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Diretor carioca investe na produção autoral e conquista espaço
Diretor carioca investe na produção autoral e conquista espaço
Ailton Magioli
Estado de Minas: 29/09/2013
A máxima glauberiana de “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” permanece, porém, a nova geração acrescenta à ideia sessentista item indispensável para fazer cinema no Brasil, atualmente: “Um grupo de amigos”. A constatação é de Bruno Safadi, de 33 anos, carioca do Leblon radicado há um ano no Bairro Serra, em Belo Horizonte.
“Para nós, o cinema não é evento, mas trabalho cotidiano”, afirma o jovem diretor, que está realizando quatro longas. Além de O uivo da gaita, que dirigiu e está sendo lançado no Festival Rio 2013, estão na lista Éden, com o qual vem percorrendo vários festivais; um filme ainda sem título, em fase de montagem; e Lilith, cujo roteiro será desenvolvido na Holanda. Bruno embarca amanhã para Amsterdã, onde trabalhará no conceituado Binger Filmlab, auxiliado por orientadores. Único latino-americano a ter projeto selecionado para o laboratório, durante cinco meses ele se dedicará à história do mito da primeira mulher da Terra.
Acompanhado da esposa, Luiza Horta, e do filho, Inácio, de sete meses, Bruno desembarca na Holanda fiel à forte ligação que mantém com o cinema autoral. Adepto da ideia de fazer um “cinema vida”, ele participará da 43ª edição do Festival Internacional de Roterdã, também na Holanda, de 22 de janeiro a 2 de fevereiro de 2014. Tanto Éden quanto O uivo da gaita serão exibidos na mostra Spectrum. “Trata-se do principal encontro de produção internacional de cinema do mundo”, festeja o diretor carioca.
Bruno Safadi vem chamando a atenção também pela chamada Operação Sonia Silk, projeto que o uniu ao diretor Ricardo Pretti e às atrizes Leandra Leal e Mariana Ximenes. Eles criaram, em duas semanas, três longas: as ficções O uivo da gaita, de Bruno, e O Rio nos pertence, de Ricardo, além do documentário Meta mancia, ainda em processo de finalização.
O projeto se inspira no imaginário dos filmes realizados nos anos1970 pela produtora Belair, dos diretores Júlio Bressane e Rogério Sganzerla, que fizeram seis longas em seis meses, um dos quais Copacabana mon amour, de Sganzerla, em que a prostituta Sonia Silk (Helena Ignez) circula pelo famoso bairro carioca enquanto sonha ser cantora da Rádio Nacional.
Experimentação
A proposta é fazer do projeto uma cooperativa criativa de cinema, com liberdade para realizar investigações de linguagem e experimentar o diálogo com diferentes gêneros. “Nossa fonte de inspiração é Sganzerla, para quem ‘a amizade é a matéria-prima de qualquer cinema de envergadura’”, diz o carioca.
A ligação de Bruno com Minas começou por Tiradentes, onde ele passava férias na casa da família Pitta. Paralelamente, começou a participar da Mostra de Cinema de Tiradentes. Depois, ganhou o Prêmio Cine-BH de coprodução internacional, com o projeto do longa Éden, de 2011.
Assistente de direção de seis filmes de Júlio Bressane, em 2009, ele dirigiu com Noa Bressane o longa Belair, que, depois de passar pelo Festival de Roterdã, foi vendido para a emissora de TV italiana RAI, gerando retrospectivas de cinema brasileiro em Portugal, Chile e Argentina. No mesmo período, trabalhou com Nelson Pereira dos Santos (Brasília 18º) e Ivan Cardoso (O sarcófago macabro).
Laços estreitos com a música
Qualquer decisão artística tem consequência direta no orçamento de um filme e vice-versa, constata Bruno Safadi, para quem a questão financeira (orçamento) é matéria sensível no cinema. “Como diretor é necessário centrar esforços, já que nunca há dinheiro para tudo”, prega ele, que se identifica com o cinema feito atualmente em Minas por Thiago Mata Machado, Sérgio Borges, Clarissa Campolina, Helvécio Marins Júnior e Afonso Uchoa. As cinematografias pernambucana, carioca e cearense também vêm chamando a atenção de Bruno, que acaba de atuar em Educação sentimental, do mestre Júlio Bressane, no qual se torna protagonista, na última meia hora.
Depois de dirigir um show de Mariana de Moraes e videoclipes da cantora Lila, Bruno Safadi filmou uma série de espetáculos (de Tulipa Ruiz, Céu, Cidadão Instigado etc.) para Leandra Leal, então diretora de programação do Teatro Rival, cujo destino ainda não está definido. Para ter uma ideia da ligação do diretor com a música, basta lembrar que em O uivo da gaita há apenas dois diálogos além da canção (concreta, contemporânea) de Guilherme Vaz. Mais recentemente, o diretor registrou, ao lado do parceiro de produtora Ricardo Pretti, o show Toninho Horta & as cores do Clube, que ele pretende transformar em DVD.
FALA, BRUNO!
» DIRETOR
“Júlio Bressane. Ele é o cineasta mais jovem em atividade no país. Com mais de 30 longas, mantém-se fiel a seus princípios e nunca fez concessões, além de receber pouco apoio oficial.”
» FILME
“Sem essa, Aranha, de Rogério Sganzerla. É um filme da Belair, superpopular e, ao mesmo tempo, muito sofisticado. Um dos maiores exemplos de dualidades colocadas em campos opostos. No filme, elas se convergem em arte e popularidade.”
» ATOR
“Charles Chaplin. Trata-se de um inventor do cinema, tanto mudo quanto falado. Ele revolucionou o cinema e as formas de atuar e dirigir.”
» ATRIZ
“Helena Ignez. Para mim, ela foi a grande atriz do cinema brasileiro novo e marginal, no qual permanece até hoje. Helena, que foi mulher de Glauber e Sganzerla, continua jovem.”
» FESTIVAL
“Roterdã, na Holanda. É a meca mundial do cinema de autor.”
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