Eduardo Almeida Reis - Situações
Estado de Minas: 23/01/2014
As festas do final de ano repetiram problema que se arrasta desde o tempo de Caim e Abel: parentes que se detestam reunidos sob um mesmo teto. Não entendo xongas de genética, mas penso que irmãos biológicos podem ser mais diferentes que dois sujeitos estranhos, que se conheçam numa reunião. Não raras vezes, há mais companheirismo e afinidade de opiniões entre amigos. Tive a honra, há dois meses, de receber e-mail de um leitor que só encontrei uma vez e disse que hoje me considera seu melhor amigo. Nessas andanças acontecem problemas de solução complicada. Você faz um amigo, convive com ele durante anos, pensa conhecê-lo muito bem e um dia descobre que ele, pelas circunstâncias da vida, enveredou pela inortodoxia em questões financeiras. Em português de padaria, começou a furtar na função pública que passou a exercer. Dinheiro é o diabo. Muita gente não resiste, mas muita gente mesmo. Como proceder com o tal amigo? Já me aconteceu duas vezes. Afastei-me dos dois, de vez em quando nos encontramos em reuniões festivas, eles me tratam muito bem, retribuo o tratamento afetuoso e confesso que fico triste e embatucado. Sei que o problema faz parte da vida, mas é chato.
Besteiras
Se entendi direito, a revista The Economist anda empenhada em descobrir um nome para a América Latina. E isso num planeta em que há bilhões de pessoas morrendo de fome e milhões às voltas com guerras que, como sempre, não devem resolver problema algum. O argumento da revista, que procura um nome para a seção que vai cuidar da economia do México para baixo, seria o de que nem todos são latinos por aqui. Em matéria de falta de quefazeres, The Economist merece o Nobel. Nada mais latina do que esta parte das Américas, pouco importando que no Suriname a língua oficial seja a holandesa e na Jamaica se fale o inglês jamaicano. A Jamaica tem 2,7 milhões de habitantes e o Suriname, de 560 mil. Somados, é a população de BH, excluídos os residentes na Grande BH. O “palpitante assunto” virou pauta num programa de tevê tomando o tempo dos debatedores e o meu, motivo pelo qual fiquei furioso. Cavalheiro normalmente alegre e de bem com a vida, tenho tido acessos de fúria até com os erros de regência verbal de certos cronistas tidos e havidos. Ninguém merece.
Zapeando
Sem internet fica difícil procurar o verbo zapear, mas sou teimoso e encontro no Aurélio: “(Adap. do ingl. (to) zap; ver –ear2.] Verbo. 1. Ver televisão, trocando frequentemente os canais, por meio do controle remoto”. Isto posto, deixem-me contar que sem internet para ver os e-mails recebidos durante a noite, liguei o televisor para dar uma zapeada enquanto esperava a chegada dos jornais. Logo no primeiro canal um escritor explicava em inglês (legendado) que todos os corredores de 100m rasos, jamaicanos, norte-americanos, portugueses e outros têm raízes numa determinada região da África, muito sujeita às malárias, em que os sobreviventes desenvolvem um tipo de contração muscular rápida. Se não foi isso, foi parecido. É a tese defendida por ele no livro que publicou. Não anotei o nome, porque peguei a entrevista adiantada, mas vi que o escritor falou também do entusiasmo jamaicano pelas corridas curtas. Assim, quando um menino de 15 anos alcança 1,90m, em vez de encaminhá-lo para o basquete é transformado em corredor.
Noutro canal do meu zapear encontro mocinhas bonitas, de maiô, falando das delícias e das belezas de mergulhar em Zanzibar. O fundo do mar zanzibarita, dizem as mocinhas, é muito bonito. Ainda sem internet, não tenho acesso ao Google para procurar onde fica Zanzibar, mas posso clicar no Houaiss à procura de zanzibarita, adjetivo e substantivo de dois gêneros. E aí, bumba, leio o seguinte: relativo a Zanzibar, ilha do Oceano Índico, próxima à costa oriental da África, ou o que é seu natural ou habitante. Independente em 1963, Zanzibar uniu-se a Tanganica para formar, em 1964, a Tanzânia. Pronto: a internet voltou e o Google acena com 8,8 milhões de entradas para Zanzibar. Isso mesmo que você entendeu: 8 milhões e 800 mil! Fiquemos com a definição do Houaiss, ressalvando o fato de que as ilhas são duas, Unguja e Pemba, formam um estado semiautônomo, a população fala suaíle, mas algumas pessoas falam o português de Portugal, e as ilhas produzem especiarias, com ênfase para o cravinho, a canela e a pimenta.
O mundo é uma bola
23 de janeiro de 1368: Zhu Yuánzhang ascende ao trono da China como imperador Hongwu, dando início à dinastia Ming, que governaria os chineses por quase três séculos, assistindo em 1556 ao terremoto que atingiu as províncias de Shaanxi, Shanxi e Henan, causando a morte de mais de 800 mil pessoas, o que fez dele o sismo com maior número de vítimas fatais em toda a história. Em 1637, João Maurício de Nassau chega ao Recife. Dia 1º deste mês vi na tevê os fogos em Jaboatão dos Guararapes, que João Maurício não viu.
Ruminanças
“La libertad tiene sus riesgos y quienes creen en ella deben estar dispuestos a correrlos en todos los dominios, no sólo en el cultural, el religioso y el político” (Vargas Llosa).
