O Dauphine e o trator
O carro foi apelidado Leite Glória, baseado na publicidade do leite em pó instantâneo, cujo slogan era Desmancha sem bater
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 19/02/2014
Com o imbróglio
do rebaixamento da Portuguesa para a Série B, não faltou gente maldosa
que se lembrasse da construção do Estádio do Canindé em 1953, às margens
do Rio Tietê, em São Paulo, propriedade da Associação Portuguesa de
Desportos. As más línguas contam que, terminada a construção do Canindé,
constataram o esquecimento de imenso trator que não tinha como sair do
estádio.
Acompanhei caso parecido com um colega de trabalho, que
morava num subúrbio do Rio e construiu pessoalmente, nos finais de
semana, uma garagem para o seu Dauphine. Veículo horroroso, foi o
primeiro automóvel de passeio da Willys-Overland do Brasil, que já
fabricava o utilitário Rural Willys, outro pavor sob a forma de veículo
automotor, e o Jeep Willys.
O Dauphine foi lançado com potência
de 26,5cv e 845cc de cilindrada, suspensão Aerostable de bolsas de
borracha cheias de ar, que endureciam de acordo com a carga do carrinho.
Suspensão projetada para as estradas da Europa não aguentou nossas
estradas. O carro foi apelidado Leite Glória, baseado na publicidade do
leite em pó instantâneo, cujo slogan era “Desmancha sem bater”. Além
disso, como o carro gostava de capotar, a suspensão foi transformada em
Aerocapotable.
Funcionário concursado de banco oficial, o colega
se divertia (e economizava...) como pedreiro amador. Embrulhou seu
Dauphine em papel de jornal e construiu a garagem em torno do carro,
mesmo dispondo de terreno grande. Terminada a obra, descobriu que não
tinha como abrir a porta do carrinho da garagem, o que o obrigava a
puxar o carro na munheca, quando saía para passear com a esposa e as
crianças, empurrando mais tarde o Dauphine para guardar na garagem.
Era
burríssimo. Sujeito burro não tem mulher, tem esposa. Ficou riquíssimo,
milionário mesmo, com um consórcio que montou. Morreu há 30 anos. Como
se vê, neste país grande e bobo uma anta pode enricar e a história do
trator do Canindé deve ter sido verdade verdadeira.
Philosophares
Taptoe,
em holandês, significa “fechar a torneira do barril de cerveja”, sinal
da hora de fechar a taberna. Pelo meado do século 17 os ingleses
importaram a palavra, que resultou no verbo to tattoo para o toque de
corneta que acusava a hora de os militares voltarem para os quartéis,
mas a palavra tattoo foi importada por eles da Polinésia no século 18
para os sinais, figuras e frases inseridos na pele. Houaiss diz que o
verbo tatuar nos chegou do verbo inglês to tattoo, inserir pigmento sob a
pele para obter marca ou figura indelével, derivado do mesmíssimo
inglês tattoo, marca ou figura indelével feita na pele, do taitiano
tatau “sinal”.
Continuo sem entender como pode uma pessoa
deixar-se tatuar, mas não entendo muitas coisas, como os idiomas alemão,
chinês e japonês. Há uma diferença entre as coisas que não entendo: não
tenho horror aos alemães, chineses e japoneses, mas detesto tatuagens.
Claro que ninguém vai deixar de recorrer às tatuagens só porque não
entendo que as pessoas se “enfeitem”, mas me reservo o direito de
continuar detestando os “enfeites”.
Numa rápida consulta às
estantes que exornam o apê, encontro autores que concordam com o meu
philosophar. Charles Letourneau (1831-1902) escreveu: “Os delinquentes
têm vivo e precoce interesse pela tatuagem, que frequentemente se
caracteriza pelo cinismo, até praticada sobre os órgãos sexuais”.
Cesare
Lombroso (1835-1909) emendou: “Quem pode negar que a tatuagem, pela
obscenidade dos desenhos, pela parte do corpo em que foi praticada,
revela o crime de pederastia melhor do que todas as lesões anatômicas,
como Lacassagne nos demonstra?”.
Politicamente incorreto,
Lombroso achava que pederastia era crime. Letourneau ligava a
delinquência ao interesse precoce pela tatuagem. Longe de mim tal
exagero, mas me reservo o direito de continuar detestando tatuagens. E
uma coisa é certa: se há tatuados que não delinquem, nos últimos 40 anos
não tivemos um só delinquente que não fosse tatuado.
O mundo é uma bola
19
de fevereiro de 197: início da Batalha de Lugduno entre as forças do
imperador romano Septímio Severo e do usurpador Clódio Albino. Você
talvez tenha ouvido referência à Batalha de Lyon, porque Lugduno era
Lyon na França. Com a vitória, Severo passou a ser o único imperador do
Império Romano. Essa batalha foi considerada a maior, a mais renhida e
sangrenta de todos os confrontos entre os romanos. Dião Cássio, o
historiador, falou em 300 mil envolvidos, número contestado por outros
estudiosos, porque representaria três quartos de todos os soldados do
Império Romano em 197. É amplamente aceito que o número de soldados e
pessoal de apoio tenha ultrapassado 100 mil, podendo se aproximar de 150
mil, gente pra dedéu naquele tempo.
Em Portugal, no dia 19 de
fevereiro de 1766, começou a funcionar o Colégio dos Nobres criado por
carta régia em março de 1761. Oficialmente Real Colégio dos Nobres, era
reservado aos moços fidalgos portugueses entre os 7 e os 13 anos de
idade e o seu corpo docente era constituído, em sua quase totalidade,
por mestres estrangeiros. Extinto em 1837, em suas instalações funciona
hoje a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Hoje é o Dia do Desportista.
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