quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Recordista no número de dentistas, Brasil falha no acesso ao serviço‏

Recordista no número de dentistas, Brasil falha no acesso ao serviço


Rayssa Nunes Villafort
Cirurgiã bucomaxilofacial do Hospital São Francisco de Assis


Estado de Minas: 31/10/2013 




Não é de hoje que o sorriso é visto como o cartão de visitas do ser humano, ou para os mais românticos, a porta da alma. Por isso, o ofício de cuidar dos dentes existe desde muito antes da formalização da profissão de dentista. Os primeiros cursos de graduação de odontologia no Brasil foram criados no Rio de Janeiro e na Bahia, em 25 de outubro de 1884. Mais tarde, a data foi instituída como o Dia do Profissional de Odontologia. Se, atualmente, a atividade mostra sinais evidentes de melhora nas práticas e acompanha o avanço da tecnologia, houve um tempo em que os profissionais que cuidavam da saúde dentária eram chamados de dentistas práticos. O trabalho se resumia em fazer a extração dos dentes com problemas, em locais, muitas vezes, precários e sem a higiene necessária. É evidente que esse não é mais o quadro predominante. Contudo, a cultura de banalização da extração dentária se manteve até poucas décadas. O Brasil é o país com maior numero de profissionais de odontologia no mundo, com 219.575 dentistas cadastrados, o que representa 19% do total, de acordo com dados da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas. O número recorde, entretanto, não reflete o acesso de boa parte da população ao serviço. Prova disso é que somente a metade dos adultos brasileiros tem pelo menos 20 dos 32 dentes funcionais.

A saúde oral do brasileiro apresentou melhoras nos últimos anos, mas ainda precisamos desenvolver iniciativas que ampliem o acesso ao tratamento dentário em todo o país, não apenas nos grandes centros urbanos. Quase 12% da população brasileira nunca pisou em um consultório odontológico, segundo dados do IBGE. É grave pensar, também, que boa parte da população que tem acesso a dentista não se preocupa com a saúde da boca como deveria. O desleixo com os cuidados da saúde dentária é parte de um conceito equivocado, que desassocia a boca do restante do corpo. A frequência recomendada de visitas ao dentista é de pelo menos uma vez a cada seis meses. Afinal, o dentista é um profissional capaz de cuidar não só da estética, mas de problemas da cavidade bucal como um todo —gengiva, língua, mucosa oral, dentes e ossos da face. Enfermidades que podem comprometer a saúde em geral, dependendo da gravidade. O contraste é evidente. Enquanto o Brasil é o país que mais forma cirurgiões-dentistas e o segundo na produção e colocação de implantes dentários, ainda há doentes por falta de cuidados com os dentes. Números da Associação Brasileira de Odontologia estimam que menos de 22% dos adultos e 8% dos idosos têm gengivas totalmente saudáveis. Os problemas da cavidade oral são muitos, entre eles: afta, cárie, gengivite, periodontite, maloclusão, abscesso, lesão cística, fratura de ossos da face e até mesmo câncer.

Engana-se quem pensa, também, que cuidar mal dos dentes traz problemas apenas para a região da boca. Diversas doenças sistêmicas, que podem afetar todo o organismo, têm origem em infecções orais. Um exemplo é a endocardite bacteriana, infecção grave das válvulas cardíacas, que pode ser causada pela falta de higiene oral. Pesquisas recentes associam infecções na gengiva à ocorrência até de descontrole da diabetes e partos prematuros. A principal arma de prevenção ainda continua sendo a boa e velha higiene bucal, associada à visita periódica ao dentista. Afinal, quando alguém perde um dente, perde, também, parte da saúde.

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