A partir da análise
de um osso com cerca de 50 mil anos, pesquisadores alemães concluíram
que pelo menos quatro tipos de hominídeos, incluindo o homem moderno,
viveram em um mesmo local e se relacionaram sexualmente
Paloma Oliveto
Estado de Minas: 19/12/2013
Primeiro, o homem descobriu que era parente do
macaco. Depois, surgiu a prova de que, há 30 mil anos, outra espécie
humana havia existido e dividido território com ele. Recentemente, a
genética provou que Homo sapiens e neandertais não só conviveram, como
cruzaram. Agora, novas análises de DNA indicam que, durante o período
pleistoceno, a parte do globo onde hoje estão Europa e Ásia foi um
paraíso do amor livre. De acordo com um estudo publicado na revista
Nature, pelo menos quatro diferentes tipos de hominídeos — entre eles, o
sapiens — compartilharam o ambiente e se relacionaram, inclusive,
sexualmente.
A constatação é de uma
equipe internacional de pesquisadores que, liderados pelo Instituto Max
Planck de Antropologia Evolutiva em Leipzig, na Alemanha, elaborou um
catálogo comparativo dos genes de homens modernos, denisovanos e
neandertais.
Em tese, duas espécies podem cruzar e gerar crias, mas os descendentes são inférteis. Um exemplo é a mula, um híbrido de jumento e égua. Por motivos desconhecidos, embora neandertais, homens modernos e denisovanos sejam considerados espécies distintas, os frutos dos cruzamentos entre eles mantiveram o potencial de reprodução.
A análise das amostras de DNA indicou um fluxo de informações genéticas entre as espécies. Além disso, trouxe à tona evidências da existência de um quarto grupo humano, ainda à espera de ser descoberto. “Aparentemente, a Eurásia no fim do Pleistoceno era um lugar interessante para ser um hominídeo”, brincam os biólogos Ewan Birney e Johathan Pritchard, que comentaram a descoberta.
À frente do estudo está o maior especialista em genoma neandertal do mundo, o sueco Svant Pääbo, que lidera o projeto de sequenciamento do primo mais próximo do Homo sapiens. Em 1997, ele publicou a primeira análise genética desse humanoide extinto, com base no DNA mitocondrial (passado da mãe para os descendentes e mais fácil de ser obtido). Na época, porém, havia pouco material disponível e as técnicas de sequenciamento não eram tão avançadas.
Doze anos depois, Pääbo publicou um mapeamento mais completo do genoma neandertal, provocando alvoroço no meio científico. Os dados indicavam que os europeus modernos carregam 2% de material genético do Homo neandertalensis. O mesmo não se verifica entre os africanos, sugerindo que esses genes foram mesmo herdados do neandertal.
A equipe de Pääbo não parou, e agora, apresentou o sequenciamento do DNA nuclear, que contém material tanto da mãe quanto do pai. “Fizemos o primeiro grande rascunho do genoma neandertal com base em técnicas muito avançadas. A qualidade do resultado é a mesma que se verifica em sequenciamentos genéticos de indivíduos modernos”, conta Pääbo. “Foi um trabalho muito árduo, mas não vamos parar. Em poucos anos, esperamos apresentar o sequenciamento completo”, diz. Até agora, apenas o homem e o rato tiveram 100% do genoma decifrado.
Comparações A amostra usada pelos cientistas foi retirada do osso de um dedo encontrado em 2010 por arqueólogos russos na Caverna de Denisova, na Sibéria, e tem cerca de 50 mil anos. Apesar de o resto mortal ter sido resgatado no mesmo ambiente onde, em 2009, foi descoberto o fóssil de um denisovano, o dono desse osso sequenciado agora habitou o abrigo siberiano milhares de anos antes e não tem qualquer parentesco direto com o indivíduo da outra espécie e que também teve seu DNA analisado. Neandertais e denisovanos, de fato, pertencem a uma mesma linhagem, mas se diferenciavam há pelo menos 400 mil anos. Portanto, eram populações bem distintas.
As comparações das sequências genéticas indicaram que o Homo sapiens de hoje carrega entre 1,5% e 2,1% do DNA do neandertal e 0,2% dos denisovanos, cujo material genético foi herdado por asiáticos e americanos nativos. Já os homens de Denisova portavam 0,5% de genes dos neandertais. “Constatamos também que o genoma denisovano contém até 5,8% de genes de um hominídeo arcaico ainda desconhecido. Essa antiga população viveu antes da separação de neandertais, denisovanos e homens modernos. Talvez essa espécie seja o que hoje chamamos Homo erectus, mas precisamos investigar mais para saber”, conta Kay Prüfer, coautor do estudo e geneticista do Instituto Max Planck.
“O artigo realmente mostra que a história dos humanos e dos hominídeos durante esse período era muito complicada. Há muitos cruzamentos que pudemos constatar e provavelmente há muitos outros que ainda não descobrimos”, afirma Montgomery Slatkin, geneticista de população da Universidade da Califórnia em Bekerley, que também participou da pesquisa. “Não sabemos o quanto durou essa convivência entre vários grupos nem se o cruzamento ocorreu apenas uma vez ou se era algo comum ao longo do tempo. Homens modernos e neandertais coexistiram na Europa e na Ásia por pelo menos 30 mil anos”, diz.
