terça-feira, 8 de outubro de 2013

MARIA ESTHER MACIEL » Tarde de chuva‏

Sob os efeitos da primavera, a praça estava exuberante com seus ipês, palmeiras e canteiros de flores





Estado de Minas: 08/10/2013 



Na semana passada, estive no Circuito Cultural da Praça da Liberdade, o mais novo espaço de cultura de Belo Horizonte. Pude ver, ao vivo, como a praça se tornou ponto de confluência de vários museus, centros de exposição, arquivos públicos e outros lugares de preservação e divulgação das artes e da cultura – os quais agora ocupam os belos prédios que, até pouco tempo, sediavam setores da administração pública do estado de Minas Gerais.

Sob os efeitos da primavera, a praça estava exuberante com seus ipês, palmeiras e canteiros de flores. Mesmo com a chuva repentina no final da tarde, trazendo caos ao trânsito do entorno, foi bom percorrê-la sem pressa e sentir sua vitalidade em cada detalhe. O prédio do recém-inaugurado Centro Cultural do Banco do Brasil anunciava uma exposição instigante, intitulada Elles – Mulheres artistas na coleção do Centro Pompidou (que ficará por lá até dia 21), além de uma mostra multimídia em homenagem aos 90 anos do escritor mineiro Fernando Sabino. Outros prédios capturaram meu olhar, não apenas pelo que representam em matéria de arquitetura, mas também pelo que passaram a oferecer a quem gosta de arte, memória e cultura. Entre eles, o próprio Palácio da Liberdade, agora aberto à visitação pública. Tudo isso me fez ver na praça um espaço múltiplo (e único) que atesta – em grande estilo – o crescimento cultural de Belo Horizonte. Um lugar ideal para passear no fim de semana.


Não foi fácil encontrar um táxi disponível e voltar para casa naquele final de tarde chuvoso. Mas valeu a pena ter me molhado um pouco (mesmo com guarda-chuva) depois de percorrer a praça e seus espaços artísticos. Minha sensação foi de que viver em Belo Horizonte – apesar das dificuldades próprias de uma grande cidade brasileira – tem se tornado uma experiência mais gratificante nos últimos anos, pelo menos em termos culturais.


Quando finalmente cheguei em casa, troquei de roupa, sequei o cabelo e fui consultar meus e-mails no escritório. Entre as mensagens recebidas estava a de uma querida leitora desta coluna, que me fez desviar da imagem da praça e cair no riso. Não tinha nada a ver com a experiência do dia, mas vale assim mesmo uma referência. Era uma divertida lista das doenças brasileiras que vão dar muita dor de cabeça nos médicos estrangeiros. Alguns exemplos: “espinhela caída”, “quebranto”, “nariz escorrendo”, “tosse de cachorro”, “cobreiro”, “dor nas cadeiras”, “vento caído”, “estambo embrulhado”, “pereba”, “sapinho”, “moleira mole”, “nó nas tripas”, entre várias outras. Aulas de português não serão de muita valia, nesse caso, para os doutores. Tampouco serão os glossários dos livros de medicina. Espero que os médicos estrangeiros não fiquem com os “nervos torcidos” depois de alguns meses no Brasil.


Mas voltando à tarde de chuva da semana passada, termino por dizer que as imagens vistas na praça ocuparam novamente os meus olhos, logo após o riso provocado pela lista. Só torci para não ter contraído nenhum resfriado, que no Nordeste é também chamado de “infruço” – palavra inexistente nos dicionários cultos de nossa língua.  

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