ZERO HORA 29/04/2015
Wagner Brenner, do site Update or Die, postou
um texto alarmante. O título: “Socorro, não consigo mais ler livros”.
Nele, o autor desabafa dizendo que já foi um leitor obstinado, porém,
hoje, se o texto não embalar de uma vez, só com muito esforço ele
conseguirá continuar a leitura. A extensão tornou-se um problema. Seu
hábito agora é de ler apenas cacos, fragmentos, aperitivos, o que se
chama snack culture, informação instantânea em drágeas. Ele admite que
perdeu a capacidade de se concentrar.
Caso isolado? É só ver os comentários
deixados sobre seu post: estão lá uma infinidade de “comigo acontece o
mesmo”, “igual a mim”, “também não leio mais” etc. Algumas pessoas
inclusive confessaram ter tido dificuldade de ler o próprio desabafo de
Wagner, que foi longo. Mal iniciaram o primeiro parágrafo e já pularam
para as linhas finais. Ninguém mais tem tempo a desperdiçar. Quando
pegam um livro, os leitores já começam a esbravejar com o autor: “Vai,
anda, já entendi, para de enrolar”. Veja só, literatura virou sinônimo
de enrolação. Qualquer coisa que não diga logo a que veio é porque está
embromando. A revolução tecnológica exterminou a paciência.
O tempo em que nos dedicamos ao trabalho,
somado ao tempo que passamos nas redes sociais, reduziu o ritmo de
nossas leituras. É fato. Aconteceu comigo também. Cheguei a me
preocupar, mas tirei 13 dias de férias em fevereiro e, mesmo me mantendo
conectada, li quatro livros no período, dois deles com mais de 300
páginas. Ficou claro que ainda estou apta a me envolver. Porém, de lá
para cá, minha média vem sofrendo uma queda indesejada. Quatro livros em
13 dias, só saindo de circulação de novo.
Falta de tempo se resolve com administração,
portanto, vou tratar de me reorganizar. Mas a incapacidade de se deixar
seduzir por algo que não cumpre uma promessa imediata pode afetar
negativamente não só a leitura, mas diversas outras áreas do cotidiano.
Daqui a pouco, ninguém mais conseguirá prestar atenção na história que
um amigo está contando, ninguém mais entrará no jogo das conquistas
amorosas, ninguém mais se dedicará a preparar uma refeição, ninguém mais
escutará uma palestra, curtirá um recital, dará uma caminhada de olho
na paisagem. A menos que tenha um smartphone na mão, para ganhar tempo.
Tempo para o que, não me pergunte.
Não sei se é o fim do mundo. O fim do mundo
já se anunciou diversas vezes e ainda estamos aqui, então tudo indica
que sobreviveremos. Ao menos nossa própria existência está cada vez mais
longeva, na contramão das reduções. Se antes morríamos aos 60, aos 70,
agora podemos chegar aos 100. O que temos feito com esse acréscimo de
vida? Nada de mais. Só de menos.
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