Quando o e-mail surgiu, foi considerado um meio prático, porém frio de
se corresponder. Mas agora que o e-mail foi reduzido a pó pelo Face,
WhatsApp & cia., agora que ele sobrevive apenas para a troca de
mensagens profissionais (e olhe lá), agora que ele respira por
aparelhos, já podemos lembrar, nostálgicos, de como ele era refinado.
Isso foi ontem. Anteontem. Um século atrás. Dá no mesmo.
Agora você troca mensagens instantâneas, um toma-lá-dá-cá que faz todo mundo parecer meio esquizofrênico. A questão do corretor de texto é uma insanidade. “Oi, Patricia!’’ se transforma em “Ouviu, patife!’’ e o que era para ser um gentil cumprimento vira um insulto. Não preciso dar outros exemplos, você passa por isso todos os dias: corrigir com avidez as bananices que o corretor comete à revelia.
Mas o mais grave nem é isso.
É ter que responder de bate-pronto. Eu às vezes não sei exatamente como reagir a algo que me escreveram, gostaria de ter ao menos cinco minutos para processar a informação e entender o que estou sentindo antes de mandar uma resposta, cinco minutos não é tanto tempo assim, é? Ora, em cinco minutos o interlocutor já se atirou do oitavo andar, sentindo-se rejeitado pelo meu silêncio. Não senhora, você não pode pensar nem cinco, nem dois, nem meio segundo, precisa escrever feito um raio, num flash, sem pestanejar, porque o outro está digitando ao mesmo tempo e isso configura um duelo, ganha quem disparar primeiro. Portanto, seja ligeira e tenha presença de espírito — ia esquecendo: é imperativo mostrar que é engraçadinha.
Só que não sou engraçadinha. Sou cautelosa. Ponderada. Gosto de
construir frases. Criar raciocínios. Sou escritora, dê um desconto. Não
consigo me contentar com frase de telegrama, que é uma coisa bem antiga,
se não me falha a memória.
Bom mesmo seria se a gente continuasse a se comunicar frente a frente, transmitindo nosso estado de espírito com o próprio rosto, sem precisar do auxílio de algum emoji. Se a gente pudesse falar com calma e o outro responder com calma. Mas isso parece que também é coisa muito antiga.
Bom mesmo seria se a gente continuasse a se comunicar frente a frente, transmitindo nosso estado de espírito com o próprio rosto, sem precisar do auxílio de algum emoji. Se a gente pudesse falar com calma e o outro responder com calma. Mas isso parece que também é coisa muito antiga.
Nasci atrasada, estou sempre correndo atrás do tempo: aquele tempo que o e-mail me dava pra pensar.
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