domingo, 20 de outubro de 2013

Tereza Cruvinel-Dois bombeiros‏

Lula e Temer não querem uma reprise das escaramuças de 1998 e de 2002 nas convenções do PMDB


Tereza Cruvinel

Estado de Minas: 20/10/2013


Na alianças e nas disputas, quando as coisas se complicam, alguém apela: "Segure os seus radicais que eu vou segurar os meus". Foi o que combinaram, em almoço na sexta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Michel Temer, constatando a necessidade de uma freada de arrumação nas escaramuças pré-eleitorais entre petistas e peemedebistas. Acertaram na sobremesa a criação de um grupo de trabalho com três ou quatro de cada lado para coordenar os arranjos nos estados. Quando não for mesmo possível a composição, serão estabelecidas algumas bases e limites da disputa no estado para preservar a aliança nacional.

O que Lula e Temer sabem é que não basta, para a candidatura da presidente Dilma, ter o apoio da maioria das bancadas ou das seções estaduais do PMDB. A aliança terá que ser aprovada em convenção e nenhum deles gostaria de ver a reedição das escaramuças do passado. Em 1998, o partido dividiu-se entre os que queriam apoiar a reeleição de Fernando Henrique Cardoso e os que preferiam Lula ou Ciro Gomes. O ex-presidente Itamar Franco apresentou-se como candidato e foi derrotado, mas a convenção não conseguiu formalizar apoio a ninguém. Em 2002, foi parar no STF a briga para anular a convenção que havia oficializado o apoio ao tucano José Serra, contra a candidatura do senador Roberto Requião. O apoio formal a Serra garantiu-lhe a vice, Rita Camata, e o tempo na tevê, mas as seções regionais mais importantes apoiaram Lula.

O líder petista escalou-se para fazer a costura que Dilma tem evitado por inapetência, e o PT porque ainda está zonzo com a jogada de Eduardo Campos-Marina Silva. Sabe que Dilma precisa das duas coisas, do apoio formal e do engajamento do partido nos Brasis remotos. O gongo soou diante da ameaça do PMDB do Rio – que controla 15% dos convencionais – de arregimentar forças contra a aprovação da aliança se for mantida a candidatura do senador Lindbergh Farias (PT) a governador, contra o candidato do governador Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão, ambos peemedebistas. O Rio é o nervo exposto, mas a fervura está alta também no Maranhão e no Ceará, afora estados onde nem se cogita composição, como Bahia e Rio Grande do Sul. Esta semana, Lula e Dilma ligaram para o ex-presidente José Sarney depois de notícias dando conta de que o PT maranhense já havia decidido apoiar o candidato do PCdoB, Flávio Dino. Nada resolvido, garantiram os dois, acalmando o leal e indignado aliado. No Ceará, depois que os irmãos Gomes deixaram o PSB para ficar com Dilma, o PT enfrenta a tentação de jogar ao mar a candidatura do líder peemedebista no Senado, Eunício Oliveira. Se essas três seções, ressentidas com a rejeição petista, forem à guerra na convenção, podem fazer estrago.

Enquanto isso, o presidente do PSDB e senador por Minas Gerais, Aécio Neves, percorre o país criticando a política econômica para levar o tema ao debate eleitoral, e a coligação PSB/Rede diverte a plateia fingindo que Marina Silva poderá ser candidata.

Duas viagens audiovisuais
A coprodução da série de documentários O Dia que durou 21 anos foi um dos projetos mais caros e significativos para os que estiveram comigo na presidência inaugural da EBC/TVBrasil (2007–2010). Concebido e dirigido por Camilo Tavares e ancorado na experiência e na consultoria de seu pai, o jornalista, ex-preso político e exilado Flávio Tavares, a obra resgata, com imagens, áudios e depoimentos inéditos, a gênese do golpe de 1964 e a participação dos Estados Unidos na queda do Brasil na ditadura. Na sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff exibiu a obra para público restrito no Palácio da Alvorada, valorizando a restauração da memória, que ela instituiu criando a Comissão da Verdade, e também graças à capacidade realizadora dos documentaristas e o papel da televisão pública em iniciativas educativo-culturais.

O documentário mostra as articulações golpistas de políticos, empresários e militares brasileiros e os laços com a Casa Branca, que tinha como principal operador o embaixador no Brasil, Lincoln Gordon. Ainda em 1962, o então presidente John F. Kennedy, num áudio obtido pelos produtores, deu-lhe o sinal verde para apoiar ações contra o presidente João Goulart. Os dólares correram em apoio à eleição de candidatos da oposição e outras ações desestabilizadoras. Morto Kennedy, o presidente em 1964 era Lyndon Johnson. Em conversa telefônica gravada com o subsecretário de Estado George Ball, ele autorizou o envio de uma força naval para a costa brasileira, em apoio ao golpe. Não precisou ser usada. Foi a Operação Brother Sam.

Essas e outras provas foram obtidas com a abertura dos documentos relativos às presidências Kennedy/Johnson, entre outras fontes. A poderosa memória jornalística de Flávio Tavares vai pontuando o antes e o depois. Camilo, que nasceu no México, quis resgatar o que viveu e não compreendeu numa infância atribulada, mas serve essencialmente à verdade.

Vozes d’África
Para encurtar as distâncias com a África, não basta ao Brasil ajudar seus povos ou estimular investimentos. O Brasil precisa também conhecer melhor o continente que forneceu importantes pilares étnicos, econômicos e culturais de sua formação. A TV Bandeirantes estreou ontem Presidentes africanos, série de entrevistas conduzidas por Franklin Martins, em sua volta ao vídeo como repórter e entrevistador, sob a direção de Carlos Nascimbeni e Carlos Alberto Junior. A produção é do Cine Group, única produtora brasileira com filial na África, onde atua há seis anos. Na primeira fase, serão exibidos episódios com José Eduardo dos Santos (Angola), Jacob Zuma (África do Sul), Armando Guebuza (Moçambique), Goodluck Jonathan (Nigéria) e Joseph Kabila (República do Congo). 

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