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Pery que o mundo ouviu
Selo Discobertas lança pacote com sete álbuns do cantor, gravados entre 1967 e 1972, que representam carreira internacional de sucesso nos Estados Unidos, México e Japão
Otacílio Lage
Estado de Minas: 21/03/2014
Pery Ribeiro veio a Belo Horizonte em outubro de 2002, para prestigiar espetáculo sobre a mãe, a cantora Dalva de Oliveira |
Um ano depois de lançar a primeira caixa – produção entre 1961 e 1966 – para lembrar a morte do cantor Pery Ribeiro, ocorrida no Rio de Janeiro em fevereiro de 2012, a gravadora Discobertas, para marcar o segundo aniversário dessa perda inestimável para a música popular brasileira, manda às lojas outro box de sete álbuns, Pery internacional (1937-2012), abrangendo o período de 1967 a 1972 da carreira do artista. São álbuns gravados no Brasil, Estados Unidos, México e Japão, uma verdadeira raridade. A edição documenta uma fase em que Pery buscou, no exterior, dar maior visibilidade à sua carreira.
O primeiro disco, Gemini V en Mexico (1967), traz Pery, Leny Andrade e o Bossa Três – Luiz Carlos Vinhas (piano), Octavio Vailly Jr. (contrabaixo) e Ronie Mesquita (bateria) – interpretando composições como Samba de verão (Marcos Valle), Reza e Último canto (ambas de Edu Lobo e Ruy Guerra), Tristeza (Haroldo Lobo), O pato (Jayme Silva e Neusa Teixeira) e Rosa morena (Dorival Caymmi). No álbum Pery (1968), o cantor, acompanhado do Primo Quinteto, brilha em Máscara negra (Zé Ketti), Na Baixa do Sapateiro (Ary Barroso), Água de beber (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), Corcovado (Tom Jobim), Arrastão (Edu Lobo e Vinicius). Há três bônus: The girl from Ipanema (Tom e Vinicius), Quiet Nights (Tom) e And roses and roses (Dorival Caymmi). Bossa Rio (1968), produzido originalmente por Sergio Mendes, traduz Pery Ribeiro nos EUA: Por causa de você, menina (Jorge Bem), Canção do sal (Milton Nascimento), Wave (Jobim), Day by day (Sammy Cahn, Axel Stordahl e Paul Weston) e Gentle rain (Luiz Bonfá).
Em Alegria/Bossa Rio (1969), a coletânea é enriquecida com Zazueira (Jorge Ben), Andança (Dorival Caymmi, Eduardo Souto Neto e Paulinho Tapajós), Mustang cor de sangue (Marcos e Paulo Sérgio Valle) e Don’t do breaking my heart (Burt Bacharach e Hal David). Marcado pela bossa nova, da qual foi um dos mais destacados intérpretes, Pery Ribeiro assume a função de crooner requintado em um dos melhores discos da caixa: Bossa Rio/Live in Japan (1970). Acompanhado pela voz de Gracinha Leporace e pelo grupo, Pery dá o seu recado desde Osaka, no Japão, em canções como Canto de Ossanha (Baden Powell e Vinicius de Moraes), Irene (Caetano Veloso), Eleanor Rigby, come and get it e Blackbird (John Lennon e Paul McCartney) e Far away (Octavio Bailly Jr. e Lani Hall).
No CD Pery Ribeiro (1971) destacam-se as composições O que faço para te esquecer e Pra você (Silvio César), Canto puro amor (Tito Madi), Coisas (Taiguara), Praça Onze (Herivelto Martins e Grande Otelo), Agora (Ivan Lins e Ronaldo M. de Souza) e Vida ruim (Catulo de Paula). Em Pery Ribeiro (1972), o cantor procura aproximar-se da música que se fazia no Brasil de então. Expande seu repertório contemporâneo gravando gente nova da época: Dois animais na selva suja da rua (Taiguara), Morte do amor (Antônio Carlos e Jocafi) e as autorais Metades (parceria com Gerson) e Canto livre (parceria com o pai, Herivelto Martins).
A produção é de Marcelo Fróes, com remasterização de Ricardo Carvalheira. Esta é a primeira vez que esses discos são lançados em CD no Brasil, com as capas reproduzindo as artes originais dos LPs. Encartes com textos e fotos acompanham as edições. O preço médio da caixa é R$ 150.
