Estado de Minas: 08/09/2013
–Você sabe o que é uma biela?
Pois lá ia eu a Tiradentes, creio que em 1962 (já havia biela naquele tempo). Se você olhar na internet vai descobrir que biela é toda peça de uma máquina “que serve para transmitir ou transformar o movimento retilíneo alternativo em circular contínuo”. Entendeu? Mas o fato é que lá íamos nós: Ivan Ângelo, Maria Ângela, Fernando Gabeira e Marília, Frederico de Morais e Vilma, eu e Nena, lá íamos, com mais uns amigos e vários carros, a Tiradentes. Nada era asfaltado, creio que levamos umas cinco ou seis horas…
E o pior: houve o episódio da biela, relatado também por Gabeira na sua autobiografia. Saindo de BH, minha Vemaguete parou. De repente. Um chofer de caminhão veio ajudar e afirmou categórico: “É a biela!”. E foi embora. Desolado, 15 minutos depois tentei religar o carro. Não era a biela. O carro simplesmente estava afogado.
Voltei uma vez mais a Tiradentes nesta semana. Dizem que tem 6 mil habitantes e 30 mil visitantes no Festival Gastronômico. No tempo da biela, as portas e janelas estavam todas fechadas, não havia vivalma nas ruas. Só fantasmas. Juro que cruzei com a alma de Tiradentes com uma corda no pescoço.
Agora, Tiradentes é só festa. Fui parar lá por obra e graça de amigos que acreditam na música e poesia. A culpa é de Luciana e Carlos Perktold – ela paisagista e decoradora, ele psicanalista e colecionador de obras de arte. Outra culpada é Zenilca Navarro, do Tragaluz, nossas mães já eram amigas. Há tempos me surpreendi sabendo que Zenilca cuidava da divulgação do grupo Corpo e agora, nova surpresa ao ver o esplêndido restaurante que ela (e sua parentela) montou em Tiradentes.
E tem a Elisa Freixo. Na hora que cheguei a Tiradentes ela dava um concerto de órgão na Matriz de Santo Antônio. Aquele ciclópico instrumento, com seus 680 tubos, que veio da Europa para as montanhas de Minas ainda no século 18. A essas horas, Elisa está na Alemanha com um grupo de felizardos, percorrendo uma vez mais os caminhos de Bach, com outro organista, o belga Jean Ferrard. Pois a Elisa, essa paulista que pousou em Minas por amor ao barroco e aos órgãos, achou que seria interessante que fizéssemos um concerto de cravo e poesia. Assim, ela dava uma no cravo… e eu na ferradura. Já havíamos feito umas experiências desconcertantes na Serra do Cipó e no Museu do Oratório, em Ouro Preto.
Há muito tento me acercar da música, mas quem sou eu, sem ouvido absoluto, absolutamente inepto para instrumentos musicais. Vou revelar: um dia, tentando aprender violão, a professora me disse assustada: “Engraçado, você está fazendo tudo certo, só que ao contrário…”.
Desisti dos instrumentos, apesar de ter cantado no inesquecível Madrigal Renascentista e ter feito uma ou outra música com Fagner, Martinho da Vila e Rildo Hora.
Estar em Minas. Na Minas profunda. Ser em Minas. Visitar o futuro Museu de Sant’Ana, que a industriosa Ângela Gutierrez logrou levar para Tiradentes. Ali era uma cadeia para homens e mulheres. Agora, vai reinar Sant’Ana, a avó de Jesus. Como dizia aquela música que o Simão Lacerda cantava:
“Sant’Ana é a maior santa que tenho visto,
Sant’Ana é a mãe de Deus,
Sant’Ana é a vó de Cristo!”.
E, de repente, estamos no jardim do Tragaluz ouvindo música e poesia. E quando me falaram de certas dificuldades encontradas para levar a arte a Tiradentes, estando num jardim, lembrei-me de um poeminha, tipo hai-k
ai, que expressa muitas coisas. A vida é cheia de bielas e, no entanto, temos que viajar. E lá vai o poeminha:
“Meu conceito de jardim
determina
o que é praga ao redor de mim”.
