terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O impacto da obesidade no Brasil - Rodrigo D'Alessandro de Macedo

O impacto da obesidade no Brasil 
 
Rodrigo D'Alessandro de Macedo
Ortopedista, presidente da Sociedade Brasileira de Coluna  Regional MG
Estado de Minas: 25/02/2014


O número de pessoas obesas tem aumentado de forma progressiva na população brasileira e a consequência é que a qualidade de vida e a saúde diminuem de forma proporcional. Muito se tem dito sobre o impacto da obesidade para o sistema cardiorrespiratório, diversos artigos relatam uma maior incidência de diabetes, hipertensão arterial e eventos isquêmicos como infarto agudo do miocárdio em pacientes obesos.

Porém é importante citar a repercussão sobre o sistema musculoesquelético. A obesidade é um dos fatores fortemente relacionados à dor na coluna e artrose em articulações que suportam o nosso peso (como quadris, joelhos, tornozelos e articulações dos pés). Essas condições se manifestam por dor crônica que determina, por sua vez, um ciclo vicioso em que os pacientes diminuem as atividades físicas devido à dor e, consequentemente, interfere no controle do peso corporal.

As cartilagens são tecidos que recobrem as superfícies das articulações e propiciam um movimento suave. Elas atuam como amortecedores e, como tais, apresentam uma vida útil funcional limitada e, quando expostas a uma carga excessiva, acabam se degenerando precocemente, determinando uma condição denominada de artrose. Infelizmente, ainda não existe tratamento que consiga recuperar a cartilagem deteriorada de forma efetiva.

Além dos custos pessoais em relação à qualidade de vida das pessoas, há um enorme custo econômico. Sabe-se que os quadros de lombalgia representam a segunda causa mais frequente de absenteísmo ao trabalho. Soma-se a isso o fato de que o tratamento da artrose dos membros inferiores é prolongado, com uso de medicamentos, reabilitação fisioterápica e em algumas situações há necessidade de procedimentos cirúrgicos, o que demanda recursos financeiros significativos ao estado e à população. Em determinadas situações, os procedimentos cirúrgicos adquirem riscos elevados pelas comorbidades que mais frequentemente acometem esses pacientes. Cria-se uma situação de difícil solução, pois a não realização de cirurgia leva a um sedentarismo que, por sua vez, dificulta o controle de determinadas condições clínicas e aumenta o risco de diversas doenças.

É importante investir em medidas que façam frente a essa tendência à obesidade em nossa sociedade. Medidas que se justifiquem tanto no plano de qualidade de vida como de recursos utilizados para tratamento das consequências.

Medidas simples como o estimulo à prática esportiva e alimentação saudável são fundamentais. Essas medidas preventivas, quando começam na infância, apresentam o maior impacto na redução da obesidade. As crianças desde cedo devem ser orientadas sobre a importância da prática esportiva diária. Elas se tornarão adultos com uma maior probabilidade de sentirem necessidade do esporte durante toda a vida. Verificamos que muitos países têm estimulado o esporte junto às escolas e universidades, propiciando um ambiente favorável à prática esportiva e fornecendo bolsas de estudo para os atletas. Mesmo que o aluno não se torne um atleta profissional, ele teve oportunidade de obter o aprendizado do esporte e seguir uma carreira profissional.

É importante investir em locais públicos como praças, quadras esportivas, parques e piscinas públicas. Informações veiculadas pela imprensa sobre a importância de uma alimentação saudável devem ser divulgadas de forma contínua. Um maior controle sobre a venda de produtos extremamente calóricos e pouco nutritivos deve ser realizado.

Infelizmente, muito pouco tem se observado no Brasil medidas que visem combater esse problema, que adquire cada vez mais uma proporção maior. Não se tem dado o enfoque a esse problema de forma responsável. Pode-se dizer que, de forma análoga ao investimento em medidas sanitárias, um real gasto no combate da obesidade representará centenas de reais economizados no tratamento das repercussões médicas da obesidade, além da melhora da qualidade de vida de nossa população.

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