O Estado de S.Paulo - 29/09/2013
Homem e mulher na cama.
– Foi bom? – Foi. – Muito bom ou só bom?
– Francamente, eu...– Está bem, está bem. Me dá uma nota. De zero a 10, que nota você me dá?
– Sete. – Sete?!
–Você quer que eu minta, Haroldo? Estou sendo franca. Você me pediu uma...
– Peraí. Que foi que você disse?
– Eu disse que estava sendo franca.
–Não, antes. Você disse: “Você quer que eu minta, Haroldo”.
– É. – O meu nome não é Haroldo!
–Não é? – Grande. Você me confundiu com outro. –Se você não é o Haroldo, então quem é?
– E eu vou dizer? Com nota sete, eu vou dizer quem eu sou?
– Mas...–Vamos de novo. Apaga a luz. Pelo Haroldo!
Disfarça, Disfarça
Dois homens tramando um assalto.
– Valeu, mermão? Tu traz o berro que nóis vamo rendê o caixa bonitinho. Engrossou, enche o cara de chumbo. Pra arejá.
– Podes crê. Servicinho manero. É só entrá e pegá.
– Tá com a máquina aí? – Tá na mão.
Aparece um guarda.
– Ih, sujou. Disfarça, disfarça... O guarda se aproxima deles.
– Discordo terminantemente. O imperativo categórico de Hegel chega a Marx diluído pela fenomenologia de Feurbach.
– Pelo amor de Deus! Isso é o mesmo que dizer que Kierkegaard não
passa de um Kant com algumas sílabas a mais. Ou que os iluministas do
século dezoito...
O guarda se afasta. – O berro, tá recheado? – Tá. – Então vamlá!
Para o maridinho
– Meu bem...Você está deslumbrante!
– Tudo para você, querido.
– Esse penteado...
– Fui a cabelereiro e pedi um corte novo para o meu maridinho me
achar desejável. Fui ao maquiador e pedi que me deixasse sexy para
atrair meu maridinho. Comprei esta camisola provocante para enlouquecer
você.
– E conseguiu, meu amor. Você está...
– Não me toca senão estraga tudo!
Cada coisa
Rubenval tinha um lema: confidência em salão de beleza é sagrado.
Segredos ditos a um cabeleireiro eram mais invioláveis do que os
segredos do confessionário. Os ouvidos de um padre eram apenas os
receptores de Deus, para quem os fiéis se confessavam diretamente. Trair
uma confidência de confessionário seria como grampear o telefone de
Deus. Rubenval não sabia exatamente com que entidade superior a pessoa
falava quando falava com seu cabeleireiro, só sabia que merecia o mesmo
respeito. E olha que ele ouvia cada coisa...
– Que coisas, Ru? Conta. – Jamais!
Mas Rubenval começou a ficar nervoso depois que seu salão virou,
como ele diz, unisexi. Rubenval não sabia o que era confidência
escandalosa até começar a fazer cabelo de homem também. Eram
inimagináveis, as coisas que ouvia fazendo “boufands” em políticos e
mechas em líderes empresariais. Os homens, muito mais do que as
mulheres, pareciam perder toda a discrição depois de um xampu. Rubenval
não se sente a vontade, com tanta informação acumulada e está até com um
problema na pele, de tanta tensão.
– O que eles dizem, Ru? Dá uma amostra.
– O quê? Eu, derrubar a República?
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