Estado de Minas: 23/01/2014
As festas do final de ano repetiram problema que se arrasta desde o tempo de Caim e Abel: parentes que se detestam reunidos sob um mesmo teto. Não entendo xongas de genética, mas penso que irmãos biológicos podem ser mais diferentes que dois sujeitos estranhos, que se conheçam numa reunião. Não raras vezes, há mais companheirismo e afinidade de opiniões entre amigos. Tive a honra, há dois meses, de receber e-mail de um leitor que só encontrei uma vez e disse que hoje me considera seu melhor amigo. Nessas andanças acontecem problemas de solução complicada. Você faz um amigo, convive com ele durante anos, pensa conhecê-lo muito bem e um dia descobre que ele, pelas circunstâncias da vida, enveredou pela inortodoxia em questões financeiras. Em português de padaria, começou a furtar na função pública que passou a exercer. Dinheiro é o diabo. Muita gente não resiste, mas muita gente mesmo. Como proceder com o tal amigo? Já me aconteceu duas vezes. Afastei-me dos dois, de vez em quando nos encontramos em reuniões festivas, eles me tratam muito bem, retribuo o tratamento afetuoso e confesso que fico triste e embatucado. Sei que o problema faz parte da vida, mas é chato.
Besteiras
Se entendi direito, a revista The Economist anda empenhada em descobrir um nome para a América Latina. E isso num planeta em que há bilhões de pessoas morrendo de fome e milhões às voltas com guerras que, como sempre, não devem resolver problema algum. O argumento da revista, que procura um nome para a seção que vai cuidar da economia do México para baixo, seria o de que nem todos são latinos por aqui. Em matéria de falta de quefazeres, The Economist merece o Nobel. Nada mais latina do que esta parte das Américas, pouco importando que no Suriname a língua oficial seja a holandesa e na Jamaica se fale o inglês jamaicano. A Jamaica tem 2,7 milhões de habitantes e o Suriname, de 560 mil. Somados, é a população de BH, excluídos os residentes na Grande BH. O “palpitante assunto” virou pauta num programa de tevê tomando o tempo dos debatedores e o meu, motivo pelo qual fiquei furioso. Cavalheiro normalmente alegre e de bem com a vida, tenho tido acessos de fúria até com os erros de regência verbal de certos cronistas tidos e havidos. Ninguém merece.
Zapeando
Sem internet fica difícil procurar o verbo zapear, mas sou teimoso e encontro no Aurélio: “(Adap. do ingl. (to) zap; ver –ear2.] Verbo. 1. Ver televisão, trocando frequentemente os canais, por meio do controle remoto”. Isto posto, deixem-me contar que sem internet para ver os e-mails recebidos durante a noite, liguei o televisor para dar uma zapeada enquanto esperava a chegada dos jornais. Logo no primeiro canal um escritor explicava em inglês (legendado) que todos os corredores de 100m rasos, jamaicanos, norte-americanos, portugueses e outros têm raízes numa determinada região da África, muito sujeita às malárias, em que os sobreviventes desenvolvem um tipo de contração muscular rápida. Se não foi isso, foi parecido. É a tese defendida por ele no livro que publicou. Não anotei o nome, porque peguei a entrevista adiantada, mas vi que o escritor falou também do entusiasmo jamaicano pelas corridas curtas. Assim, quando um menino de 15 anos alcança 1,90m, em vez de encaminhá-lo para o basquete é transformado em corredor.
Noutro canal do meu zapear encontro mocinhas bonitas, de maiô, falando das delícias e das belezas de mergulhar em Zanzibar. O fundo do mar zanzibarita, dizem as mocinhas, é muito bonito. Ainda sem internet, não tenho acesso ao Google para procurar onde fica Zanzibar, mas posso clicar no Houaiss à procura de zanzibarita, adjetivo e substantivo de dois gêneros. E aí, bumba, leio o seguinte: relativo a Zanzibar, ilha do Oceano Índico, próxima à costa oriental da África, ou o que é seu natural ou habitante. Independente em 1963, Zanzibar uniu-se a Tanganica para formar, em 1964, a Tanzânia. Pronto: a internet voltou e o Google acena com 8,8 milhões de entradas para Zanzibar. Isso mesmo que você entendeu: 8 milhões e 800 mil! Fiquemos com a definição do Houaiss, ressalvando o fato de que as ilhas são duas, Unguja e Pemba, formam um estado semiautônomo, a população fala suaíle, mas algumas pessoas falam o português de Portugal, e as ilhas produzem especiarias, com ênfase para o cravinho, a canela e a pimenta.
O mundo é uma bola
23 de janeiro de 1368: Zhu Yuánzhang ascende ao trono da China como imperador Hongwu, dando início à dinastia Ming, que governaria os chineses por quase três séculos, assistindo em 1556 ao terremoto que atingiu as províncias de Shaanxi, Shanxi e Henan, causando a morte de mais de 800 mil pessoas, o que fez dele o sismo com maior número de vítimas fatais em toda a história. Em 1637, João Maurício de Nassau chega ao Recife. Dia 1º deste mês vi na tevê os fogos em Jaboatão dos Guararapes, que João Maurício não viu.
Ruminanças
“La libertad tiene sus riesgos y quienes creen en ella deben estar dispuestos a correrlos en todos los dominios, no sólo en el cultural, el religioso y el político” (Vargas Llosa).
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