terça-feira, 18 de março de 2014

Ecos do big bang‏

Ecos do big bang
 
Pela primeira vez, cientistas detectam as ondas gravitacionais surgidas no momento de criação do Universo. Descoberta comprova a teoria de Albert Einstein e praticamente elimina as dúvidas de que o Cosmos surgiu de uma única partícula que se expandiu aceleradamente há bilhões de anos


Paloma Oliveto
Estado de Minas: 18/03/2014


Há 13,8 bilhões de anos, uma partícula subatômica começou a se inflar tão rapidamente que, no inimaginável intervalo de um quadrilionésimo de segundo, adquiriu a forma de uma bola de futebol. Era o despertar do Universo. Dentro dessa gota de energia condensada ocorria um turbilhão de atividades que dariam origem a galáxias, estrelas, planetas e, finalmente, ao homem. Esse movimento de expansão deixou sua marca, jamais apagada, mas só agora identificada: as ondas gravitacionais. A detecção do movimento ondulatório da energia foi anunciada ontem em uma coletiva de imprensa do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, em Cambrigde, nos Estados Unidos.

Em sua teoria da relatividade, Albert Einstein propôs a existência desses movimentos sinuosos pelo espaço-tempo, provocados pelo deslocamento de objetos. Tal como um barco imprime ondas no mar, a energia resultante do nascimento do Cosmos “amarrota” o tecido universal à medida que se desloca.

Segundo o físico, a gravidade é a forma como a massa deforma o espaço. Perto de qualquer corpo massivo, o espaço fica curvado. Mas a ondulação não se concentra junto ao objeto que a provocou. Einstein disse que, na realidade, ela pode se propagar pelo Universo da mesma forma que as ondas sísmicas se deslocam por toda a crosta terrestre. Diferentemente destas, porém, as gravitacionais são capazes de viajar no espaço vazio, à velociadade da luz. Detectar a existência dessas entidades era o que faltava para validar as ideias de Einstein e a teoria da inflação cósmica, proposta na década de 1980 e que tem como base a teoria da relatividade.

Há décadas os cientistas escaneiam o céu em busca dessas ondas invisíveis. “Ao detectá-las, você tem nas suas mãos muita informação sobre o processo inflacionário do nosso Universo”, justifica John Carlstrom, professor de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Chicago. “Existem muitas ideias diferentes sobre a origem do Universo, mas apenas uma delas diz ter havido o big bang, essa flutuação quântica incrível. Ela é única, também, que prevê a existência de ondas gravitacionais em níveis detectáveis”, diz ao Estado de Minas. Ao identificar a atividade das ondulações, o cientista acredita que pouco poderá ser argumentado, agora, contra a teoria de que o Universo nasceu de uma gotinha de energia que foi inflando e assim continuará infinitamente.

Espiral As ondas gravitacionais foram encontradas pelo telescópio Bicep (sigla em inglês para Imagem de Fundo de Polarização Cósmica Extragalática). Esse instrumento, localizado no Polo Sul, investiga a radiação cósmica de fundo em micro-ondas, um sinal eletromagnético surgido quando o Universo era bastante jovem — com apenas 380 mil anos. Naquela época, as estrelas sequer haviam sido criadas e a matéria vagava pelo espaço em forma de plasma. “Esse tipo de radiação só poderia ter origem em uma fonte de calor condizente com a resultante da inflação do cosmos em suas primeiras frações de segundo de vida”, explica Carlstrom. Modelos de computador indicavam que a passagem das ondas gravitacionais primordiais pelo plasma seguiria um padrão de espiral. Foi exatamente isso que o Bicep detectou.

“Essa é uma evidência cosmológica totalmente nova de que a teoria inflacionária se sustenta”, disse ao site da revista Nature o físico teórico Alan Guth, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Foi ele que propôs a teoria da inflação do Universo, em 1980. Para Guth, a descoberta merece um prêmio Nobel. Em um comunicado de imprensa, Clem Pryke, pesquisador da Universidade de Minnesota que participou do estudo, disse que a força do sinal de propagação das ondas é mais forte do que o imaginado. “Foi como procurar uma agulha no palheiro, e, em vez disso, achar um pé de cabra”, comparou. “Detectar esse sinal era um dos objetivos mais importantes da cosmologia”, completou John Kovac, do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, que liderou a pesquisa.

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