Fernando Brant
Estado de Minas: 18/12/2013
Desci do táxi para
cumprir uma tarefa bem mineira, comprar queijos. Fiz o que tinha de
fazer e saí para a rua, satisfeito. Aquele quarteirão de rua me conhece
bem e eu o conheço também. Fui parar ali com 9 anos e por três anos e
meio aquele foi meu lugar, minha primeira casa em Belo Horizonte.
Fui caminhando, guarda-chuva aberto para me proteger dos primeiros pingos de chuva no fim de tarde. Não pensava em nada especial, flanava, quando a chuva apertou e resolvi aguardar debaixo da marquise de um prédio quase pronto. Viro-me e reparo no número da edificação. 36, Rua Cláudio Manoel, 36. Assustei-me. Foi ali que começou minha vida na capital mineira, mineirinho vindo do interior, lá das Diamantinas. Era tímido, mas logo me enturmei. Fui o Dindilin, um dos reis das peladas daquela região. Memórias de bola, bonde e amigos. Já voltara por aquelas bandas, mas a tarde chuvosa me fez lembrar de muita coisa.
Resolvi andar mais um pouco e, na esquina, contemplei aquele quarteirão de avenida, hoje repleto de automóveis, que foi palco das memoráveis batalhas futebolísticas entre os times da Cláudio Manoel e da Contorno. Como suei, como joguei e marquei gols e fiz amigos por entre as árvores daquela ladeira enorme. Difícil, hoje, acreditar que meninos faziam suas peladas por ali.
O Zé Açougueiro, meu fã, me dava Guarapan quando eu vencia e ainda marcava. Do outro lado da avenida, onde existe agora um imenso complexo laboratorial e hospitalar, havia um hospital para pessoas com problemas mentais. Alguns internos, sentados num alto muro que dava para o campo-avenida, ficavam assistindo ao nosso subir e descer atrás de bola. Um desses nossos assistentes, fui saber mais tarde, era Heleno de Freitas.
Esse contato e lembranças de espaços de nossa infância não é saudosismo. Apenas valoriza um tempo que ontem nossos filhos ocuparam e, hoje, os netos. Não é volta ao passado. Essa, quando há, é divertida. Quando voltei, adulto, à casa dos meus avós, em Pitangui, me espantei com o tamanho diminuto do quintal.
Ali, ao longo de anos, me escondi e me perdi. Minha referência objetiva de gente grande não foi capaz de apagar os sentimentos que eu guardara e permaneciam em mim. Nesse sentido, foi gostoso ter passado um bom tempo de minha infância em terras diamantinas, subindo e descendo ladeira, brincando na enxurrada, estudando em grupos públicos, que, mesmo no fundo interior do país, eram muito bons. E como a cidade colonial preserva sua estrutura, suas ruas, suas casas e prédios, o adulto Fernando, quando a visita, não precisa executar nenhum arabesco mental para se sentir à vontade.
O lugarzinho é o mesmo. Mas o melhor é que o tipo de gente que lá vive conserva aquele jeito de ser que abraça, aquece e comove. É o que quero da cidade em que vivo. Crescer sem perder suas qualidades.
Fui caminhando, guarda-chuva aberto para me proteger dos primeiros pingos de chuva no fim de tarde. Não pensava em nada especial, flanava, quando a chuva apertou e resolvi aguardar debaixo da marquise de um prédio quase pronto. Viro-me e reparo no número da edificação. 36, Rua Cláudio Manoel, 36. Assustei-me. Foi ali que começou minha vida na capital mineira, mineirinho vindo do interior, lá das Diamantinas. Era tímido, mas logo me enturmei. Fui o Dindilin, um dos reis das peladas daquela região. Memórias de bola, bonde e amigos. Já voltara por aquelas bandas, mas a tarde chuvosa me fez lembrar de muita coisa.
Resolvi andar mais um pouco e, na esquina, contemplei aquele quarteirão de avenida, hoje repleto de automóveis, que foi palco das memoráveis batalhas futebolísticas entre os times da Cláudio Manoel e da Contorno. Como suei, como joguei e marquei gols e fiz amigos por entre as árvores daquela ladeira enorme. Difícil, hoje, acreditar que meninos faziam suas peladas por ali.
O Zé Açougueiro, meu fã, me dava Guarapan quando eu vencia e ainda marcava. Do outro lado da avenida, onde existe agora um imenso complexo laboratorial e hospitalar, havia um hospital para pessoas com problemas mentais. Alguns internos, sentados num alto muro que dava para o campo-avenida, ficavam assistindo ao nosso subir e descer atrás de bola. Um desses nossos assistentes, fui saber mais tarde, era Heleno de Freitas.
Esse contato e lembranças de espaços de nossa infância não é saudosismo. Apenas valoriza um tempo que ontem nossos filhos ocuparam e, hoje, os netos. Não é volta ao passado. Essa, quando há, é divertida. Quando voltei, adulto, à casa dos meus avós, em Pitangui, me espantei com o tamanho diminuto do quintal.
Ali, ao longo de anos, me escondi e me perdi. Minha referência objetiva de gente grande não foi capaz de apagar os sentimentos que eu guardara e permaneciam em mim. Nesse sentido, foi gostoso ter passado um bom tempo de minha infância em terras diamantinas, subindo e descendo ladeira, brincando na enxurrada, estudando em grupos públicos, que, mesmo no fundo interior do país, eram muito bons. E como a cidade colonial preserva sua estrutura, suas ruas, suas casas e prédios, o adulto Fernando, quando a visita, não precisa executar nenhum arabesco mental para se sentir à vontade.
O lugarzinho é o mesmo. Mas o melhor é que o tipo de gente que lá vive conserva aquele jeito de ser que abraça, aquece e comove. É o que quero da cidade em que vivo. Crescer sem perder suas qualidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário