Prosaico e fundamental
Tenho a fortuna de preservar faqueiro idoso, de prata Wolf, que me custou R$ 800, quando já era vendido por R$ 2 mil
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 20/11/2013
Pelo fato
de ser prosaico, destituído de nobreza, de belos ideais, aferrado ao
lado prático e material da vida, o assunto não deixa de ser
importantíssimo e merece comentário nesta bela coluna. Refiro-me, como o
leitor de Tiro & Queda, vai entender, à problemática intestina.
Nada pior do que intestinos preguiçosos. Se as tripas funcionam como
relógios de quartzo, a exemplo das minhas durante decênios, o cavalheiro
e a dama começam os seus dias na maior felicidade.
O passar dos
anos, problemas emocionais e diversos outros fatores contribuem para a
desorganização do quartzo, forma cristalina da sílica, que ocorre em
abundância tanto nas rochas ígneas, quanto nas metamórficas ou
sedimentares, usado como gema, em objetos ornamentais e na indústria
eletrônica.
Nessas emergências, há produtos naturais que
funcionam à maravilha, como linhaça dourada moída, mas não muito, no
liquidificador: duas colheres de sobremesa, cheias, misturadas numa
xícara grande com suco doméstico de laranja, água ou suco adquirido no
supermercado. A internet, que hoje dirige nossas vidas, recomenda quatro
colheres grandes rasas de linhaça, suponho que dos faqueiros modernos,
ordinários, em que a colher “grande” tanto serve para as sopas como para
as sobremesas e o resto.
Tenho a fortuna de preservar faqueiro
idoso, de prata Wolf, que me custou R$ 800, quando já era vendido por R$
2 mil. Comprei-o de segunda mão de um mineiro que anunciou nos jornais.
Nele, faqueiro, há colheres de sopa e de sobremesa decentes, bem como
facas de dois tamanhos.
Em termos intestinais, a linhaça dourada é
um tiro de fuzil, mas se o leitor sonhar com um tiro de canhão basta
incluir em sua dieta diária uma laranja comum, descascada, ainda com
aquela parte branca que fica por baixo do alaranjado da casca. Gelada,
comida aos pedaços com a parte branca, de preferência antes do jantar se
ingerir a linhaça pela manhã. Veja o pacientíssimo leitor que só falei
de uma laranja à noite. Andei comendo duas e o tiro de canhão foi
excessivo, exigindo duas visitas diárias ao trono de louça, exagero
assaz exagerado, falou?
Texto e figura
Circula
por aí um cavalheiro, filho de acadêmico sério, que cultiva a imagem de
um aborto da natureza humana: tatuagens, roupas estranhas, unhas
pintadas, óculos de hospício e o mais que consiga imaginar pour épater
le bourgeois. Mais grave que isso: de vez em quando, arranja quem se
case com ele, como vi na tevê. É verdade que a moça tinha tatuagem num
pé, mas o resto era apresentável e tinha cara de quem toma banho com
frequência.
Parece que o referido cavalheiro ganha sua vida do
jeito que se apresenta, dá entrevistas na televisão, publica e vende
livros: tudo bem. É melhor do que viver liderando uma facção do PCC ou
na bancada federal do PT.
Só não dá para entender que pessoas de
bem me encaminhem textos escritos pelo tal cavalheiro. No mundo moderno,
parece-me, o texto é inseparável da figura. E a figura do sujeitinho é
muito mais que ascorosa.
Primor
Primorosa,
encantadora a reprodução fac-similar do Manifesto dos Mineiros
providenciada pela Imprensa Oficial, hoje dirigida pelo grande Eugênio
Ferraz. Já lhes disse e repito aqui: Eugênio é o retrato são-lourenciano
do saudoso coronel Juca, de Curvelo, surpreendido à noite fazendo xixi
numa esquina da cidade que nos deu Evaristo Soares de Paula.
Naquele
tempo, as mocinhas se assustavam quando avistavam o aparelho reprodutor
externo de um representante da espécie Homo sapiens. Saídas de um
baile, as mocinhas se assustaram com o coronel, em pé, ao lado de seu
fordinho. O fazendeiro foi admirável: “Podem passar, meninas. Precisam
ter medo, não. O bicho é brabo, mas tá na mão de homem!”.
Na
administração pública mineira, a Imprensa Oficial sempre foi bicho dos
mais brabos, mas com Eugênio está na mão de homem. Nele, Manifesto,
encontro os nomes de Mário Brant, meu avô, e de seu amigo Tristão da
Cunha, avô desse menino Aécio Neves da Cunha. Palmas para a Imprensa
Oficial.
O mundo é uma bola
20 de
novembro de 1512: naufrágio da nau Frol de la Mar navegando de Malaca
para Goa conduzindo Antônio de Albuquerque e o valioso espólio da
conquista de um dos mais antigos sultanatos malaios. Malaca, ou Melaka,
tem 1.664km2 e cerca de 800 mil moradores em 2010. Consta que foi
fundada por Parameswara, um príncipe proveniente de Palimbão, em
Srivijaya, um reino malaio da Sumatra, que fugiu de lá depois de um
ataque majapahita em 1377. Acho que fez muito bem e admito que também
fugiria dos ataques majapahitas. Não existe a palavra frol no Dic. da
Real Academia Española. Parece que o galeão português se chamava Flor de
la Mar.
Em 1695, tropas do bandeirante Domingos Jorge Velho
matam Zumbi no Quilombo dos Palmares. Em 1819, afunda o navio baleeiro
Essex, depois do ataque de um cachalote, baleia dentada da família dos
fiseterídeos (Physeter catodon), encontrada em todos os oceanos e mares
do mundo, com até 20m de comprimento, coloração cinzenta ou preta,
cabeça enorme e de formato quase quadrangular.
Hoje é o Dia do Biomédico, do Esteticista e da Consciência Negra no Brasil.
Ruminanças
“Nenhum dever é mais importante do que a gratidão.” (Cícero, 103–46 a.C.)
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