quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Eduardo Almeida Reis-O Dauphine e o trator‏

O Dauphine e o trator

O carro foi apelidado Leite Glória, baseado na publicidade do leite em pó instantâneo, cujo slogan era Desmancha sem bater


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 19/02/2014

Com o imbróglio do rebaixamento da Portuguesa para a Série B, não faltou gente maldosa que se lembrasse da construção do Estádio do Canindé em 1953, às margens do Rio Tietê, em São Paulo, propriedade da Associação Portuguesa de Desportos. As más línguas contam que, terminada a construção do Canindé, constataram o esquecimento de imenso trator que não tinha como sair do estádio.

Acompanhei caso parecido com um colega de trabalho, que morava num subúrbio do Rio e construiu pessoalmente, nos finais de semana, uma garagem para o seu Dauphine. Veículo horroroso, foi o primeiro automóvel de passeio da Willys-Overland do Brasil, que já fabricava o utilitário Rural Willys, outro pavor sob a forma de veículo automotor, e o Jeep Willys.

O Dauphine foi lançado com potência de 26,5cv e 845cc de cilindrada, suspensão Aerostable de bolsas de borracha cheias de ar, que endureciam de acordo com a carga do carrinho. Suspensão projetada para as estradas da Europa não aguentou nossas estradas. O carro foi apelidado Leite Glória, baseado na publicidade do leite em pó instantâneo, cujo slogan era “Desmancha sem bater”. Além disso, como o carro gostava de capotar, a suspensão foi transformada em Aerocapotable.

Funcionário concursado de banco oficial, o colega se divertia (e economizava...) como pedreiro amador. Embrulhou seu Dauphine em papel de jornal e construiu a garagem em torno do carro, mesmo dispondo de terreno grande. Terminada a obra, descobriu que não tinha como abrir a porta do carrinho da garagem, o que o obrigava a puxar o carro na munheca, quando saía para passear com a esposa e as crianças, empurrando mais tarde o Dauphine para guardar na garagem.

Era burríssimo. Sujeito burro não tem mulher, tem esposa. Ficou riquíssimo, milionário mesmo, com um consórcio que montou. Morreu há 30 anos. Como se vê, neste país grande e bobo uma anta pode enricar e a história do trator do Canindé deve ter sido verdade verdadeira.


Philosophares

Taptoe, em holandês, significa “fechar a torneira do barril de cerveja”, sinal da hora de fechar a taberna. Pelo meado do século 17 os ingleses importaram a palavra, que resultou no verbo to tattoo para o toque de corneta que acusava a hora de os militares voltarem para os quartéis, mas a palavra tattoo foi importada por eles da Polinésia no século 18 para os sinais, figuras e frases inseridos na pele. Houaiss diz que o verbo tatuar nos chegou do verbo inglês to tattoo, inserir pigmento sob a pele para obter marca ou figura indelével, derivado do mesmíssimo inglês tattoo, marca ou figura indelével feita na pele, do taitiano tatau “sinal”.

Continuo sem entender como pode uma pessoa deixar-se tatuar, mas não entendo muitas coisas, como os idiomas alemão, chinês e japonês. Há uma diferença entre as coisas que não entendo: não tenho horror aos alemães, chineses e japoneses, mas detesto tatuagens. Claro que ninguém vai deixar de recorrer às tatuagens só porque não entendo que as pessoas se “enfeitem”, mas me reservo o direito de continuar detestando os “enfeites”.

Numa rápida consulta às estantes que exornam o apê, encontro autores que concordam com o meu philosophar. Charles Letourneau (1831-1902) escreveu: “Os delinquentes têm vivo e precoce interesse pela tatuagem, que frequentemente se caracteriza pelo cinismo, até praticada sobre os órgãos sexuais”.

Cesare Lombroso (1835-1909) emendou: “Quem pode negar que a tatuagem, pela obscenidade dos desenhos, pela parte do corpo em que foi praticada, revela o crime de pederastia melhor do que todas as lesões anatômicas, como Lacassagne nos demonstra?”.

Politicamente incorreto, Lombroso achava que pederastia era crime. Letourneau ligava a delinquência ao interesse precoce pela tatuagem. Longe de mim tal exagero, mas me reservo o direito de continuar detestando tatuagens. E uma coisa é certa: se há tatuados que não delinquem, nos últimos 40 anos não tivemos um só delinquente que não fosse tatuado.


O mundo é uma bola
19 de fevereiro de 197: início da Batalha de Lugduno entre as forças do imperador romano Septímio Severo e do usurpador Clódio Albino. Você talvez tenha ouvido referência à Batalha de Lyon, porque Lugduno era Lyon na França. Com a vitória, Severo passou a ser o único imperador do Império Romano. Essa batalha foi considerada a maior, a mais renhida e sangrenta de todos os confrontos entre os romanos. Dião Cássio, o historiador, falou em 300 mil envolvidos, número contestado por outros estudiosos, porque representaria três quartos de todos os soldados do Império Romano em 197. É amplamente aceito que o número de soldados e pessoal de apoio tenha ultrapassado 100 mil, podendo se aproximar de 150 mil, gente pra dedéu naquele tempo.

Em Portugal, no dia 19 de fevereiro de 1766, começou a funcionar o Colégio dos Nobres criado por carta régia em março de 1761. Oficialmente Real Colégio dos Nobres, era reservado aos moços fidalgos portugueses entre os 7 e os 13 anos de idade e o seu corpo docente era constituído, em sua quase totalidade, por mestres estrangeiros. Extinto em 1837, em suas instalações funciona hoje a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Hoje é o Dia do Desportista.

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