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sexta-feira, 26 de abril de 2013

Nuvem que ronda - Fabio Seixas

folha de são paulo

Após um início de ano empolgante, Massa tem que se entender com os pneus para não fracassar
A grande novidade deste ano na F-1 parecia ser Massa. O brasileiro começou o ano fazendo coisas que não conseguia havia um bom tempo.
Após o GP da Malásia, colocou- -se à frente do companheiro de equipe, cenário inédito em três anos. Na China, liderou um treino --a segunda sessão livre--, o que não fazia desde Índia-2011. De quebra, mantinha-se melhor do que Alonso no grid, uma série que já vinha desde o final da temporada passada.
Mais do que os números, porém, o que chamava a atenção era seu discurso. Uma autoconfiança que em nada lembrava o claro abatimento dos últimos campeonatos.
Em suas próprias palavras, a "nuvem negra" que pairava sobre sua cabeça se dissipara. Ele estava de volta.
Durou pouco.
Do apagar das luzes na China à bandeira quadriculada no Bahrein, o Massa que se viu nas últimas duas etapas foi aquele da primeira metade do último Mundial.
Em Xangai, Alonso venceu e ele foi sexto. Em Sakhir, final de semana terrível para a Ferrari, ficou em 15º, sete posições atrás do espanhol.
Comparações à parte --até porque é injustiça comparar a grande maioria do grid ao espanhol--, ele foi mal mesmo. E a explicação pega carona na coluna da semana passada: são os pneus.
Massa abriu mão da luta pela pole no Bahrein. Sua ideia foi sacrificar a performance no sábado, usando os pneus mais duros, e colher os dividendos no domingo, com um primeiro pit stop tardio.
A estratégia havia funcionado com Vettel na China. Poderia funcionar com ele.
Não deu certo. Os pneus do seu carro duraram apenas dez voltas, e ele entrou nos boxes na mesma janela dos pilotos que estavam com os compostos mais macios.
Massa é um piloto rápido, talentoso, mas fica cada vez mais evidente que tem uma deficiência crônica no trato com os pneus. E, de novo evocando o texto da última sexta, isso significa que está lascado: pneus, hoje, são tudo.
Não por coincidência, seu discurso após a prova já foi num tom diferente: "Não consigo encontrar explicação para tantos problemas".
O Mundial está no começo. Massa é o sexto colocado. Em 2012, após as mesmas quatro provas, era o 17º.
Não dá para delirar em vê-lo lutando pelo título, mas, sim, é possível esperar um ano mais digno. Até por sua sobrevivência na categoria.
No Rio, dias antes de embarcar para a abertura da temporada, Massa não gostou quando foi questionado sobre a pressão do fim do contrato com a Ferrari e as especulações sobre seu provável substituto no time.
"Já vão começar com isso?", perguntou, na ocasião.
Ele tinha toda a razão naquele momento. Precisa se acertar logo com os pneus para continuar tendo.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Fábio Seixas

FOLHA DE SÃO PAULO

A lista das utopias
Brasil termina o ano com só um piloto confirmado na F-1 e sem perspectiva de uma mudança de cenário
Em sua edição de Natal, na última terça-feira, a "Folha Corrida" trouxe o resultado de uma consulta com os leitores. A pergunta, feita desde o início de dezembro, foi "o que você gostaria de ler no ano que vem?"
Uma brincadeira, num dia de noticiário tranquilo e num espaço que tem essa vocação mais leve e descontraída.
A página trouxe 18 "manchetes" fictícias, pendulando do acordo de paz entre israelenses e palestinos ao fim da seca no sertão nordestino. A principal delas, publicada no alto: "Em seis meses, mundo não terá mais analfabetos, afirma ONU". Desejos reais de um mundo idílico.
E havia uma, apenas uma, de esporte: "Massa ultrapassa Vettel na última volta, bate recorde em Interlagos e é campeão da F-1". A ilustração, de Pablo Mayer, trazia o piloto em seu macacão vermelho, chorando, derramando champanhe na cabeça, abraçado a um troféu.
É de parar para pensar.
De novo: a página foi uma brincadeira, não uma pesquisa com valor científico. Mas foi feita com base em sugestões de leitores. E há quem encare uma conquista na F-1 como a "notícia dos sonhos".
Não, a ideia não é ir na linha do "há coisas mais importantes". Sim, há. Mas uma vitória no esporte é sempre bacana, mexe com o orgulho nacional, vira festa na hora, faz o pessoal esquecer por um instante das durezas da vida. O que vale reflexão é a fixação por um título na F-1. E o fato de isso estar listado ao lado de algumas utopias.
É uma utopia? Cada vez mais, sim. E a ficha do público já caiu, mostra a lista da "Folha Corrida".
Em 2012, o brasileiro conquistou 43% dos pontos de Vettel, o campeão. Ok, ensaiou uma melhora no final do campeonato, mas, convenhamos, mais útil para sua autoestima do que para seus propósitos no Mundial.
Mas o pior é a falta de perspectiva. Se não for com ele, não será com mais ninguém a longo prazo.
Há enormes chances, aliás, de o ferrarista ser o único piloto do país na F-1: Bruno e Razia não acertaram com nenhuma equipe até agora e o funil está cada vez mais estreito -restam vagas só na Force India e na Caterham.
O país não tem um piloto promissor na fila, não tem um campeonato razoável de monopostos, não tem meia dúzia de autódromos decentes, não tem uma confederação que se preocupe com a crise que já chegou. Depende, como em tantos outras modalidades, da geração espontânea de talentos. E só.
Se de repente pintar um gênio, legal. O cenário real e a história do esporte indicam que a seca vai ser longa. E que talvez não acabe antes daquela outra, sua vizinha na página das utopias.
FÉRIAS
Esta coluna volta em fevereiro. Feliz 2013.
fabio.seixas@grupofolha.com.br

    sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

    Fábio Seixas


    folha de são paulo
    Reinício de carreira
    Barrichello precisa virar a página da F-1 para não repetir na Stock a frustração da Indy
    QUINZE ANOS atrás, correr na Stock era fim de carreira. Com poucas exceções, o grid era formado por veteraníssimos. Os carros, Ômegas que acumulavam milhares de quilômetros. E, se o título não ficava com Ingo Hoffmann, acabava com Chico Serra.
    O cenário começou a mudar com dois movimentos.
    O primeiro, externo. A crise na Indy -que por anos foi o plano B de quem não se encaixava na Europa-, fez muito piloto voltar para casa.
    O segundo, interno: a visibilidade dada pela Globo, que fez dezenas de marcas alheias ao esporte escolherem a categoria, seduzidas pela chance de aparecer na TV por um preço mais baixo do que produzindo e comprando mídia.
    Com alguns bons e jovens pilotos, com uma boa administração -embora muitas vezes predatória- e com dinheiro novo, a Stock cresceu. Não, não é a categoria dos sonhos, mas hoje está firmada como um campeonato decente, o único por essas bandas.
    Daí não ser estranho o desembarque de Barrichello em 2013, após as três corridas de aperitivo neste final de ano.
    Ele chega por um time competitivo, com patrocinador forte para os padrões locais, com o melhor engenheiro que há. Não terá vida fácil nas pistas, mas contará com todas as ferramentas para se adaptar o mais rápido possível.
    Quarentão, deve disputar quatro ou cinco temporadas na Stock e então, sim, pendurar o capacete de vez.
    Estranho foi o que (não) aconteceu na Indy. Esta passagem, aí sim, teve elementos de fim de carreira.
    Barrichello chegou achando que ia arrasar, exibindo suas credenciais de piloto mais experiente da história da F-1. Imaginou tratamento VIP, deferências, facilidades. Sua mudança para o lado de cá do Atlântico foi comparada às de Mansell e Emerson.
    Deu tudo errado.
    Começando pela equipe com que ele assinou, a fraca KV, de fundo de pelotão.
    Passando por sua língua: criticou os colegas ("Tem gente largando muito antes da hora certa"), o carro ("Não é fácil") e as pistas ("Nenhum piloto da F-1 correria em circuitos assim"). As declarações de amor eterno à F-1 também não ajudaram: atrapalharam seu foco e não pegaram nada bem nos EUA.
    Terminou apenas em 12º no campeonato. Uma passagem apagada, que, no fim, acabou lembrando a de outro veterano da F-1: Alesi.
    No meio do ano, o site especializado Motorsport.com conferiu nota "B-" à sua estreia, até então. Ruim.
    Mas, se sua carreira "terminou" na Indy, na Stock ele ganha nova chance de recomeçar. De um jeito bacana.
    Uma boa ideia seria virar de vez a página da F-1.
    O que passou, passou.

