A simplicidade é uma coisa
difícil de buscar e alcançar
Estado de Minas: 06/03/2013
Sonhei que estava
indo para Maracangalha com o chapéu de palha, o “linforme” branco e a
Anália de Dorival Caymmi. Acordei em Lisboa, com as meninas do Amaranto,
flores amarelas do nosso sol, cantando coisas belas sobre o rio, o mar e
a terra que amamos, regidos pelo talento de Geraldo Vianna. Fazia frio
ou calor lá fora? A canção move o mundo, muitos dizem e o Ronaldo
Bastos não deixa de insistir. Assim, estou aqui destilando palavras e
notas na noite de Portugal. O que apresentamos é singelo, delicado, de
adormecer as crianças e acordar as pessoas sensíveis.
A
sociedade de massas está longe daqui, não cabe nesse ambiente reservado e
cuidadoso que se criou em volta dos presentes. Há canto e poesia
tomando conta do ambiente. A simplicidade é uma coisa difícil de buscar e
alcançar. Findo o recital, os abraços e a alegria nos trazem de volta à
realidade. Estamos na cidade dos portugueses e andamos por suas ruas,
ainda há pouco recheadas de um povo que clama contra o arrocho
financeiro imposto pelas autoridades da Europa. No ar, a certeza de que
os cidadãos não contribuíram para o impasse econômico em que a região se
encontra.
E me lembro bem do que pagamos, sem culpa, pela
irresponsabilidade dos que lideraram o Brasil durante décadas. Coloco-me
no lugar dos portugueses, sem me esquecer de que um vento de tempos
antigos começa a soprar em nosso horizonte. Há um cheiro de passado e de
resultados indesejáveis no que fazem os que estão à frente dos negócios
públicos brasileiros. Mãos dadas com os portugas, que voltam a cantar
Grandola, vila morena, pacificamente, enquanto caminham pela Avenida
Liberdade, assusto-me, rapidamente, com a possibilidade de ter que fazer
o mesmo num futuro próximo.
Mas que coisa, a vida; que coisa,
o mundo. Depois de dias batalhando contra o ar pesado do condicionador
do hotel, consegui uma maneira, mais fácil do que esperava, de abrir a
minha janela para o mundo. As narinas e a garganta não suportavam mais o
ar seco do quarto fechado para a natureza. Tentara várias vezes
contornar o problema, zerando o ar que não era natural. Faltava o fresco
do ar puro, que respiro agora na noite de Lisboa, contemplando seus
movimentos e suas luzes depois de uma tarde estupenda com meus
sobrinhos, Paula e Lucas, provisoriamente estudando na cidade.
Não
sei se foi a alegria da tarde, o vinho do Douro ou o sono reparador que
trouxe de volta a sabedoria adormecida, que possibilitou o estalo na
mente deste mineiro eternamente amante de sua casa e de sua terra.
Minhas janelas agora estão abertas, respiro com prazer o ar de Lisboa.
Estou voltando.
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