Palavras que curam
Maria Ester Maciel - memaciel.em@gmail.com
Estado de Minas: 25/02/2014
Sempre que posso,
leio alguns escritos de Santa Hildegard de Bingen sobre o poder curativo
das plantas e das pedras. Alguns de seus livros incluem até mesmo
receitas de elixires e infusões, cada uma adequada a um tipo de
distúrbio, seja este do corpo, da mente ou da alma. Seu principal livro
sobre saúde e cura intitula-se Physica, infelizmente ainda sem tradução
para o português. É uma espécie de enciclopédia da natureza, dividida em
nove partes. A primeira é sobre plantas e a última sobre metais. Os
animais também estão incluídos, assim como os elementos naturais, em
especial o ar e a água.
Os verbetes do livro são descritivos e
apontam as propriedades curativas de cada um dos itens catalogados. As
pesquisas foram feitas pela própria Hildegard, que, como se sabe, foi
monja, médica, escritora, compositora, pintora e mística do mundo
medieval. É considerada, por isso mesmo, uma precursora da homeopatia e
de outras terapias naturais. Ela fala, entre diversas outras plantas, da
urtiga, da chicória, da arruda, do funcho, do alho, da papoula, da
calêndula, do lírio, da verbena e da arnica. Sobre a canela, por
exemplo, Hildegard diz que ela diminui o mau humor de quem a come com
frequência. Um biscoito que leva canela, noz-moscada (ótima para abrir
os sentidos) e um pouco de cravos pode ser um antídoto eficaz contra o
amargor do coração. É também um bom purificador da sensibilidade. Já as
compressas de erva-doce na testa podem amenizar a melancolia. Para quem
está com a mente atormentada, nada como uma compressa de poejo molhada
no vinho para aliviar o tormento. Em outras palavras, cada erva tem, na
visão da médica, uma propriedade oculta capaz de muitos milagres. E
também certos animais tem esse poder, como alguns peixes que integram o
livro. Daí sua dica para quem sofre de dor de dente: colocar, à noite,
pó de osso de salmão no lugar onde dói.
Para preparar vários dos
seus elixires, Hildegard utilizava azeite, vinho, vinagre, pão e mel.
Aliás, são muitas as receitas que fez à base de vinho – este produzido
nas vinícolas que ficavam perto do convento onde a monja vivia, às
margens do Rio Reno. Consta que ela preferia, inclusive, usar o vinho no
lugar da água para preparar os remédios. É o que se lê nas páginas de
Os remédios de Santa Hildegard de Bingen, do francês Paul Ferris.
José
Pio – médico homeopata e querido amigo de longa data – emprestou-me, há
poucos meses, um livro que trata dos estudos da monja-médica alemã
sobre os efeitos das pedras preciosas no nosso ritmo biológico. Cada
pedra tem uma hora própria para seu efeito terapêutico, na visão da
santa. A esmeralda atua na parte da manhã; o topázio é a pedra da nona
hora do dia; a calcedônia pertence ao início da noite, quando o sol
quase desapareceu. E assim por diante. Do cristal, ela diz: quem está
com os olhos embaçados pode se valer do cristal. E recomenda: “Aqueça-o
sob o calor do sol e o coloque sobre os olhos”.
Quase tudo o que
Hidegard escreve se aproxima da poesia, mesmo quando o tema se insere
no mundo da medicina natural ou da teologia. Digo que só de ler seus
verbetes sobre plantas, animais e pedras já me sinto aliviada de alguns
males do corpo e do espírito. Suas palavras têm, elas mesmas, o dom da
cura.
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