Mariana Peixoto
Estado de Minas: 23/01/2013
Para fotografar Amyr Klink, avesso à exposição de sua imagem, Jairo Goldflus negociou com a mulher do navegador
Rodrigo Hilbert
“O clique é uma vírgula da conversa.” Parece simples, e para o fotógrafo paulistano Jairo Goldflus, de 45 anos, realmente é. Com 25 anos de profissão, a maior parte deles dedicados à publicidade, ele tem a segurança para dizer que uma fotografia se define mais no antes do que propriamente no momento em que a imagem é congelada. Há cinco anos, quando começou a sentir que a publicidade estava começando a perder a graça, decidiu fazer retratos para ele próprio.
Como trabalhava com muita gente conhecida nas campanhas – atores, cantores, esportistas, apresentadores – fazia, ao fim de cada sessão, imagens que passou a colocar nas paredes do galpão onde funciona seu estúdio. Não tinha, naquele momento, intenção de expô-las. “Nunca me vi como um fotógrafo que expõe seu trabalho, tanto que não tinha a finalidade de fazer um livro”, afirma Goldflus. Até que um amigo, editor, veio com essa ideia. Ao longo dos últimos três anos, o fotógrafo reuniu material para Público, bem acabado livro de retratos que reúne 142 ensaios.
É menos do que Goldflus tem em sua parede. Menos ainda do que ele imagina ser o número ideal – admite que se deixassem, levaria outros bons anos para entregar o livro. De todo o material, somente 11 fotos não são inéditas. “A mais antiga do livro tem nove anos, da (atriz) Bete Coelho. Mas 70% são do último ano e meio. Como trabalho com pessoas públicas, não queriam fotos datadas no livro”, continua.
Há muitos ensaios, boa parte deles sugeridos por Goldflus, e outros tantos retratos mais simples, resultado de meia dúzia de cliques. O chef Alex Atala, por exemplo, abre o livro travestido de açougueiro; o ator Cauã Reymond como a roqueira Courtney Love; a sogra, Regina Duarte (o fotógrafo é casado com a atriz Gabriela Duarte), está irreconhecível como um palhaço; o galã Carmo Dalla Vecchia “desaparece” no visual de um metaleiro.
Porém, foram alguns retratos que não envolveram muita produção de cena os mais difíceis de serem realizados, conta Goldflus: “São pessoas que eu jamais trabalharia (em publicidade). Chegou uma determinada hora em que vi que faltavam pessoas que admiro. O Sebastião Salgado, por exemplo, só consegui por causa de uma coincidência. Estava no Rio almoçando com um amigo que disseque ele estava para ir no Instituto Homem Pantaneiro, no Pantanal. Precisava de alguém para recebê-lo, e me ofereci. Fiquei 10 dias com ele e, no final do trabalho, perguntei se ele topava e fiz. Não foram mais do que 10 cliques.”
Já com Amyr Klink, avesso a qualquer tipo de retrato, a negociação foi feita entre o fotógrafo e a mulher do navegador, Marina. Com Zeca Pagodinho, ele teve que ser mais rápido do que o usual. Fez não mais do que cinco imagens. “Ele jamais iria querer uma caracterização, como a da Marília Gabriela, em que pensei em algo meio Tim Burton. Tive que fazer um retrato simples. No entanto, o mais importante é que ele conte uma história. A conversa leva para a imagem e o momento do fotógrafo tem que ser rápido, pois senão a pessoa se cansa. É como um anestésico. A maioria das pessoas quando vê pergunta: ‘Já acabou?’”
Uma vez com o livro pronto – há planos de uma exposição –, Goldflus diz que está interessado agora em mirar sua câmera em pessoas desconhecidas. “A ideia é sair por aí fotografando anônimos, mas é algo que vai demorar pelo menos cinco anos, pois o projeto é mais complicado.” Ele admite não ter nenhuma pressa. “O que gosto mais é do processo. Tinha muito medo da outra parte, que é quando o projeto fica pronto e você tem que falar sobre ele. As pessoas cobram um certo glamour que não tenho. Tive medo porque não sei explicar o meu trabalho, que para mim é só a consequência do meu encontro com a fotografia”, conclui.
PÚBLICO
>> Livro de fotos de Jairo Goldflus
>> Editora Livre, R$ 250
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