domingo, 29 de setembro de 2013

Tereza Cruvinel - Água corrente‏

Dilma recupera popularidade e intenção de votos, ajudada por iniciativas como o Mais Médicos e a reação à espionagem



Tereza Cruvinel

Estado de Minas: 29/09/2013 



A virada setembro-outubro, com o fim do prazo de filiações partidárias, vem trazendo definições importantes para a disputa eleitoral do ano que vem, especialmente para a sucessão presidencial. Depois da ruptura de Eduardo Campos e seu PSB com o governo e o PT, saberemos esta semana se Marina Silva viabilizará a Rede, e, em caso negativo, se será ou não candidata por outra sigla. Mas foi para a presidente Dilma que vieram mudanças alvissareiras, tanto na economia quanto na aprovação do seu governo e no desempenho eleitoral. E para completar, conforme se pode ler na entrevista que o Estado de Minas publica hoje, ela terá o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no papel de "grande eleitor", engajado em sua campanha, em plena forma física e política. Se não estivesse com a autoconfiança elevada, Dilma não teria voltado a tuitar nem estaria abrindo página no Facebook.

Segundo a pesquisa Ibope/Estadão, Dilma teve um crescimento eleitoral de 30% em julho para 38%, ao passo que sua principal concorrente, Marina Silva, caiu de 22% para 16% no mesmo intervalo de tempo. Talvez a queda de Marina seja reflexo dos problemas que vem enfrentando para viabilizar a Rede. Seja qual for a causa da queda, ela ainda é dona do segundo maior quinhão de votos, o que aumenta a importância da decisão que tomará se, para concorrer, tiver que rever o que disse e adotar um plano B, filiando-se a outra legenda. Se não for candidata, para onde vão seus votos? Ainda segundo a pesquisa, Aécio Neves, do PSDB, oscilou negativamente de 13% para 11%, assim como Eduardo Campos, de 5% para 4%. Dilma cresceu oito pontos enquanto os outros, juntos, perderam nove, o que sugere ter havido movimentações dentro do campo de eleitores que mudaram de posição no auge das manifestações de junho. Se for assim, Dilma estará recuperando eleitores perdidos, restando ainda a mesma massa de indefinidos, que só pensará em eleição mais adiante. Em todos os cenários, haveria segundo turno e ela ganharia.

O vento soprou a favor dela também na aprovação a seu governo, segundo a pesquisa CNI/Ibope. Num claro paralelismo com a pesquisa eleitoral, esta outra mostrou um crescimento de seis pontos na aprovação ao governo, que passou de 31% em julho para 37% agora. Nas avaliações do Planalto, o índice já estaria na casa dos 40% e a expectativa é de que Dilma vire o ano mais próxima dos 50%. Ela tinha 55% de aprovação quando eclodiram os protestos de junho, que derrubaram o indicador para 31%. No quesito confiança, ela ultrapassou a barreira dos 50%. Entretanto, o governo tem alta reprovação nas áreas de educação (65%), saúde (77%) e segurança (74%), exatamente as que foram criticadas pelos manifestantes de junho.

Tuitando na sexta-feira, Dilma rebateu a revista The Economist, dizendo que a inflação recuou, o dólar se estabilizou e o Brasil vive rara situação de pleno emprego. De fato, os sinais melhoram também na economia, embora na pesquisa CNI/Ibope a avaliação das política econômica tenha sido baixa: 68% desaprovam o combate à inflação. A Pnad 2012, divulgada na sexta-feira, trouxe notícias boas, como o crescimento da renda do trabalho em 5,8%, e outras ruins, como uma freada na redução da desigualdade e na queda do analfabetismo. Mas o nível de emprego é o que mais segura ou derruba o prestígio de um governo, e segue estável, com aumento em alguns setores, como a construção civil.

No mais, Dilma faturou com a reação madura mas enérgica à espionagem americana e com o Programa Mais Médicos. Segue, entretanto, deixando a política eleitoral e, especialmente, a costura das alianças em segundo plano. E, daqui para a frente, depois dos alinhamentos partidários definitivos agora ocorridos, o assunto entra para valer na pauta pré-eleitoral. Eduardo Campos teve perdas com sua decisão e agora correrá atrás de aliados. Como já faz Aécio, reatando o noivado com o DEM.


O grande eleitor

Lula diz que vai "ajudar como puder" na campanha de Dilma, mas o que ela, ou pelo menos seus auxiliares, espera dele é muito mais que uma "mãozinha". A presidente, lembra um de seus ministros, vai ter que governar. Por força da lei, só poderá fazer campanha fora do expediente. Ou seja, à noite ou nos fins de semana. E quem cruzará o país, fazendo comícios em série, às vezes mais de um por dia? Ora, o Lula, diz ele.

Para os adversários, que dele esperavam atuação mais discreta, a notícia não é boa. Dilma precisará menos de Lula em 2014 do que precisou em 2010, quando era completamente verde em matéria de campanha e absolutamente desconhecida do Brasil grande e profundo. Mas, por isso mesmo, o jogo será pesado, reunindo o que ela tem de capital eleitoral próprio com toda a força mítica do ex-presidente.


Arrumar o governo

Este ano, salvo imprevistos, a presidente Dilma só mudará o ministro Fernando Bezerra, por conta do desembarque do governador Eduardo Campos e seu PSB. Fará média com o PMDB, entregando a pasta ao senador Vital do Rêgo. Mas, para começar o ano, ela antecipará a saída dos ministros que vão disputar mandatos e teriam de sair em abril. Poderá trocar de 13 a 15 ministros.

Um caso especial, o do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que tem hoje dois destinos à sua espera. Ou vai para a Casa Civil, substituir Gleisi Hoffmann, que será candidata a governadora do Paraná, ou coordenará a campanha de Dilma. Deve ser substituído pelo dinâmico secretário executivo Henrique Paim.

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