A Tarde / BA - 20/11/2013
Vergonha, medo ou crença no jargão “Não vai dar em nada”, típico da impunidade. No futebol, poucos são os casos de injúria racial que terminam comsanções criminais, mesmo quando há testemunhas nas ações em curso (veja relação de casos de racismo nos campos brasileiros ao lado).
De acordo com o advogado Samuel Vida, professor e ativista do movimento negro, via de regra, poucas são as vítimas de discriminação que vão adiante com as denúncias.
“O futebol apenas reflete uma situação geral da sociedade. Mesmo sendo um crime inafiançável desde a Constituição de 1988, as atitudes racistas não têm sido coibidas pelo rigor da lei”, diz.
Um dos casos mais famosos de racismo no futebol brasileiro aconteceu em 2005, no jogo São Paulo x Quilmes, pela Libertadores da América.
O jogador argentino Desábato chegou a ser preso após ter xingado o atleta Grafite de “macaco” dentro de campo. Desábato foi detido ainda no Morumbi ficando dois dias na cadeia. Ele só foi liberado após pagar R$ 10 mil de multa.
Grafite, porém, algum tempo depois, veio a retirar a denúncia por injúria racial. “Isso acontece porque o próprio jogador acha que é danoso para sua imagem estar associado a esse lado de contestação. É um erro tremendo”, analisa o doutor em antropologia Roberto Albergaria.
Desistência
Outro caso de injúria racial que parou antes mesmo da sentença final ocorreu na Bahia, também no ano de 2005. E pelo mesmo motivo de desistência. O então presidente do Vitória, Paulo Carneiro, foi acusado de racismo após, supostamente, ter chamado o goleiro Felipe de “macaco”.
Felipe acionou a Justiça, mas, assim como Grafite, desistiu da ação. “Nós insistimos para levar issoadiante, pois era uma caso grave. Eu cheguei a oferecer a denúncia, mas, infelizmente, o jogador não quis prosseguir com ela. Tentamos insistir, sem sucesso”, diz Lidivaldo Britto, procurador de justiça que foi o primeiro titular da Promotoria de Combate ao Racismo do Ministério Público da Bahia, criada em 1997.
A reportagem tentou contato com o goleiro Felipe, qu está jogando pelo Flamengo, mas não houve retorno. O dirigente Paulo Carneiro também foi procurado, mas as ligações telefônicas não foram retornadas.
De acordo com a Comissão do Negro e de Assuntos Anti- Discriminatórios da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), entre os anos de 1951 e 1988, apenas nove casos de racismo foram levados para a Justiça no Brasil.
Após a Constituição, este número cresceu para cerca de 300 em todo o País. Apenas em 1998, com a regulamentação do Código Penal, foi tipificado o crime de injúria (ato ofensivo à dignidade de alguém) com o agravante do crime de preconceito racial.
“A mudança da lei, juntamente com a ação do movimento negro, tem levado a coibir manifestações racistas no Brasil. Porém, só quando as pessoas passarem a ser punidas o racismo vai acabar”, diz o advogado Samuel Vida.
CASOS DE RACISMO NO FUTEBOL BRASILEIRO
DESÁBATO X GRAFITE
O jogador argentino Desábato chamou o brasileiro Grafite de “macaco” durante jogo da Libertadores da América no ano de 2005. O argentino ficou detido por dois dias e pagou multa no valor de R$ 10 mil
TINGA
Em 2005, o volante Tinga, do Internacional, ouviu ofensas racistas vindas da torcida do Juventude, pela disputa do Campeonato Brasileiro. Toda vez que pegava na bola, era chamado de “macaco”. O atleta não chegou a registrar queixa
FELIPE X PAULO CARNEIRO
O então presidente do Esporte Clube Vitória, Paulo Carneiro, teria ofendido o goleiro do time, após a queda para a Série C, no ano de 2005. O goleiro ofereceu denúncia, mas não deu prosseguimento ao processo
DANILO X MANOEL
Os zagueiros Danilo (do Atlético-PR) e Manoel (do Palmeiras) se desentenderam durante jogo
da Copa do Brasil, no ano de 2009. O palmeirense teria cuspido no adversário e cometido injúrias raciais. O caso foi registrado como injúria qualificada por racismo e foi parar na delegacia. Os dois jogadores foram suspensos de alguns jogos
ANTÔNIO CARLOS X JEOVÂNIO
O zagueiro Antônio Carlos Zago, que já teve passagens pela Seleção Brasileira, brigou com o companheiro de time Jeovânio, durante o jogo. O caso aconteceu em 2006. Durante a discussão, Zago fez gestuais com o braço, insinuando a cor de pele do jogador. O zagueiro foi suspenso por 120 dias e disse ter se arrependido do ato racista.
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