Em julho, no Rio, os assaltos a pedestres aumentaram entre 83%, e 91% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Minha bela e jovem amiga, grávida do primeiro filho, está radiante, olhos brilhando de expectativa. Pergunto se vai fazer parto natural, me responde que não, cesárea. Algum problema?, pergunto surpresa, já que é visivelmente saudável. Problema nenhum. É que seu obstetra, o melhor da cidade onde mora, avisou desde o início que não faz partos naturais, desorganizaria demais a sua agenda. “E – ela acrescenta – ainda não contei para o meu marido, que vai ficar uma fera, mas apesar de o meu plano de saúde ser completíssimo, o doutor me avisou que cobra por fora. E não é pouco.”
Vinha o escritor Luiz Ruffato viajando de carro com motorista em longa viagem quando, ao chegar perto de uma cidade de praia onde poderiam fazer um pit stop, o do volante pediu autorização para seguir adiante. Se o passageiro não se incomodasse, parariam na próxima. “Odeio essa cidade!”, acrescentou entre dentes. Surpreso, Ruffato perguntou a razão de tanto ressentimento. “É que roubaram a minha casa”, respondeu o outro. “Ora, – contemporizou Ruffato – todo mundo já teve casa roubada. Eu próprio...” e contou um episódio qualquer de furto doméstico.
“O senhor não entendeu – retomou o chofer – tinha uma casa aí, de fins de semana, férias. Passei uns tempos sem poder vir, muito trabalho. Quando afinal consegui, cheguei na rua, olhei, não vi a minha casa, achei que tinha errado de rua, já ia me virando para voltar, reparei que as casas dos vizinhos continuavam todas ali, certinhas. Só a minha tinha sumido, no lugar dela um vazio. Cheguei mais perto, as marcas estavam lá. Os caras tinham arrancado minha casa do chão, uma casinha de madeira, e levado embora, com tudo o que tinha dentro.” Fez uma pausa. “Nesta cidade não piso mais”.
Num tempo anterior ao boom imobiliário do Recreio dos Bandeirantes, no Rio, anterior à emergência selvagem que em breve povoaria a Barra e a encheria de shoppings, num tempo em que ainda acreditávamos na plena eficácia do plano Lúcio Costa para a ocupação daquela área, Affonso e eu, recém-casados, compramos um terreno de 500 metros quadrados num loteamento no Recreio, pensando que construiríamos ali, perto do mar, o lar onde criar os filhos que ainda não tínhamos, mas certamente teríamos. Assinado o contrato, tratamos de providenciar as árvores que viriam sombrear nossa família e que cresceriam enquanto juntávamos dinheiro para a construção. Fomos a um horto, escolhemos uma meia dúzia de mudas de casuarinas já crescidinhas. E porque o solo da nossa nova propriedade era areia pura, compramos também metros cúbicos de terra preta, fértil. Contratado um funcionário do horto para abrir grandes covas, preenchê-las com aquela terra bíblica, e ali plantar as mudas, fomos com ele até o terreno marcar os lugares exatos, já pensando em paredes. Voltamos ainda outro dia para ver as mudas plantadas, e regressamos a Ipanema.
Como o motorista da história anterior, demoramos um tempo para novamente ir ao nosso terreno controlar o crescimento das casuarinas. Mas ao chegar não encontramos crescimento, nem casuarinas, nem terra fértil. Só fundas covas vazias marcavam na areia os pontos do nosso desejo.
Minha bela e jovem amiga, grávida do primeiro filho, está radiante, olhos brilhando de expectativa. Pergunto se vai fazer parto natural, me responde que não, cesárea. Algum problema?, pergunto surpresa, já que é visivelmente saudável. Problema nenhum. É que seu obstetra, o melhor da cidade onde mora, avisou desde o início que não faz partos naturais, desorganizaria demais a sua agenda. “E – ela acrescenta – ainda não contei para o meu marido, que vai ficar uma fera, mas apesar de o meu plano de saúde ser completíssimo, o doutor me avisou que cobra por fora. E não é pouco.”
Vinha o escritor Luiz Ruffato viajando de carro com motorista em longa viagem quando, ao chegar perto de uma cidade de praia onde poderiam fazer um pit stop, o do volante pediu autorização para seguir adiante. Se o passageiro não se incomodasse, parariam na próxima. “Odeio essa cidade!”, acrescentou entre dentes. Surpreso, Ruffato perguntou a razão de tanto ressentimento. “É que roubaram a minha casa”, respondeu o outro. “Ora, – contemporizou Ruffato – todo mundo já teve casa roubada. Eu próprio...” e contou um episódio qualquer de furto doméstico.
“O senhor não entendeu – retomou o chofer – tinha uma casa aí, de fins de semana, férias. Passei uns tempos sem poder vir, muito trabalho. Quando afinal consegui, cheguei na rua, olhei, não vi a minha casa, achei que tinha errado de rua, já ia me virando para voltar, reparei que as casas dos vizinhos continuavam todas ali, certinhas. Só a minha tinha sumido, no lugar dela um vazio. Cheguei mais perto, as marcas estavam lá. Os caras tinham arrancado minha casa do chão, uma casinha de madeira, e levado embora, com tudo o que tinha dentro.” Fez uma pausa. “Nesta cidade não piso mais”.
Num tempo anterior ao boom imobiliário do Recreio dos Bandeirantes, no Rio, anterior à emergência selvagem que em breve povoaria a Barra e a encheria de shoppings, num tempo em que ainda acreditávamos na plena eficácia do plano Lúcio Costa para a ocupação daquela área, Affonso e eu, recém-casados, compramos um terreno de 500 metros quadrados num loteamento no Recreio, pensando que construiríamos ali, perto do mar, o lar onde criar os filhos que ainda não tínhamos, mas certamente teríamos. Assinado o contrato, tratamos de providenciar as árvores que viriam sombrear nossa família e que cresceriam enquanto juntávamos dinheiro para a construção. Fomos a um horto, escolhemos uma meia dúzia de mudas de casuarinas já crescidinhas. E porque o solo da nossa nova propriedade era areia pura, compramos também metros cúbicos de terra preta, fértil. Contratado um funcionário do horto para abrir grandes covas, preenchê-las com aquela terra bíblica, e ali plantar as mudas, fomos com ele até o terreno marcar os lugares exatos, já pensando em paredes. Voltamos ainda outro dia para ver as mudas plantadas, e regressamos a Ipanema.
Como o motorista da história anterior, demoramos um tempo para novamente ir ao nosso terreno controlar o crescimento das casuarinas. Mas ao chegar não encontramos crescimento, nem casuarinas, nem terra fértil. Só fundas covas vazias marcavam na areia os pontos do nosso desejo.
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