    sexta-feira, 16 de novembro de 2012

    Plantar e colher - Fábio Seixas


    FÁBIO SEIXAS
    Plantar e colher
    Razões para o sucesso de Vettel e Alonso não estão só no talento e remetem ao início de ambos na F-1
    HÁ ALGO em comum entre Alonso e Vettel. E não é o talento, o estilo arrojado, o fato de entrarem na estreante pista de Austin, neste final de semana, na luta pelo Mundial.
    Está lá atrás. Na gênese. No início de carreira na F-1.
    Ambos foram descobertos por seus mecenas em campeonatos de base e conduzidos à F-1 com planejamento cuidadoso: em equipes pequenas, para ganhar experiência e um dia subirem para times maiores. Sem atropelo e, principalmente, sem pressão.
    Alonso foi colocado na F-3000 por Briatore. Fez um campeonato apagado, mas mesmo assim subiu para a F-1, em 2001, pela Minardi. Em 2002 tornou-se piloto de testes da Renault e, em 2003, foi alçado a titular. Em 2004 conseguiu quatro pódios e em 2005 foi campeão, o que repetiu no ano seguinte.
    Vettel caiu nas graças da Red Bull e foi levado por ela ao posto de piloto de testes da BMW, em 2006. Em 2007, a empresa de energético o colocou na Toro Rosso -sucessora da Minardi, diga-se, outra coincidência. Em 2008, conquistou a única vitória da história da escuderia. Em 2009, foi promovido para a Red Bull e ganhou quatro corridas. Nos últimos dois Mundiais, batata: ergueu o título.
    Repito a palavra lá do começo: planejamento.
    Fez toda a diferença. E ajuda a explicar o fato de Alonso e Vettel estarem disputando, agora, o recorde de tricampeão mais jovem da F-1. Vira e mexe, alguém pergunta o porquê de brasileiros tão promissores na base não terem vingado no topo.
    Pizzonia e Zonta, para citar os dois casos mais clamorosos, fizeram tudo direitinho na base. Ganharam títulos, superaram marcas históricas, chamaram a atenção de gente graúda no automobilismo.
    Mas entraram pela porta errada na hora errada.
    Deu no que (não) deu.
    Não, planejamento não é tudo, não é garantia de sucesso. A própria Red Bull sabe bem: vem tentando há anos replicar a fórmula em sujeitos como Speed, Alguersuari, Bourdais, Ricciardo e Buemi e quebrando a cara.
    Mas a falta de um projeto bem pensado é quase sempre um atalho para o fracasso.
    Ah, sim, alguém pode lembrar de Massa, cuja preparação foi bem parecida com as de Vettel e Alonso. É a exceção que confirma a regra.
    SUCESSÃO
    No final de semana em que perdeu um de seus grandes pilotos, Casey Stoner, agora aposentado, a MotoGP viu surgir um candidato a próximo astro.
    Já campeão da Moto2, Marc Márquez largou em 33º e último em Valencia, passou 11 na primeira volta e venceu a prova com a derradeira ultrapassagem na penúltima volta. Com pista molhada.
    Anotem este nome.

    sexta-feira, 9 de novembro de 2012

    Fabio Seixas


    FÁBIO SEIXAS
    A conquista do respeito
    Em Abu Dhabi, após sair em último e terminar no pódio, Vettel ganhou mais do que o virtual tri
    EXISTEM CURTIÇÕES especiais entre os prazeres de assistir a uma prova de carros, motos, cavalos, gente, qualquer coisa que se mova...
    Uma delas é a chamada "corrida de recuperação".
    Tem a ver com a tentação de torcer pelo mais fraco -ou por aquele que, por alguma condição especial, é momentaneamente o mais fraco. Tem a ver, ainda, com testar limites, com curtir o sofrimento alheio.
    E até com aquela curiosidade sacana de "vamos ver se ele é bom mesmo".
    Se o sujeito fica pelo caminho, normal. Recebe uma ou outra crítica pontual, e logo aquilo cai no esquecimento.
    Mas quando a reação acontece... Não há como não se empolgar, não vibrar, não aplaudir, não comentar no trabalho no dia seguinte, não lembrar por anos e anos.
    Cada um tem sua lista, seus critérios e preferências. Este colunista não é diferente.
    A preferida, por ter significado um título mundial, é a reação de Senna em Suzuka-88. Pole, viu o motor apagar no grid, aproveitou-se de estar num declive, fê-lo pegar no tranco, mas caiu para 14º. Levou só 28 voltas para chegar à liderança, ultrapassando Prost, com um carro igual. Venceu. Foi campeão.
    Outro brasileiro tem lugar na galeria: Barrichello, em Hockenheim-2000. Saiu em 18º, desesperançoso, prevendo um GP difícil. Mas foi brilhante quando começou a chover, segurando-se na pista com pneus para piso seco. Venceu. Resultado que foi festejado não apenas pela façanha, mas por todo o alívio que, naquele momento, representava para o ferrarista.
    Raikkonen fez parecido em Suzuka, cinco anos depois. Saindo em 17º com a McLaren, punido por uma troca de motor, ultrapassou cinco pilotos só na primeira volta. Continuou passando seus adversários como se fosse o último GP de sua vida e, na última volta, chegou em Fisichella. Passou. Venceu.
    A história conta ainda que, em 1983, Watson venceu o GP dos EUA após começar em 22º. Num circuito de rua, Long Beach. É o recorde da F-1.
    Isso tudo só valoriza o que Vettel fez em Abu Dhabi.
    Saindo dos boxes, em 24º lugar -ou 23º, porque De la Rosa teve problemas-, terminou a primeira volta em 20º. Chegou a 11º na 13ª volta, mas teve de entrar nos boxes para trocar pneus e bico. Caiu para o fundão de novo.
    Dez voltas depois, já estava nos pontos. Na 29ª, era quarto. E, na 52ª, a três da bandeirada, passou Button e cavou um lugar no pódio.
    Não, não venceu. Mas o efeito do que fez estava no rosto de Alonso. Ali, Vettel derrubou a adversário, selou o destino do Mundial. E conquistou algo além, inestimável: respeito de quem ainda desconfiava de seu talento.