segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Novas edições das obras de Cecília Meireles, Manuel Bandeira e Mario Quintana devolvem os três poetas às estantes das livrarias


Poetas sem pó

Novas edições das obras de Cecília Meireles, Manuel Bandeira e Mario Quintana devolvem os três poetas às estantes das livrarias
20.nov.53/Acervo UH-Folhapress
Cecília Meireles
Cecília Meireles


DOUGLAS GAVRAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Há quem diga que bons livros se encontram em sebos. A lenda viria da crença de que um escritor, de tão procurado, faria com que os leitores tivessem que esperar para ler suas obras em segunda mão.
Pois três grandes poetas da literatura brasileira têm agora seus versos de volta às livrarias. Até 2014, as obras de Cecília Meireles, Manuel Bandeira e Mario Quintana ganham esperadas reedições.
A poesia de Cecília e de Bandeira foi sumindo das estantes desde o fim do contrato entre a Nova Fronteira e a agência literária que detém os direitos de publicação da dupla (leia mais nesta página).
Um acordo assinado com a Global deu origem a novos volumes do épico "Romanceiro da Inconfidência", publicado pela primeira vez por Cecília em 1953, e de seu intimista "Viagem", de 1939.
Bandeira retornou com as coletâneas de versos "Estrela da Manhã" (1936) e "Estrela da Tarde" (1960), além da autobiografia em prosa "Itinerário de Pasárgada" (1954).
De Quintana, há antologias consagradas como as da L&PM e da Nova Aguilar, portas de entrada para sua obra. Mas as reedições de seus títulos originais lançadas pela Editora Globo estão quase todas fora de catálogo.
A primeira fornada, sob o selo da Alfaguara, é composta pelos três primeiros livros lançados por ele em Porto Alegre: "A Rua dos Cataventos" (1940), "Canções" (1946) e "Sapato Florido" (1948).
Há ainda um título que fez sucesso três décadas depois, "Apontamentos de História Sobrenatural" (1976), parte da fase madura de Quintana.
Os três autores projetaram bases para a poesia brasileira do século 20, ainda que tenham permanecido distantes do ponto de vista estético.
"Bandeira também tinha temas regressivos, voltas ao mundo da infância, mas sua poesia expressa mais maturidade do que a de Quintana", aponta o crítico Luís Augusto Fischer, coautor da biografia "Mario Quintana - Uma Vida para a Poesia".
"Já Cecília Meireles, parece guardar certa solenidade, na retórica ou na abordagem dos temas, que Quintana não tinha", completa.
Distantes em origem e estilo, o trio expressou pela literatura a admiração mútua.
À Cecília, Quintana dedicou: "Senhora, eu vos amo tanto/ Que até por vosso marido/ Me dá um certo quebranto".
Ela, por sua vez, teceu uma poesia em que o menino Jesus pede à Sant'Ana que substitua as canções natalinas por poemas do colega gaúcho.
E sobre os versos de Cecília, Manuel Bandeira assim escreveu: "Tudo [é] bem assimilado e fundido numa técnica pessoal, segura de si e do que quer dizer".

Volta de Cecília é alívio após década de brigas judiciais
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A obra de Cecília Meireles (1901-1964) estava sem reedições desde 2009, quando teve fim o contrato entre a Nova Fronteira e a agência literária Solombra, de Alexandre Teixeira, neto da autora, que ainda representa Manuel Bandeira e Orígenes Lessa.
A ausência de Cecília se deve a uma disputa judicial de 12 anos envolvendo as filhas da poeta, Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda.
Maria Fernanda questionava as prestações de contas da agência, o que levou Maria Mathilde, mãe de Alexandre, a passar o controle de sua parte para Ricardo Strang, filho de Maria Elvira.
Com a morte de Elvira, sete anos depois, Strang passou a administrar dois terços dos direitos sobre a obra. Strang, mais tarde, entrou em acordo com o primo e, em dezembro de 2011, a Global foi a editora escolhida para relançar os livros da autora.
Dias após o anúncio, duas netas de Cecília -Fátima e Fernanda Dias- contestaram a validade do contrato fechado por Alexandre. O advogado delas, porém, diz que por ora não há risco de as obras serem retiradas do mercado.
O pacote prevê a publicação de títulos de Bandeira, Lessa e Cecília, incluindo manuscritos inéditos da poeta.
Durante cerca de três semanas, a Folha tentou, sem sucesso, contato com Alexandre.
Segundo Luiz Alves Junior, da Global, foi assinada uma carta de intenções que prevê multa em caso de desistência.
"O caso precisa ser resolvido na Justiça, mas, felizmente, a obra não corre o risco de sair de catálogo", diz Roberto Edward Halbouti, advogado de Maria Fernanda.
(DG)

