Estudo mostra que paracetamol diminui a intensidade com que experiências, tanto negativas quanto positivas, são vivenciadas
Vilhena Soares
Estado de Minas: 30/04/2015
Um dos medicamentos
mais consumidos no mundo, o paracetamol (ou acetaminofeno, como chamado
nos Estados Unidos) é utilizado, principalmente, para reduzir dor e
desconforto físico. Porém, estudo recente publicado na revista
Psychological Science mostra que a droga é capaz de anestesiar não só o
corpo, mas também as emoções – tanto as negativas quanto as positivas.
Os autores do trabalho acreditam que esse efeito colateral se deva à
ação que a substância exerce sobre determinadas áreas do sistema nervoso
e acham que a pesquisa pode ajudar a desvendar melhor a ação do remédio
no corpo humano.
Os cientistas responsáveis pelo experimento partiram de estudos anteriores que buscavam identificar efeitos desconhecidos do paracetamol. “Pesquisas recentes em psicologia indicaram que a substância pode tornar menos agudas algumas emoções negativas, além de aliviar a dor física”, contou Geoffrey Durso, principal autor do trabalho e estudante de doutorado em psicologia social da Universidade do Estado de Ohio. “Nosso estudo queria responder se o paracetamol pode trabalhar para neutralizar as reações dos indivíduos a experiências ruins”, completou.
Os resultados, porém, mostraram que o remédio tem potencial para amortecer todo tipo de emoção, o que inclui as positivas. Para chegarem a essa conclusão, os pesquisadores recrutaram 82 estudantes da universidade. Metade deles recebeu um comprimido de 1.000mg de paracetamol, enquanto a outra tomou uma pílula idêntica, mas sem efeito (placebo). Depois de 60 minutos, que eram o tempo necessário para que a droga fizesse efeito sobre o grupo que a havia ingerido, os voluntários foram expostos a 40 fotografias que haviam sido selecionadas para causar reações emocionais diversas, como tristeza e alegria. Eram exibidas imagens como as de crianças em sofrimento ou animais de estimação brincando com seus donos.
Enquanto viam as fotos, os participantes deviam classificá-las de acordo com uma escala que ia de -5 (muito negativa) a +5 (muito positiva). Passada essa fase, as imagens eram novamente exibidas e, dessa vez, os participantes deviam indicar a intensidade da emoção que tinham experimentado ao ver cada imagem. Para isso, usavam uma escala de 0 (pouca ou nenhuma reação) a 10 (reação emocional extrema).
Os resultados mostraram que os participantes que tomaram paracetamol avaliaram todas as fotografias com “menos emoção” do que os voluntários que ingeriam o placebo. “As pessoas que tomaram o analgésico não sentiam os mesmos altos e baixos emocionais como as pessoas que tomaram placebo”, declarou, em comunicado, Baldwin Way, coautor do estudo e professor assistente de psicologia do Instituto Behavioral Medicine Research de Ohio.
INCERTEZA Os cientistas ainda não sabem por que o paracetamol produz tal efeito no organismo humano, mas suspeitam que há alguma ação específica sobre o sistema nervoso central. “O acetaminofeno exerce uma variedade de efeitos, seja mudando a neurotransmissão de serotonina no cérebro e reduzindo a sinalização inflamatória, seja diminuindo a ativação nas áreas do cérebro responsáveis pela emoção. Algum desses efeitos ou uma combinação deles pode ser responsável pelos efeitos psicológicos que observamos”, acrescentou Geoffrey Durso.
Para Maria Martha Campos, professora do Instituto de Toxicologia e Farmacologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), essa dúvida é difícil de ser sanada. “O paracetamol é um analgésico muito usado, mas conhecemos pouco sobre seus mecanismos de ação no corpo humano. Não sabemos diretamente quais são seus alvos, apenas que ele age no sistema nervoso central”, explicou. “Por não saber como funciona em detalhes, é difícil inferir por que ele diminuiria as emoções também”, complementou a especialista, que não participou do estudo.
Segundo a brasileira, o efeito apontado na pesquisa americana não precisa ser interpretado como algo negativo à saúde. “Não existe um efeito sedativo. A pessoa não fica mais apática do que outros estudos já mostraram. O cenário só muda se a substância for usada em quantidades excessivas”, ponderou.