Quem é quem
Homem moderno, neandertais e denisovanos são linhagens que descenderam de um mesmo ancestral há 600 mil anos. Já como diferentes espécies, coabitaram o planeta no Pleistoceno Tardio, período geológico encerrado há 10 mil anos
Em tese, duas espécies podem cruzar e gerar crias, mas os descendentes são inférteis. Um exemplo é a mula, um híbrido de jumento e égua. Por motivos desconhecidos, embora neandertais, homens modernos e denisovanos sejam considerados espécies distintas, os frutos dos cruzamentos entre eles mantiveram o potencial de reprodução.
A análise das amostras de DNA indicou um fluxo de informações genéticas entre as espécies. Além disso, trouxe à tona evidências da existência de um quarto grupo humano, ainda à espera de ser descoberto. “Aparentemente, a Eurásia no fim do Pleistoceno era um lugar interessante para ser um hominídeo”, brincam os biólogos Ewan Birney e Johathan Pritchard, que comentaram a descoberta.
À frente do estudo está o maior especialista em genoma neandertal do mundo, o sueco Svant Pääbo, que lidera o projeto de sequenciamento do primo mais próximo do Homo sapiens. Em 1997, ele publicou a primeira análise genética desse humanoide extinto, com base no DNA mitocondrial (passado da mãe para os descendentes e mais fácil de ser obtido). Na época, porém, havia pouco material disponível e as técnicas de sequenciamento não eram tão avançadas.
Doze anos depois, Pääbo publicou um mapeamento mais completo do genoma neandertal, provocando alvoroço no meio científico. Os dados indicavam que os europeus modernos carregam 2% de material genético do Homo neandertalensis. O mesmo não se verifica entre os africanos, sugerindo que esses genes foram mesmo herdados do neandertal.
A equipe de Pääbo não parou, e agora, apresentou o sequenciamento do DNA nuclear, que contém material tanto da mãe quanto do pai. “Fizemos o primeiro grande rascunho do genoma neandertal com base em técnicas muito avançadas. A qualidade do resultado é a mesma que se verifica em sequenciamentos genéticos de indivíduos modernos”, conta Pääbo. “Foi um trabalho muito árduo, mas não vamos parar. Em poucos anos, esperamos apresentar o sequenciamento completo”, diz. Até agora, apenas o homem e o rato tiveram 100% do genoma decifrado.
Comparações A amostra usada pelos cientistas foi retirada do osso de um dedo encontrado em 2010 por arqueólogos russos na Caverna de Denisova, na Sibéria, e tem cerca de 50 mil anos. Apesar de o resto mortal ter sido resgatado no mesmo ambiente onde, em 2009, foi descoberto o fóssil de um denisovano, o dono desse osso sequenciado agora habitou o abrigo siberiano milhares de anos antes e não tem qualquer parentesco direto com o indivíduo da outra espécie e que também teve seu DNA analisado. Neandertais e denisovanos, de fato, pertencem a uma mesma linhagem, mas se diferenciavam há pelo menos 400 mil anos. Portanto, eram populações bem distintas.
As comparações das sequências genéticas indicaram que o Homo sapiens de hoje carrega entre 1,5% e 2,1% do DNA do neandertal e 0,2% dos denisovanos, cujo material genético foi herdado por asiáticos e americanos nativos. Já os homens de Denisova portavam 0,5% de genes dos neandertais. “Constatamos também que o genoma denisovano contém até 5,8% de genes de um hominídeo arcaico ainda desconhecido. Essa antiga população viveu antes da separação de neandertais, denisovanos e homens modernos. Talvez essa espécie seja o que hoje chamamos Homo erectus, mas precisamos investigar mais para saber”, conta Kay Prüfer, coautor do estudo e geneticista do Instituto Max Planck.
“O artigo realmente mostra que a história dos humanos e dos hominídeos durante esse período era muito complicada. Há muitos cruzamentos que pudemos constatar e provavelmente há muitos outros que ainda não descobrimos”, afirma Montgomery Slatkin, geneticista de população da Universidade da Califórnia em Bekerley, que também participou da pesquisa. “Não sabemos o quanto durou essa convivência entre vários grupos nem se o cruzamento ocorreu apenas uma vez ou se era algo comum ao longo do tempo. Homens modernos e neandertais coexistiram na Europa e na Ásia por pelo menos 30 mil anos”, diz.
Quem é quem
Homem moderno, neandertais e denisovanos são linhagens que descenderam de um mesmo ancestral há 600 mil anos. Já como diferentes espécies, coabitaram o planeta no Pleistoceno Tardio, período geológico encerrado há 10 mil anos
Homem moderno Origem: última população que saiu da África Quando viveu: de 200 mil anos atrás até hoje |
Neandertal Origem: Eurásia Quando viveu: de 400 mil anos a 30 mil anos atrás |
Denisovano Origem: Eurásia Quando viveu: de 400 mil anos a 40 mil anos atrás |
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