Relançamentos permitem leitura "solo" de obras originais de Quintana

Consagrado em antologias póstumas, gaúcho terá seus escritos completos reeditados até 2014
Novas publicações dos clássicos 'O Aprendiz de Feiticeiro' e 'Espelho Mágico' serão lançadas hoje em evento em SP
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em 2008, quando soube que o neto se chamaria Mario, em homenagem a seu poeta favorito, Estela Rosenberg, 72, tinha uma certeza: faria com que ele se apaixonasse pela literatura, dando-lhe de presente a obra de Quintana.
O primeiro livro, "A Rua dos Cataventos", seria o mesmo exemplar de 1940 que a professora gaúcha havia ganho de seu avô, aos 12 anos.
Outros tantos vieram de buscas constantes em sebos e de edições do início dos anos 2000 da Editora Globo, já praticamente esgotadas.
Quintana deve parte de seu reconhecimento às antologias lançadas após sua morte, em 1994. Poucos leitores, no entanto, o conhecem a partir de seus livros originais.
"Espero reunir tudo, mas faltam livros como 'O Aprendiz de Feiticeiro' e 'Espelho Mágico'", diz Rosenberg.
Faltavam. As obras, reunidas agora em um único volume, serão relançadas hoje, ao lado de "A Cor do Invisível".
"Quintana é um poeta que penetrou na alma popular. Quanto mais o tempo passa, mais sua poesia se expande formalmente", resume o poeta e crítico Italo Moriconi, curador da reedição do gaúcho pelo selo Alfaguara.
A editora lança também nesta segunda-feira a antologia inédita "Poemas para Ler na Escola", organizada pela escritora Regina Ziberman.
Em São Paulo, o relançamento será seguido de um debate entre Moriconi e Viviana Bosi, autora do prefácio de um dos títulos, às 20h, na Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073; tel. 0/xx/11/3170-4059).
O relançamento das 17 obras irá até 2014, o que talvez seja uma oportunidade rara de garantir a compreensão do poeta, já que o seguro, segundo Quintana, morreu de guarda-chuva.
(DOUGLAS GAVRAS)

A COR DO INVISÍVEL
AUTOR Mario Quintana
EDITORA Alfaguara
QUANTO R$ 32,90
O APRENDIZ DE FEITICEIRO E ESPELHO MÁGICO
AUTOR Mario Quintana
EDITORA Alfaguara
QUANTO R$ 32,90


Em autobiografia, Manuel Bandeira resgata ausências
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Manuel Bandeira (1886-1968) publicou seu primeiro livro, "A Cinza das Horas", em 1917, a tempo de ser lido por Olavo Bilac.
O contexto cultural efervescente que contribuiu para sua formação não impediu, no entanto, que o pernambucano questionasse suas aspirações poéticas.
Em "Itinerário de Pasárgada", prosa lançada originalmente em 1954 e que ganha nova edição, o autor revela como se tornou poeta.
Dele também já se encontram novamente nas livrarias os líricos "Estrela da Manhã" e "Estrela da Tarde".
O livro de memórias foi concebido por insistência dos amigos Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos.
A certa altura, Bandeira escreve: "Confesso que já vou me sentindo arrependido de ter começado estas memórias (...) tomei consciência de minhas limitações".
Em "Manuel Bandeira - Uma Poesia da Ausência" (Edusp, R$ 44, 208 págs.), a professora Yudith Rosenbaum já havia escrito que Bandeira faz do eu-lírico "um cúmplice para disfarçar a tristeza da solidão".
Aqui, o poeta não apenas anuncia que irá se refugiar na mítica Pasárgada. Ele guia o leitor no caminho que fez até a terra de sonhos.
(DG)
ITINERÁRIO DE PASÁRGADA
AUTOR Manuel Bandeira
EDITORA Global
QUANTO R$ 39


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