Walter Sebastião
Estado de Minas: 25/10/2013
Estreia hoje, no Cine 104, filme que vem ganhando reverências: O que se move, de Caetano Gotardo. O motivo de todo o rumor é a sensibilidade do diretor para tratar dos dramas de três famílias que precisam lidar com mudanças súbitas em suas vidas. Quem narra as histórias, todas inspiradas em noticiários, são três mães: Maria Júlia (Cida Moreira), Silvia (Andréa Marquee) e Ana (Fernanda Vianna). As interpretações do trio têm sido elogiadíssimas e conquistaram prêmios para a produção. Cida Moreira levou o prêmio de atriz no Lakino Film Festival, em Berlim, este ano – a obra faturou no mesmo evento o troféu de melhor filme. A mineira Fernanda Vianna foi a melhor atriz no Festival de Gramado (2012) e na Mostra Brasil-Itália-Mundo, realizada em Fortaleza este ano.
O nome da mineira pode até ser pouco conhecido. O mesmo não vale para o papel que Fernanda Vianna vem fazendo desde 1996: ela é a doce e delicada Julieta do antológico Romeu e Julieta, do grupo Galpão – personagem confiada a ela por Gabriel Vilella, diretor do espetáculo. A atriz integra a companhia desde 1995. Tem sido recorrente a presença dela nas telas: está em Outras estórias, de Pedro Bial; Vinho de rosas e O crime da atriz, de Elza Cataldo; 5 frações de uma quase história, da produtora Camisa Listrada; e Moscou, de Eduardo Coutinho. O vídeo Toda hora é hora (1999) também rendeu a Fernanda o prêmio de atriz no Festival de Fortaleza. O começo nas artes cênicas foi como bailarina, em 1981, no Transforma. Além de passar pelo Primeiro Ato, foi dirigida por Dudude Hermann, Eid Ribeiro e Paulinho Polika, entre outros.
“Cada experiência é uma, cada diretor é um e cada uma das artes tem o seu prazer e os seus desafios. TV é rápida, no cinema o ator tem mais conforto. O Galpão é meu grupo especial, mas tudo que fazemos acrescenta para nós atores”, conta Fernanda Vianna, torcendo para que o namoro com o cinema continue alimentando paixão dos dois lados. “O cinema capta o frescor da interpretação”, observa. Durante muito tempo ela sentiu algum pânico por não ter chance de refazer as cenas. “No teatro a gente repete, repete, até chegar ao que queremos.” Considera que sua interpretação em O que se move está no ponto certo, em especial na cena em que canta. “Cheguei aonde queria. Aprendi a cantar pelo fato de o Galpão ter a música como instrumento de interpretação”, conta.
“O que mais gosto em O que se move é da delicadeza. São tragédias, mas o que está na tela são os sentimentos, e isso torna o filme muito humano”, acrescenta, explicando que, na produção, não há sensacionalismo, melodramas, procura por vítimas, culpados ou denúncias. “Quando voltei para casa, disse a meu filho que ia dividir o prêmio com ele”, brinca, contando que ser mãe de três filhos a ajudou na interpretação “de amor incondicional e generoso”. “É um filme bem cuidado em todos os aspectos: fotografia lindíssima, roteiro coerente, boa música e bons diálogos – e sem bons diálogos nós atores não somos nada”, acrescenta Fernanda Vianna.
Caetano Gotardo, conta a atriz, é um diretor seguro, tranquilo, sem arrogância, que sabe o que quer e com muita sensibilidade para dirigir atores. O perfil do diretor, ela explica, foi muito importante para o trabalho. Cinema, recorda, não se faz sozinho, cobra pré-produção longa e filmagens em pouco tempo, “a conta diária é cara”, afirma. “Se o diretor se desespera, é desespero para todo mundo”, garante. “Foi o set da delicadeza e isso acabou impresso no filme”, garante.
“Estou ficando craque em interpretar mães”
Fernanda Vianna faz o papel de Ana em O que se move. A personagem foi inspirada em caso que comoveu o Brasil: a mãe que encontra já adolescente o filho sequestrado poucas horas depois de nascer. “É um personagem com milhares de camadas, que vive um turbilhão de sentimentos, o que é bom para o ator”, observa. A personagem experimenta por um lado a perda irreparável de não ter visto o filho crescer e de saber que ele teve como mãe a sua sequestradora. E, por outro, a alegria de encontrá-lo vivo. “Estou ficando craque em interpretar mães”, brinca. Em Vinho de rosas, de Elza Cataldo, é a mãe da filha de Tiradentes, e em Meu pé de laranja lima, de Marcos Bernstein, dos garotos da história. Voltará à TV em breve, depois de ter feito Hoje é dia de Maria, de Luiz Fernando Carvalho, mas não pode adiantar nada sobre o projeto.
Sessão comentada Caetano Gotardo, diretor de O que se move, participa de sessão comentada do filme, depois da exibição das 20h30 de sábado. O diretor é integrante do coletivo Caixote, que abriga também os diretores Marcos Dutra, Juliana Rojas, João Marcos de Almeida e Sérgio Silva. O grupo tem como prática a contribuição de um ao filme do outro, atuando em várias funções. Marcos Dutra, que fez a música de O que se move, por exemplo, é codiretor com Juliana Rojas de Trabalhar cansa (2011), cuja estreia ocorreu na mostra Un Certain Regard, seção do Festival de Cannes (França) dedicada a independentes e produções mais autorais, além de ter ganho prêmio nos festivais de Paulínia e Brasília. “Deixou-me muito feliz estar em filmes que não são de um realizador só, mas produto de corrente de nova geração que sonha com um cinema novo”, conta Fernanda Vianna.
Fernanda Vianna não esconde sua admiração por Emma Thompson, Cate Blanchett e Hellen Mirren. “Atores ingleses têm 500 anos de teatro na veia. Nem parecem atores, mas vizinhos nossos”, elogia. Também gosta muito da norte-americana Meryl Streep. “Como as inglesas, é atriz que consegue, ao fazer qualquer personagem, alcançar ampla gama de sentimentos”, observa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário