Obama ameaçou partir para a briga
Com um discurso de campanha, companheiro diz 'vai ou racha', mas pode ir a lugar nenhum
Toda vez que um presidente americano repete a frase lapidar da Declaração da Independência ("todos os homens são criados iguais...") está falando muito sério ou não está dizendo coisa nenhuma. Se daqui a quatro anos o companheiro Barack Obama tiver emendado a divisão existente no seu país, terá sido um grande presidente.Por enquanto, chega ao seu segundo mandato com a mesma bagagem de sua primeira campanha: "esperança". Com oito recursos aos trechos iluminados do texto de Thomas Jefferson teve seu melhor momento quando disse que "nós não acreditamos que a liberdade esteja reservada para os afortunados ou a felicidade, para uns poucos". De novo, pode ser muito, ou nada.
Contrariando os costumes, o companheiro chamou a oposição para a briga. Fez isso há quatro anos, quando tinha maioria na Câmara e no Senado. Triunfou aprovando a reforma do sistema de saúde (o que não é pouca coisa) e reelegeu-se (o que pode ser grande coisa).
Os Estados Unidos continuam matando estrangeiros em operações secretas. A prisão de Guantánamo vai bem, obrigado. O "stalinismo de mercado" chinês vai melhor hoje do que ia quando ele entrou na Casa Branca. Cuba continua bloqueada pelo medo democrata de perder o eleitorado da Flórida.
A banca foi resgatada, carregando consigo os bônus. O presidente do Citibank, casa que Obama salvou da guilhotina, foi dispensado em outubro passado, mas nos últimos cinco anos acumulara um ervanário de US$ 221 milhões. Obama transformou Paul Volcker num perigoso intervencionista. Logo o chefe do Fed que domou a inflação e quebrou o Terceiro Mundo, inclusive Pindorama. Levou-o para o governo e, habilmente, dispensou-o.
O companheiro repetiu várias vezes a expressão, "nós, o povo", mas, ao contrário de Abraham Lincoln, chamou os adversários para se juntarem àquilo que ele chama de "nós". Seu genial antecessor fazia concessões que os aliados consideravam absurdas, mas tinha a seu favor a força das armas numa guerra civil que dificilmente perderia. Quando prevaleceu militarmente, acabou com a escravidão, coisa que não teria feito se os conservadores tivessem entendido que era mais forte e mais esperto que eles. Se daqui a quatro anos Obama tiver conseguido tomar medidas igualitárias como, por exemplo, rever a situação dos imigrantes, será um vitorioso.
O discurso de Obama aprofunda as divisões americanas, num país em que a esquerda vai em cima de Quentin Tarantino porque usa a palavra "crioulo" no filme "Django" e a direita retardou a estreia do "Lincoln" de Steven Spielberg porque viu nele um panfleto de propaganda democrata. Seria, se a emenda constitucional que aboliu a escravidão pudesse ser considerada propaganda.
Os primeiros quatro anos de Obama ensinaram que ele tem uma paciência infinita enquanto lida com os meios. Em matéria de fins, não deu caldo.
A radicalização republicana, que transformou o moderado Mitt Romney num extremista fracassado, pode refluir para o centro, mas a última campanha eleitoral mostrou que o futuro da direita americana depende de uma ida para o centro. Pelo menos num primeiro momento, o discurso de posse de Obama não contribuirá para isso.
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