sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Carlos Herculano Lopes-Aquela mulher‏

Aquela mulher
Carlos Herculano Lopes


carloslopes.mg@diariosassociados.com.br


Estado de Minas: 01/11/2013



Quando ele chegou àquele salão, onde estava ocorrendo o lançamento de um livro, o primeiro da carreira da escritora, que com mais de 60 anos fazia sua estreia na literatura, depois de um longo período de maturação da obra, o movimento já era grande, com as pessoas conversando animadamente. Garçons iam e voltavam com bandejas, que logo eram esvaziadas. O vinho e o champanhe estavam fartos.

Como conhecia vários dos presentes, alguns amigos de longa data, muitos dos quais não via há tempos, o homem ia cumprimentando um e outro: apertava mãos, abraçava, perguntava pela família, queria saber de conhecidos dos projetos em andamento; enfim, de como ia caminhando a vida. Alguém falou que lá fora, para amenizar o calor que estava sufocante, tinha começado a chover.

Foi então que, por uma destas coincidências, os olhos do homem se encontraram com os daquela mulher. Acompanhada de outra, que talvez fosse sua amiga, ela era bastante alta. Usava um vestido longo esverdeado, tinha os cabelos castanhos e, ao se sentir observada, esboçou um leve sorriso. “De onde será que a conheço?”, perguntou-se o homem, que, naquele momento, conversava com uma conterrânea.

Amiga de longa data, esta lhe contava que quando estavam vindo para o evento, ela e o marido tinham sido vítimas de um acidente de trânsito na Rua da Bahia, quase na esquina com Álvares Cabral. Uma moça, que vinha dirigindo distraída, falando ao celular, tinha batido na traseira do carro deles.

Nada grave, mas o suficiente para causar bastante transtorno, porque o estrago havia sido grande. A polícia precisou ser acionada, foi necessário fazer boletim de ocorrência, estas coisas chatas, mas inevitáveis em situações desse tipo, que estão ficando cada vez mais comuns nesta cidade. “É por isso que ele ainda não chegou, nem sei se conseguirá vir”, ela disse, preocupada, pois já passavam das 22h.

Mas os pensamentos daquele homem, por mais que se esforçasse em prestar atenção na conversa, só estavam voltados para a outra mulher. Com postura elegante, que realçava ainda mais sua beleza, ela continuava no mesmo lugar, junto à amiga. “De onde será que a conheço?”, ele voltou a se perguntar e, de maneira discreta, sem que ela percebesse, tornou a olhá-la, enquanto tomava mais uma taça de champanhe. A festa, àquelas alturas, já havia atingido seu ponto máximo, com o salão completamente lotado.

Daí a pouco, vencendo a timidez, ele pediu licença à conterrânea, suspirou fundo e, depois de se aproximar daquela mulher, que lhe pareceu ainda mais alta, perguntou: “Desculpe-me, mas qual é seu nome?”. “Chamo-me Larissa”, ela respondeu com um sorriso. “E você?”. “Sou o Tiago”, o homem disse, estendendo-lhe a mão, que ela apertou com firmeza. Lá fora não estava mais chovendo, e a escritora, feliz da vida, continuava a autografar o livro.
  

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