Ana Clara Brant
A voz está um pouco cansada e meio rouca no telefone. Resultado de uma maratona de entrevistas. “Tenho que dar uma respirada, mas é muito gostoso também estar de volta, divulgar o meu trabalho. Tudo isso faz parte”, avisa Vanusa, que retoma a carreira depois de um período internada em uma clínica de reabilitação.
E Belo Horizonte vai marcar esse retorno. Hoje e amanhã, a artista é a convidada do projeto Salve rainhas, na Funarte. Com formato de descontraído talk-show, em cada apresentação, a cantora convidada, ao lado de um ou dois músicos, fala sobre sua trajetória artística, além de cantar algumas canções que marcaram sua carreira. “É uma honra participar dessa iniciativa, que, por si só, já é um elogio. Não poderia estar mais satisfeita com tudo o que está ocorrendo”, destaca.
Vanusa mostrará músicas de seu novo disco, que deve ser lançado neste mês, Vanusa Santos Flores, nome de batismo da cantora, título dado ao CD por sugestão do produtor e diretor musical, o cantor e compositor Zeca Baleiro. Depois de 15 anos sem entrar num estúdio, ela voltou a ter prazer em soltar a voz. “Sempre adorei gravar, porque você participa da feitura de todo o processo. E quando fica pronto, vêm os ajustes. É como se fosse um filho. E o bacana é que esse trabalho foi feito com muito cuidado, com calma. Zeca foi maravilhoso, porque teve esse carinho comigo, de esperar o meu tempo. Gostei de todo esse caminhar do processo”, revela.
Além de músicas do próprio Zeca Baleiro, o álbum tem composições autorais e inéditas de Zé Ramalho, Zé Geraldo e ainda uma faixa de Vander Lee, Esperando aviões, que a cantora vai, inclusive, interpretar na apresentação na Funarte. “Nasci em Cruzeiro, interior paulista, mas fui com 4 anos para Uberaba e, em seguida, para Frutal. Passei muito tempo da minha criação em Minas e, por isso, tenho muito da mineirice. Então, vou fazer uma homenagem aos mineiros cantando Vander Lee, que é uma pessoa que adoro e admiro”, avisa a Vanusa, que estará acompanhada do pianista Sérgio Sá.
E foi justamente no interior mineiro que ela começou sua trajetória artística, aos 16 anos. Depois de quase meio século na estrada e com 24 discos no currículo, a cantora confessa que chegou a achar que não voltaria mais aos palcos após o período de internação. “Não tinha expectativa nenhuma de sair da clínica e voltar a fazer alguma coisa. Mas tudo caminhou. Escolhi ser feliz. É isso que importa”, filosofa.
Salve Rainhas
Show com Vanusa
Hoje e amanhã, às 19h, na Funarte MG,
Rua Januária, 68, Floresta. Ingressos:
R$ 5 e R$ 2,50 (meia), à venda uma hora
antes da abertura da casa. Lotação:
140 lugares. Informações: (31) 3213-3084.
Três perguntas para... Vanusa cantora
Publicação: 01/10/2013 04:00
Como surgiu a ideia de fazer um disco com produção de Zeca Baleiro? Você o procurou?
Na verdade, eu o conheci quando fiz uma apresentação no Sesc em São Paulo, no começo do ano passado. Ele foi o diretor e adorei o trabalho dele. Quando fui internada na clínica de reabilitação, Zeca entrou em contato com minha filha, Aretha, me procurou e me disse: ‘Quando você sair daqui, tiver legal e quiser cantar de novo, vamos gravar um disco’. E estamos aí finalizando o CD, com o nome que ele sugeriu, que é meu nome completo. É a minha cara, a minha identidade e reflete o meu momento, o meu sentimento.
E por que você decidiu se internar?
Desde que comecei minha carreira, entrei no piloto automático. Só trabalhava, não tinha tempo de fazer nada por mim, não tirava férias. E quando você trabalha demais e só vive para isso, você se esvazia. Percebi que não tinha mais nada para doar, porque eu não estava me preenchendo com nada para mim. Na clínica, onde fui por vontade própria e fiquei seis meses, as coisas se assentaram.
Aquele episódio do Hino nacional (em março de 2009, ao participar de evento na Assembleia Legislativa de São Paulo, Vanusa errou a letra e desafinou ao cantar o hino brasileiro) está superado?
Justamente por causa dessa minha rotina de só trabalhar, acabei me viciando em remédio tarja preta, porque passei a ter períodos de depressão. Chegou ao ponto de eu não conseguir acordar. Tinha que tomar guaraná em pó para me manter em pé. Esse episódio do hino foi a gota d’água e um sinal pra mim. Já não estava bem, tinha tomado remédio, mas como sempre fui caxias e muito profissional, fui cantar. E eu quase desisti de tudo depois desse ocorrido. Claro que não justifica o que fizeram comigo. Tenho uma trajetória tão bonita e as pessoas ficam lembrando só disso. Mas não tenho nenhuma mágoa. A gente tem que tocar a vida. Quando algo me incomoda, procuro sempre ver o lado bom da coisa. Os problemas são para nos ensinar. A gente está aqui para aprender e procurar sempre melhorar.
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