Nogueira, um paleoartista expert em reconstruções de animais extintos e cenários de vida do passado geológico. “O texto fala também das condições climáticas extremas durante o Cretáceo superior (72 milhões de anos a 66 milhões de anos atrás), fazendo um paralelo com o calor que vivemos no mês de outubro de 2014, já que este foi o mês mais quente desde que se iniciaram as medições de temperatura há 150 anos. Essa região de Uberaba é muito interessante, do ponto de vista da geologia, principalmente pelas condições favoráveis de sepultamento dos esqueletos, que acabaram por possibilitar a fossilização de muitas das formas de vida, assim como a presença do que teria sido um dos maiores derrames vulcânicos que a Terra teve em áreas continentais (130 milhões de anos), sem precedentes na história geológica. É importante lembrar as primeiras descobertas de fósseis no município, com a chegada do gaúcho Llwellyng Price a Uberaba e o achado do primeiro ovo fóssil de dinossauros na América do Sul, descrito por Price em 1951”, conta.

Filme de spilberg Além de as revistas jogarem luz sobre Peirópolis e os inúmeros trabalhos científicos que vêm sendo desenvolvidos com o Centro Paleontológico Price, a direção do complexo anunciou ontem uma série de novas apresentações, uma a cada mês, até a semana de 12 de junho, data do lançamento no Brasil do filme Jurassic World, do cineasta Steven Spilberg, produzido pela Universal Pictures. “O Centro Paleontológico foi contatado pela Universal no sentido de possibilitar uma ponte no país com instituições e pesquisadores que trabalham com a temática dinossauro. Diria que é um começo de ‘namoro’, pois, para nós, seria muito bom poder trabalhar como instituição vinculada ao filme, agregando a logomarca e todo marketing envolvido ao nosso complexo e projetando Peirópolis como centro de referência nesta área da paleontologia de vertebrados do país”, acrescenta Borges Ribeiro. Uma das ideias é, na semana do lançamento do filme, o Museu dos Dinossauros promover uma série de atividades envolvendo o público em geral, em especial alunos da graduação de cursos superiores em áreas afins a paleontologia, assim como a turma infantojuvenil, que adora o mundo dos dinos.

Segundo Luiz Carlos, neste contexto, Uberaba quer chamar atenção com eventos sequenciados que mostrarão que o Brasil tem descobertas importantes, contribuindo para a compreensão acerca da evolução das formas de vida no passado geológico, sua evolução, assim como os ecossistemas onde muito já tenha se revelado não só dos animais, mas de seus ambientes e suas relações ecológicas.
GEOPARQUE Ele assinala também a importância de implantação do projeto do Geoparque Uberaba, por meio do Grupo de Trabalho GT Pró-Geoparque, que tem apoio de mais de 10 instituições e já é uma realidade. “O projeto prevê, entre várias coisas, educação patrimonial em paleontologia, a divulgação das descobertas e potencialização do turismo paleontológico, as medidas de geoconservação por meio da criação de políticas públicas com o Ministério Público de Minas Gerais, Procuradoria da República em Uberaba, Departamento Nacional de Produção Mineral e o Serviço Geológico Brasileiro. Nosso maior objetivo é transformar toda essa ciência em bem social para a comunidade brasileira”, diz Borges Ribeiro.

Depois de décadas funcionando de forma independente, sendo administrado pela Fundação Municipal de Ensino Superior (Fumesu), de Uberaba, o centro de pesquisas e o museu foram incorporados pela UFTM no chamado Complexo Cultural e Científico de Peirópolis (CCCP/UFTM). Nos últimos dois anos, a produção científica gerada em Peirópolis foi compartilhada com a comunidade acadêmica em geral por meio da publicação de artigos em revistas internacionais, apresentações em simpósios e congressos, capítulos de livros, edição de livros etc. Atualmente, escavações são realizadas com grande êxito nos sítios de Peirópolis, Serra da Galga e Campina Verde, cidade localizada a 180 quilômetros de Uberaba.

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