Carolina Braga
Estado de Minas : 25/01/2014
A gente foi filmado dentro do Centro de Detenção de São José dos Pinhais, na Grande Curitiba |
Foram cinco anos de serviço como agente penitenciário na Grande Curitiba (PR). Diante daquela forte realidade, o então estudante de cinema Aly Muritiba viu surgir a ideia de um filme. Assim nasceu A gente, interessante híbrido de documentário e ficção que será exibido hoje na Mostra de Cinema de Tiradentes.
“Documentário é construção discursiva, assim como a ficção. É uma verdade”, comenta o diretor. Neste momento, o discurso construído por Muritiba dentro do Centro de Detenção de São José dos Pinhais se torna ainda mais relevante. Enquanto o Complexo de Pedrinhas, no Maranhão, escancara o colapso do sistema carcerário brasileiro, A gente oferece um olhar lúcido sobre a falência administrativa do sistema penitenciário a partir do exemplo do Paraná, tido como referência no país.
Além disso, o modo como Muritiba nos apresenta aquela realidade altera a imagem preconcebida sobre o seu antigo ofício. Geralmente, agentes penitenciários são vistos como brucutus truculentos e pouco intelectualizados. “Minha premissa é de que o sistema penitenciário não funciona, apesar de lá dentro existirem profissionais que acreditam no que fazem. O Estado não oferece capacitação técnica, gerencial e formativa a eles”, garante Aly.
Com a câmera na mão, o diretor – que pediu reintegração ao cargo para fazer o filme – registrou a rotina de sua equipe durante oito meses. Graças à intimidade com os colegas, nada parece forçado. Com o tempo, a câmera deixou de ser elemento estranho, integrando-se ao dia a dia da cadeia, mas sem ultrapassar o limite do respeito ao ser humano.
Ao longo de 89 minutos, Aly mostra a prisão como ela é. Apresenta detalhes das revistas para encontros íntimos, bem como o ritual em que agentes penitenciários se algemam no pátio interno. “É uma cadeia específica, mas pode ser o microcosmo, visto por dentro, de muitas outras neste país”, afirma.
AGENTE A narrativa se desenrola a partir de um personagem, o agente Jefferson Walkiu, no momento em que ele assume a inspetoria do presídio. Fora dali, esse pastor evangélico se dedica rotineiramente à sua igreja. “Era importante mostrar as duas facetas daquele mesmo homem no jogo. Ele crê muito no trabalho e na igreja”, explica o cineasta.
Embora a violência marque o ambiente, em nenhum momento ela é filmada em A gente – seja retratada ou sugerida. O foco está na burocracia que cerca o sistema e na ausência de políticas públicas para o setor. Aly mostra embates burocráticos que Walkiu enfrenta, a relação ética que mantém com os presos e os momentos em que ele precisa ser autoritário.
Mesmo que algumas cenas contem com a ajuda de atores, A gente não se distancia da realidade. “Não há fronteira entre documentário e ficção. Se ela existe, não sei onde está”, reforça Aly Muritiba.
MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES
Até 1º de fevereiro. Entrada franca. Informações: www.mostratiradentes.com.br
JUNHO NA TELA
Além do longa A gente, Aly Muritiba leva a Tiradentes o curta-metragem Brasil, que será exibido quarta-feira, no Cine Tenda. O filme conta a história de dois irmãos enquanto se preparam para participar das manifestações de junho do ano passado. Um deles é policial do Batalhão de Choque e o outro prepara cartazes e coquetel molotov para o protesto.
PROGRAMAÇÃO
HOJE
CINE TEATRO SESI
>> 10h30 às 12h – Seminário Processos audiovisuais de criação: outros modos
>> 12h15 às 13h30 – O percurso do ator Marat Descartes
>> 17h – Exibição de E além de tudo me deixou mudo o violão, de Anna Muylaert
CINE TENDA
>> 11h – Tainá – A origem, de Rosane Svartman
>> 15h – Sessão Curtas homenagem. A caminho de casa, de Paula Szutan e Renata Terra; Uma confusão cotidiana, de Marat Descartes; Fala comigo agora!, de Karina Ades e Joaquim Lino; 145, de Gero Camilo.
>> 16h – Sessão Curtas panorama: Eva Maria, de Rafael Antonio Todeschini; O porto, de Clarissa Campolina, Julia De Simone, Luiz Pretti e Ricardo Pretti; Malha, de Paulo Roberto;
O proustiano de Osasco, de Marcos Fabio Katudjian; e Ouça o ciclone, de Lucas Camargo de Barros.
>> 18h – A gente, de Aly Muritiba
>> 20h – Uma dose violenta de qualquer coisa, de Gustavo Galvão
>> 22h – Depois da chuva, de Cláudio Marques e Marília Hughes
CINE BNDES NA PRAÇA
>> 21h – Cidade de Deus – 10 anos depois, de Cavi Borges e Luciano Vidigal
CINE TENDA BAR
>> 0h30 – Cantor Lucas Avelar
AMANHÃ
CINE TEATRO SESI
>> 12h – Lançamento de livros e DVDs
>> 15h30 – Amador, de Cristiano Burlan
CINE TENDA
Meu pé de laranja-lima: atração de amanhã, no Cine Tenda |
>> 11h – Brichos – A floresta é nossa, de Paulo Munhoz
>> 15h – Meu pé de laranja-lima, de Marcos Bernstein
>> 16h30 – Curtas: Em trânsito, de Marcelo Pedroso; Todos esses dias em que sou estrangeiro, de Eduardo Morotó; O completo estranho, de Leonardo Mouramateus; e Tigre, de João Borges
>> 18h – Riocorrente, de Paulo Sacramento
>> 20h – Passarinho lá de Nova Iorque, de Murilo Salles
>> 22h – Amor, plástico e barulho, de Renata Pinheiro
CINE BNDES NA PRAÇA
>> 12h30 – Cia. Teatral Manicômicos: A flor de manacá
>> 21h – Olho nu, de Joel Pizzini
CINE TENDA BAR
>> 0h30 – Cantoras Celinha Braga e Marina Machado
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