segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Medidas antecipam tratamento da Aids‏

Medidas antecipam tratamento da Aids 
 
Governo anuncia oferta gratuita de remédios para os adultos que apresentam teste positivo antes mesmo de a doença se manifestar


Estado de Minas: 02/12/2013


Caminhada na avenida litorânea em São Luís (MA) chama a atenção para a doença     (Karlos Geromy/OIMP/D.A Press)
Caminhada na avenida litorânea em São Luís (MA) chama a atenção para a doença

Rio – No Dia Mundial de Combate à Aids, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou, ontem, medidas que anteciparão o tratamento dos que são infectados pelo vírus HIV e diminuirão os riscos de transmissão da doença no país. A principal delas é a oferta de remédios antirretrovirais aos adultos com teste positivo antes de apresentarem sintomas da doença ou comprometimento do sistema imunológico.

O novo protocolo clínico permitirá que pacientes infectados iniciem o tratamento logo após o diagnóstico. Antes, o paciente era encaminhado a novos exames e só recebia a medicação caso houvesse sinais de vulnerabilidade no sistema imunológico. "Aprendemos que o ideal é oferecer a possibilidade de a pessoa se tratar logo, antes de saber se a imunidade está reduzida", disse Padilha, durante evento no Parque de Madureira, na Zona Oeste do Rio. Hoje, apenas Estados Unidos e França adotam esse tipo de procedimento, e o Brasil, de acordo com ele, será o primeiro a oferecê-lo de forma gratuita.

Além disso, antecipar o tratamento diminui o risco de transmissão em 96%, destacou. O que pode ser importante, uma vez que o país tem 700 mil pessoas infectadas pelo HIV por ano – dessas, cerca de 150 mil desconhecem que são portadoras do vírus. "Elas estão perdendo a chance de se tratar", afirmou. Com maior oferta do tratamento, 100 mil pacientes a mais deverão receber os remédios em 2014.

Para antecipar os diagnósticos, o ministério entregou ontem à Secretaria de Estado de Saúde do Rio a primeira Unidade de Testagem Móvel (UTM), na qual serão realizados testes rápidos, cujo resultado sai em até 30 minutos. A ideia é efetuar 1,7 mil testes por mês. "Mas nada disso funciona se a gente deixar prevalecer o preconceito", ressaltou.

No Brasil, os investimentos para o combate à Aids devem chegar a R$ 1,2 bilhão em 2013 – R$ 770 milhões só em medicamentos. Em 2014, Padilha espera ampliar esses investimentos para R$ 1,3 bilhão. Em todo o país, manifestações marcaram ontem o Dia Mundial de Combate à Aids.

NOVO MÉTODO
O ministro também anunciou que o Brasil desenvolve, por intermédio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), tecnologia que vai incorporar três remédios usados atualmente no combate contra a Aids numa mesma pílula. O novo método de tratamento (chamado 3 em 1) será testado, inicialmente, no Rio Grande do Sul e no Amazonas, a partir de fevereiro. A ideia é estendê-lo a todo o país no segundo semestre de 2014.

A escolha desses estados levou em conta as estatísticas apuradas em 2012. No Amazonas, a questão é a elevada taxa de mortalidade. Já entre os gaúchos, a taxa de detecção é a mais elevada. Por lá, são feitos 41,4 diagnósticos a cada 100 mil habitantes, contra 20,2 na média do Brasil. Só em Porto Alegre, essa proporção é de 93,7 casos. Para a coordenadora da Unaids (órgão das Nações Unidas para o combate à Aids) no Brasil, Georgiana Braga, o Rio Grande do Sul vive um quadro de epidemia.

Medicamentos antirretrovirais serão testados no Rio Grande do Sul com grupos considerados mais vulneráveis, como profissionais do sexo, homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas e pessoas em situação de rua. O acordo foi assinado ontem entre o Ministério da Saúde e o governo do Rio Grande do Sul. "Na primeira etapa, serão 100 pessoas voluntárias, mas o número será expandido até o fim do ano", afirmou o secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Jarbas Barbosa.

Papa pede acesso a medicamentos

O papa Francisco pediu ontem que todo portador de Aids tenha acesso aos cuidados de que necessita, por ocasião do Dia Mundial de Luta contra a Aids. "Hoje é o Dia Mundial de Luta contra a Aids. Vamos expressar nossa proximidade para com as pessoas que padecem dessa doença, especialmente as crianças", afirmou o pontífice, depois de fazer a tradicional Oração do Ângelus na Praça de São Pedro, no Vaticano. "Rezemos por todos, também pelos médicos e pesquisadores. Que cada enfermo, sem exclusão alguma, possa ter acesso aos cuidados de que necessita", afirmou.

Ação para conscientizar

Shirley Pacelli

Em Belo Horizonte, oficinas e apresentações musicais marcaram o Dia Mundial de Combate à Aids     (Reinaldo Gomes/Divulgação)
Em Belo Horizonte, oficinas e apresentações musicais marcaram o Dia Mundial de Combate à Aids

De 2001 a outubro de 2013 foram notificados 6.349 novos casos de Aids em Belo Horizonte. Só no ano passado, houve 595 registros da doença, o maior índice desde 2004. Para aumentar a conscientização, a Secretaria Municipal de Saúde promoveu ontem, no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, o Dia Mundial de Luta contra a Aids. Segundo o secretário municipal de Saúde, Fabiano Pimenta, até fevereiro de 2014, todos os centros de saúde de Belo Horizonte estarão capacitados para fazer o teste rápido do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). O resultado desse método sai em no máximo 30 minutos. Até o momento, 90 dos 147 centros já estão capacitados para realizar esse procedimento. No ano que vem, um teste caseiro para diagnóstico de HIV começará a ser usado no país. Desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o exame é feito com base em análises de saliva.

O evento contou com oficinas de sexualidade, distribuição de camisinhas e de material educativo, além de ações de promoção à saúde e redução de danos. A população fez fila para aferir a pressão arterial, medir glicemia e receber orientações de saúde bucal. Lian Gong, academia da cidade e apresentações musicais diversas completaram o dia.

O aposentado Edgar Silvério dos Santos, de 59 anos, gostou da iniciativa de conscientização, mas confessou que há muitos anos não faz o teste. “Fiquei sabendo que não tinha Aids na época que doei sangue. Nunca me preocupei com isso, sou casado há 35 anos”, afirma. Já Sirlene de Oliveira Silva, de 37, faz o teste com frequência, porque doa sangue duas vezes por ano.

Lucinéia Carvalhais, coordenadora municipal de saúde sexual, HIV e hepatites virais, explica que as pessoas ainda não incluíram o teste de HIV na sua rotina de cuidados com a saúde, como o controle do nível do colesterol, por exemplo. “Mesmo que tenha o hábito do sexo seguro, pode ter existido uma época que você não se prevenia. A questão não é só fazer o teste, mas ter uma postura sexual consciente", explica. Segundo ela, entre o sexo feminino, 60% dos casos de Aids ocorrem entre 35 a 59 anos – o que quer dizer que as mulheres procuram tardiamente o diagnóstico.

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