quarta-feira, 6 de março de 2013

Sem queda de conexão-Roberta Machado‏

Espécie de antena caseira, as femtocélulas vão tornar o acesso à internet pelo celular mais eficiente. Já utilizada em alguns países, a tecnologia está em fase de regularização no Brasil 


Roberta Machado

Estado de Minas: 06/03/2013 

Brasília – A internet sem fio e os celulares nem sempre são tão móveis quanto se deseja. Às vezes, a conexão à web está perfeita na calçada, mas basta entrar em um ônibus para a navegação se tornar um desafio. Dentro de casa, é comum o jogo de esconde-esconde, no qual alguns simples passos podem tornar o uso do telefone um suplício. Quem sofre com as oscilações de humor da rede pode até levantar o aparelho para os céus na esperança de obter um sinal melhor, mas a culpa mesmo é das antenas de transmissão, que estão a quilômetros de distância.

Os pontos que transmitem as ondas da central para áreas mais distantes nem sempre conseguem entregar todos os dados, o que resulta numa rede deficiente e congestionada. Geralmente, os usuários que moram nos pontos mais distantes da área de cobertura dependem dos investimentos da operadora em novas antenas para reforçar o sinal na região. Contudo, em alguns países, como Estados Unidos, Canadá e Grécia, os clientes já podem incrementar a cobertura de casas, prédios e até mesmo veículos por conta própria. Os pontos mortos das ondas de internet e de celular são corrigidos por uma tecnologia chamada de femtocélula, tipo de miniestação de transmissão personalizada.

Dos diversos padrões de dispositivos disponíveis para cada necessidade, a femtocélula conquistou o público e é a candidata a ganhar espaço em residências e prédios nos próximos anos. A menor das células existe desde 2007, e atingiu em novembro do ano passado a marca de 6 milhões de aparelhos ativos. Estima-se que esse número chegue a 91 milhões até o fim de 2016. Enquanto algumas operadoras oferecem o equipamento gratuitamente para que os usuários contribuam para o descongestionamento da rede, outras vendem as antenas sob a condição de planos especiais que oferecem uma cobertura com serviços personalizados.

Apesar de serem capazes de melhorar a qualidade das chamadas feitas e recebidas pelo celular, essas antenas trazem vantagem principalmente para quem gosta de navegar em seus smartphones. Calcula-se que 40% dos usuários da rede 3G acessem a web dentro de casa, justamente onde a conexão apresenta mais falhas. “Quanto mais paredes o sinal precisa atravessar, menor é o alcance. E, mesmo dentro do cômodo, há o mobiliário, que também bloqueia o sinal”, explica Luiz Alencar Reis da Silva Mello, professor do Centro de Estudos em Telecomunicações da PUC Rio. 

A ideia das femtocélulas é escoar esse tráfego para a rede de banda larga. Conectando esses aparelhos diretamente a um roteador, é possível obter um sinal otimizado de wi-fi com funcionamento muito superior, capaz de alcançar o celular em qualquer lugar da casa. Com o sinal melhorado, o usuário também ganha acesso a chamadas de maior qualidade e uma taxa de transferência de dados melhor.

Nos países que já usam a tecnologia, dependendo das vantagens oferecidas pelas operadoras, ainda é possível criar planos diferenciados de chamadas feitas pelo sinal das antenas residenciais, além de determinar um único número para ligações fixas e móveis. “Para a operadora, a vantagem é desafogar a rede 3G para usuários que trafegam muitos dados, tornando a cobertura mais eficaz”, aponta Roberto Falsarella, gerente de soluções móveis da Alcatel-Lucent, empresa de telecomunicações que já trabalha com as femtocélulas. No Brasil, a tecnologia ainda depende de regularização pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). As operadoras devem ficar com a responsabilidade de definir como será feita a comercialização do serviço. O assunto foi colocado para consulta pública pelo órgão até o dia 24 deste mês.

Pesquisas em alta
A União Europeia já conta com vários países integrados à rede dessas células, que, em alguns lugares, já supera o número de antenas transmissoras. Foram investidos mais de R$ 26 milhões em pesquisas para aperfeiçoar a tecnologia por meio de um grupo de empresas de telecomunicação, operadoras móveis e outras organizações da área. O projeto BeFEMTO (Redes Femto desenvolvidas em banda larga, na sigla em inglês) existe há três anos e já registrou 12 patentes, além de ter publicado mais de 70 artigos que devem melhorar e baratear a tecnologia.

Os europeus pretendem tornar as femtocélulas, enquanto elas ainda estão sendo implementadas, desenvolvendo modelos inteligentes que selecionam e controlam a conexão de forma independente e evitam interferências entre as antenas. Uma das criações do grupo são softwares de monitoramento de tráfego e algoritmos que garantem uma melhor transmissão. O alvo dos estudos são as novas redes LTE e 4G, que podem ter a potência comprometida por problemas de cobertura.

“O projeto BeFEMTO tem trabalhado em muitos aspectos inovadores, que não foram completamente resolvidos no modelo atual da tecnologia aplicada nas redes comerciais. Temos abordado muitos casos e cenários novos que não foram considerados antes”, explica Thierry Lestable, coordenador do grupo. O projeto conseguiu criar cinco protótipos que usam a tecnologia, incluindo uma rede de 12 femtocélulas interligadas.

Além de criar redes de antenas conectadas para usos corporativos ou ao ar livre, o grupo ainda estuda formas de aumentar a cobertura das células e pesquisa aparelhos móveis para uso no transporte público. Em alguns espaços da Europa, por exemplo, os usuários já têm acesso aberto às redes de femtocélulas da operadora deles. “Queremos que o usuário tenha uma experiência de banda larga real, tendo a conexão em qualquer lugar, com a melhor qualidade e com o custo reduzido para o operador”, resume Lestable.

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