Pois lá ia eu a Tiradentes, creio que em 1962 (já havia biela naquele tempo). Se você olhar na internet vai descobrir que biela é toda peça de uma máquina “que serve para transmitir ou transformar o movimento retilíneo alternativo em circular contínuo”. Entendeu? Mas o fato é que lá íamos nós: Ivan Ângelo, Maria Ângela, Fernando Gabeira e Marília, Frederico de Morais e Vilma, eu e Nena, lá íamos, com mais uns amigos e vários carros, a Tiradentes. Nada era asfaltado, creio que levamos umas cinco ou seis horas…
E o pior: houve o episódio da biela, relatado também por Gabeira na sua autobiografia. Saindo de BH, minha Vemaguete parou. De repente. Um chofer de caminhão veio ajudar e afirmou categórico: “É a biela!”. E foi embora. Desolado, 15 minutos depois tentei religar o carro. Não era a biela. O carro simplesmente estava afogado.
Voltei uma vez mais a Tiradentes nesta semana. Dizem que tem 6 mil habitantes e 30 mil visitantes no Festival Gastronômico. No tempo da biela, as portas e janelas estavam todas fechadas, não havia vivalma nas ruas. Só fantasmas. Juro que cruzei com a alma de Tiradentes com uma corda no pescoço.
Agora, Tiradentes é só festa. Fui parar lá por obra e graça de amigos que acreditam na música e poesia. A culpa é de Luciana e Carlos Perktold – ela paisagista e decoradora, ele psicanalista e colecionador de obras de arte. Outra culpada é Zenilca Navarro, do Tragaluz, nossas mães já eram amigas. Há tempos me surpreendi sabendo que Zenilca cuidava da divulgação do grupo Corpo e agora, nova surpresa ao ver o esplêndido restaurante que ela (e sua parentela) montou em Tiradentes.
E tem a Elisa Freixo. Na hora que cheguei a Tiradentes ela dava um concerto de órgão na Matriz de Santo Antônio. Aquele ciclópico instrumento, com seus 680 tubos, que veio da Europa para as montanhas de Minas ainda no século 18. A essas horas, Elisa está na Alemanha com um grupo de felizardos, percorrendo uma vez mais os caminhos de Bach, com outro organista, o belga Jean Ferrard. Pois a Elisa, essa paulista que pousou em Minas por amor ao barroco e aos órgãos, achou que seria interessante que fizéssemos um concerto de cravo e poesia. Assim, ela dava uma no cravo… e eu na ferradura. Já havíamos feito umas experiências desconcertantes na Serra do Cipó e no Museu do Oratório, em Ouro Preto.
Há muito tento me acercar da música, mas quem sou eu, sem ouvido absoluto, absolutamente inepto para instrumentos musicais. Vou revelar: um dia, tentando aprender violão, a professora me disse assustada: “Engraçado, você está fazendo tudo certo, só que ao contrário…”.
Desisti dos instrumentos, apesar de ter cantado no inesquecível Madrigal Renascentista e ter feito uma ou outra música com Fagner, Martinho da Vila e Rildo Hora.
Estar em Minas. Na Minas profunda. Ser em Minas. Visitar o futuro Museu de Sant’Ana, que a industriosa Ângela Gutierrez logrou levar para Tiradentes. Ali era uma cadeia para homens e mulheres. Agora, vai reinar Sant’Ana, a avó de Jesus. Como dizia aquela música que o Simão Lacerda cantava:
“Sant’Ana é a maior santa que tenho visto,
Sant’Ana é a mãe de Deus,
Sant’Ana é a vó de Cristo!”.
E, de repente, estamos no jardim do Tragaluz ouvindo música e poesia. E quando me falaram de certas dificuldades encontradas para levar a arte a Tiradentes, estando num jardim, lembrei-me de um poeminha, tipo hai-k
ai, que expressa muitas coisas. A vida é cheia de bielas e, no entanto, temos que viajar. E lá vai o poeminha:
“Meu conceito de jardim
determina
o que é praga ao redor de mim”.
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