O próximo passo dos pesquisadores é investigar mais a fundo os efeitos dos analgésicos no organismo humano. Maria Martha Campos acredita que mais respostas possam surgir com pesquisas que desvendem as ações do medicamento de forma mais clara. “Temos relatos de que o uso desse remédio em animais com depressão fez com que eles se recuperassem.”
Os cientistas responsáveis pelo experimento partiram de estudos anteriores que buscavam identificar efeitos desconhecidos do paracetamol. “Pesquisas recentes em psicologia indicaram que a substância pode tornar menos agudas algumas emoções negativas, além de aliviar a dor física”, contou Geoffrey Durso, principal autor do trabalho e estudante de doutorado em psicologia social da Universidade do Estado de Ohio. “Nosso estudo queria responder se o paracetamol pode trabalhar para neutralizar as reações dos indivíduos a experiências ruins”, completou.
Os resultados, porém, mostraram que o remédio tem potencial para amortecer todo tipo de emoção, o que inclui as positivas. Para chegarem a essa conclusão, os pesquisadores recrutaram 82 estudantes da universidade. Metade deles recebeu um comprimido de 1.000mg de paracetamol, enquanto a outra tomou uma pílula idêntica, mas sem efeito (placebo). Depois de 60 minutos, que eram o tempo necessário para que a droga fizesse efeito sobre o grupo que a havia ingerido, os voluntários foram expostos a 40 fotografias que haviam sido selecionadas para causar reações emocionais diversas, como tristeza e alegria. Eram exibidas imagens como as de crianças em sofrimento ou animais de estimação brincando com seus donos.
Enquanto viam as fotos, os participantes deviam classificá-las de acordo com uma escala que ia de -5 (muito negativa) a +5 (muito positiva). Passada essa fase, as imagens eram novamente exibidas e, dessa vez, os participantes deviam indicar a intensidade da emoção que tinham experimentado ao ver cada imagem. Para isso, usavam uma escala de 0 (pouca ou nenhuma reação) a 10 (reação emocional extrema).
Os resultados mostraram que os participantes que tomaram paracetamol avaliaram todas as fotografias com “menos emoção” do que os voluntários que ingeriam o placebo. “As pessoas que tomaram o analgésico não sentiam os mesmos altos e baixos emocionais como as pessoas que tomaram placebo”, declarou, em comunicado, Baldwin Way, coautor do estudo e professor assistente de psicologia do Instituto Behavioral Medicine Research de Ohio.
INCERTEZA Os cientistas ainda não sabem por que o paracetamol produz tal efeito no organismo humano, mas suspeitam que há alguma ação específica sobre o sistema nervoso central. “O acetaminofeno exerce uma variedade de efeitos, seja mudando a neurotransmissão de serotonina no cérebro e reduzindo a sinalização inflamatória, seja diminuindo a ativação nas áreas do cérebro responsáveis pela emoção. Algum desses efeitos ou uma combinação deles pode ser responsável pelos efeitos psicológicos que observamos”, acrescentou Geoffrey Durso.
Para Maria Martha Campos, professora do Instituto de Toxicologia e Farmacologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), essa dúvida é difícil de ser sanada. “O paracetamol é um analgésico muito usado, mas conhecemos pouco sobre seus mecanismos de ação no corpo humano. Não sabemos diretamente quais são seus alvos, apenas que ele age no sistema nervoso central”, explicou. “Por não saber como funciona em detalhes, é difícil inferir por que ele diminuiria as emoções também”, complementou a especialista, que não participou do estudo.
Segundo a brasileira, o efeito apontado na pesquisa americana não precisa ser interpretado como algo negativo à saúde. “Não existe um efeito sedativo. A pessoa não fica mais apática do que outros estudos já mostraram. O cenário só muda se a substância for usada em quantidades excessivas”, ponderou.
O próximo passo dos pesquisadores é investigar mais a fundo os efeitos dos analgésicos no organismo humano. Maria Martha Campos acredita que mais respostas possam surgir com pesquisas que desvendem as ações do medicamento de forma mais clara. “Temos relatos de que o uso desse remédio em animais com depressão fez com que eles se recuperassem.”
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