Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 11/11/2013
Todos nós teríamos explicações aceitáveis; imagine aqueles que realmente passaram por tragédias. No meu caso, conseguia tocar dezenas de almas puras com a explicação: “Sou apaixonado por duas mulheres ao mesmo tempo, uma descobriu a outra e perdi ambas. Por isso bebo”. Incrivelmente, fui atendido por psiquiatras que me entupiam de remédios como se fosse o que eu imaginava: pirara e por isso bebia da manhã até a noite. Isto só agravava o quadro, continuava bebendo por cima dos remédios, porque o alcoólatra é um dependente químico, como os do crack ou heroína. A diferença é que essas substâncias tornam dependente qualquer um que as experimente, enquanto o álcool só o faz com cerca de 10% dos bebedores. Os demais têm uma saudável alegria, que os obriga a parar depois de duas ou três doses de uísque ou uma ou duas cervejas.
No meu caso, foram quatro anos de inferno até aceitar ser internado e me render às evidências: apenas três dias sem beber e a depressão foi embora, eu estava exatamente como estou agora. O álcool me pirava; a piração me levava ao álcool. Histórico familiar. Quatro tios-avós morreram de alcoolismo, além de um tio por parte de pai e outro por parte de mãe.
Este ano completo 24 anos de abstinência e consequente equilíbrio físico e mental. É impressionante como isto ainda não é óbvio para todo mundo. Mais de 60% dos suicídios têm no alcoolismo a causa direta.
Quando se diz não haver “cura” para o alcoolismo, é verdade. Não bebo há 24 anos e vivo normalmente, com carreira consolidada, entrevista no Jô Soares sobre minhas músicas de humor, dois filhos, um casamento e outros momentos de brilho. Mas isso é o tratamento: abstinência. Cura seria eu poder tomar duas doses de uísque e parar, como 90% dos bebedores conseguem.
Em tempo: cientistas ingleses classificaram as drogas pela periculosidade para o indivíduo, para a sociedade e pelo potencial de dependência. Heroína e crack estão, respectivamente, em primeiro e segundo lugares. Álcool é a de número cinco. Cigarro, oitava colocação, ficando a maconha com um honroso 11º lugar. Bom, não consegui a concisão desejada, mas espero ter contribuído. Um grande abraço, Philosopho, e vida longa, para que sejamos abençoados com as suas crônicas por muitos e muitos anos. J. N.
Genialidade
Tenho amigo bem mais moço, que trabalha feito um desesperado e ficou muito rico. Por volta das seis da manhã, depois de correr uma hora, está diante do computador solucionando os problemas que lhe chegam através de 300 e-mails. Não exagero: assisti à cena quando estive hospedado em sua casa de campo. A partir das sete, café e banho tomados, o excelente patrício funciona a 18.000RPM (revolutions per minute), enquanto o philosopho, a exemplo dos velhos motores diesel Deutz, nunca passou das 800RPM.
Dois dos segredos do dinâmico executivo, como descobri, andam de saias e resolvem 90% dos seus problemas existenciais: a governanta das muitas residências urbanas e rurais, Janaína, e a secretária-chefe do gigantesco escritório central, dona Denise, com dezenas de filiais em diversas cidades de três países.
Inenarrável é pouco para dizer da eficiência de Janaína e Denise. Há que destacar, também e muito, a genialidade daquele que as descobriu, remunera muito bem e nelas confia. Aí é que está: sem governanta e secretária eficientíssimas nem Isaac Asimov e Carl Sagan, detentores dos maiores QIs de que se tem notícia, teriam sido Sagan e Asimov. Tenho dito e philosophado.
O mundo é uma bola
11 de novembro de 308: no Congresso de Carnuntum, com o intuito de pacificar o Império Romano, os líderes da tetrarquia declaram Maxêncio como Augusto e Constantino I, seu rival, como César, imperador menor da Bretanha e da Gália. Sei que essa notícia não interessa a ninguém, mas preciso de 300 palavras para este “o mundo é uma bola” e sobrou para o tal congresso, com a notícia de que Carnuntum era campo militar romano numa região da atual Áustria. No início, pertencia à província de Nórica e depois do século I passou a fazer parte da Panônia. O que resta de Carnuntum fica situado numa estrada entre Viena e Bratislava, no Parque Arqueológico de Carnuntum, Baixa Áustria, extensão que abrange as áreas das vilas de Petronell-Carnuntum e Bad Deutch-Altenburg. Sugiro que o pacientíssimo leitor, ao passar por lá, tome duas cervejas e se lembre do que acaba de aprender em 150 palavras.
Em 1528, frei Bartolomeu dos Mártires entrou para a Ordem Dominicana e devo confessar que cheguei a novembro de 2013 sem fazer a mais mínima ideia de quem foi Bartolomeu dos Mártires. Vamos lá: beatificado dia 4 de novembro de 2001 pelo papa João Paulo II, Bartolomeu Fernandes dos Mártires, também chamado Bartolomeu de Braga, foi arcebispo de Braga em 1558/1559 e se dedicou ao ensino em Lisboa e Évora, tendo sido preceptor de dom Antônio, prior do Crato.
Hoje é o Dia da Memória, da Qualidade e do Supermercado, motivo pelo qual a memória me faz sentir saudades da qualidade de alguns supermercados de BH.
Ruminanças
“As repúblicas acabam pelo luxo, as monarquias pela pobreza” (Montesquieu, 1689 – 1755)
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