Antecipando as
homenagens programadas para outubro, em Belo Horizonte, pelos 90 anos de
Fernando Sabino, segundo anunciou Ana Clara Brant em matéria publicada
no Estado de Minas, estive no Sesc Contagem na companhia de Bernardo
Sabino, grande divulgador da obra do pai, e do jornalista Humberto
Werneck. Durante uma feira de livros, participamos de debate cujo tema
era a vida e a obra do autor de Encontro marcado. Em algumas ocasiões,
tive o privilégio de estar com ele, boa-praça e contador de histórias.
Certa vez, na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, dividimos mesa com o escritor Roberto Drummond. Antes de começar a palestra, que reuniu plateia atenta, da qual faziam parte o jornalista Luiz Fernando Emediato, o cineasta Paulo Thiago e Marcelo Andrade, coordenador do evento e então secretário de Cultura de Viçosa, Roberto, tão mineiro quanto Sabino, chamou-me de lado. Segurou meu braço, deu um sorriso maroto e disse, propondo um pacto: “Você fala primeiro, depois entro na conversa. Se deixarmos o Fernando pegar o microfone no início, estamos perdidos”.
Não deu outra: assim que Fernando Sabino, o grande astro do encontro, começou a falar, o encantamento foi geral. Contou sobre os primeiros tempos em Belo Horizonte. Discorreu sobre os amores clandestinos, vividos na juventude. Deu detalhes da amizade com Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino. Revelou como começou a escrever. Lembrou as dezenas de viagens que fez mundo afora, muitas delas documentadas em livros. Enfim, naquela fria noite de São Paulo, o escritor falou sobre a vida.
Se conto tudo isso é para dizer também que, terminado aquele evento, saímos para jantar. Já não me lembro do restaurante. Entre um chope e outro, Paulo Thiago, mineiro de Aimorés, virou-se para mim (eu estava sentado ao lado de Fernando Sabino) e disse: “Há mais de 30 anos tenho vontade de fazer um filme baseado no poema “Caso do vestido”, de Carlos Drummond de Andrade, e gostaria que você escrevesse o argumento. Li alguns de seus livros, queria fazer essa parceria com você”.
Nem é preciso dizer do susto que tomei. Imagine, logo eu, um modesto escrevinhador de quimeras, para também lembrar Roberto Drummond, mexer no texto do poeta maior?. “Não posso fazer isso, Paulo, gostaria, mas não posso” – foi a minha primeira reação. Fernando Sabino, que até aquele instante ouvia a conversa em silêncio, voltou-se para mim, sorriu e disse: “Pode sim, Herculano. Além do mais, você vai ganhar um dinheirinho, o que não faz mal a ninguém”. Em seguida, propôs um brinde.
Encorajado pelo mestre, tive a audácia de transformar “Caso do vestido”, um dos mais belos poemas de Carlos Drummond de Andrade, no meu quarto romance, O vestido. Publicado pela Geração Editorial, de Luiz Fernando Emediato, o livro, sob as bençãos de Fernando Sabino, acabou sendo filmado por Paulo Thiago, tendo no elenco estrelas do primeiro time como Gabriela Duarte e Ana Beatriz Nogueira.
Se no Sesc Contagem acabei não contando essa história, ela vai agora como pequena homenagem aos 90 anos de Sabino. À altura de seu merecimento, eles serão bem lembrados em Minas.
>> carloslopes.mg@diariosassociados.com.br
Certa vez, na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, dividimos mesa com o escritor Roberto Drummond. Antes de começar a palestra, que reuniu plateia atenta, da qual faziam parte o jornalista Luiz Fernando Emediato, o cineasta Paulo Thiago e Marcelo Andrade, coordenador do evento e então secretário de Cultura de Viçosa, Roberto, tão mineiro quanto Sabino, chamou-me de lado. Segurou meu braço, deu um sorriso maroto e disse, propondo um pacto: “Você fala primeiro, depois entro na conversa. Se deixarmos o Fernando pegar o microfone no início, estamos perdidos”.
Não deu outra: assim que Fernando Sabino, o grande astro do encontro, começou a falar, o encantamento foi geral. Contou sobre os primeiros tempos em Belo Horizonte. Discorreu sobre os amores clandestinos, vividos na juventude. Deu detalhes da amizade com Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino. Revelou como começou a escrever. Lembrou as dezenas de viagens que fez mundo afora, muitas delas documentadas em livros. Enfim, naquela fria noite de São Paulo, o escritor falou sobre a vida.
Se conto tudo isso é para dizer também que, terminado aquele evento, saímos para jantar. Já não me lembro do restaurante. Entre um chope e outro, Paulo Thiago, mineiro de Aimorés, virou-se para mim (eu estava sentado ao lado de Fernando Sabino) e disse: “Há mais de 30 anos tenho vontade de fazer um filme baseado no poema “Caso do vestido”, de Carlos Drummond de Andrade, e gostaria que você escrevesse o argumento. Li alguns de seus livros, queria fazer essa parceria com você”.
Nem é preciso dizer do susto que tomei. Imagine, logo eu, um modesto escrevinhador de quimeras, para também lembrar Roberto Drummond, mexer no texto do poeta maior?. “Não posso fazer isso, Paulo, gostaria, mas não posso” – foi a minha primeira reação. Fernando Sabino, que até aquele instante ouvia a conversa em silêncio, voltou-se para mim, sorriu e disse: “Pode sim, Herculano. Além do mais, você vai ganhar um dinheirinho, o que não faz mal a ninguém”. Em seguida, propôs um brinde.
Encorajado pelo mestre, tive a audácia de transformar “Caso do vestido”, um dos mais belos poemas de Carlos Drummond de Andrade, no meu quarto romance, O vestido. Publicado pela Geração Editorial, de Luiz Fernando Emediato, o livro, sob as bençãos de Fernando Sabino, acabou sendo filmado por Paulo Thiago, tendo no elenco estrelas do primeiro time como Gabriela Duarte e Ana Beatriz Nogueira.
Se no Sesc Contagem acabei não contando essa história, ela vai agora como pequena homenagem aos 90 anos de Sabino. À altura de seu merecimento, eles serão bem lembrados em Minas.
>> carloslopes.mg@diariosassociados.com.br
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