ANOS 60 Há um ano, a gravadora Discobertas lançou a caixa, com sete CDs, Pery Ribeiro anos 60, para lembrar um ano da morte do cantor. A coletânea, primorosa, indispensável, reuniu os álbuns Eu gosto da vida (1961) – Vou me aposentar do meu amor (Paulo Tito e Ricardo Galeno), Até quando (Marino Pinto e Vadico), Cantiga de quem está só (Evaldo Gouveia e Jair Amorim) –, Pery Ribeiro e seu mundo de canções românticas (1962) – Meu nome é ninguém (Luiz Reis e Haroldo Barbosa), Caminhemos (Herivelto Martins), Alguém como tu (José Maria de Abreu e Jair Amorim) –, Pery é todo bossa (1963) – Só eu sei (Tito Madi), Samba de uma nota só (Tom Jobim e Newton Mendonça), O barquinho (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli) –, Pery muito mais bossa (1964) – Berimbau (Baden Powell e Vinicius de Moraes), Feio não é bonito (Carlos Lyra e Gianfrancesco Guarnieri), Moça da praia (Roberto Menescal e Lula Freire) –, Pery (1965) – Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro), Enquanto a tristeza não vem (Sérgio Ricardo) –, Show da boate Porão 73 – Preciso aprender a ser só (Marcos e Paulo Sérgio Valle), Consolação (Baden Powell e Vinicius); A felicidade (Tom Jobim e Vinicius), e Encontro Pery + Bossa Três (1966) – Olê olá (Chico Buarque), Tristeza (Haroldo Lobo e Niltinho). Ao todo, são 99 músicas.
Família musical e polêmica
Pery Ribeiro, nascido Peri Oliveira Martins, no Rio de Janeiro, em 27 de outubro de 1937, morreu aos 74 anos, vítima de um infarto, quando tratava de uma endocardite em um hospital de Vila Isabel. Era filho da cantora Dalva de Oliveira (1917-1972) e do cantor e compositor Herivelto Martins (1912-1992), casal que entre brigas, separações e reatamentos contribuiu muito para a música popular brasileira. Dalva com sua voz diferenciada, e Herivelto com suas letras emblemáticas, como Caminhemos, Camisola do dia, Isaura, Ave-maria do morro e Atiraste uma pedra, algumas delas em parceria com David Nasser.
Pery iniciou a carreira artística aos 3 anos, quando fez a dublagem do anão Dengoso em filmes de Walt Disney ao lado da mãe, que interpretava a Branca de Neve. Aos 5, em 1942, participou de It’s all true, o filme inacabado de Orson Welles, filmado no Brasil. Em 1959, trabalhando na TV Tupi como operador de câmera, foi convidado para participar do programa de Paulo Gracindo, na Rádio Nacional. Assumiu, então, o nome artístico de Pery Ribeiro, seguindo sugestão de César de Alencar. Ainda em 1960, gravou seu primeiro disco, um compacto, com a canção Sofri você (Ricardo Galeno e Paulo Tito), entre outras.
Em 1961, gravou Manhã de carnaval e Samba de Orfeu (ambas de Luiz Bonfá e Antônio Maria), seguindo-se a primeira versão comercial de Garota de Ipanema (Tom Jobim e Vinicius de Moraes). Lançou 32 álbuns, sendo 12 discos dedicados à bossa nova. Desenvolveu trabalhos mais jazzísticos, ao lado de Leny Andrade, viajando pelo México, Japão, Europa e Estados Unidos, onde atuou também ao lado do conjunto de Sérgio Mendes, de 1966 a 1970. Entre os 50 troféus e 12 prêmios que ganhou destacam-se o Roquette Pinto, o Chico Viola e o Imprensa. Foi apresentador de programas de televisão e participou de alguns filmes no cinema nacional.
Em 2012, a revista Rolling Stone Brasil declarou-o número 64 entre os 100 melhores cantores do Brasil. Para a revista, ele "foi, possivelmente, o cantor mais subestimado do Brasil, apesar de ele ter se tornado uma das principais vozes da bossa nova". De fato, técnica, afinação, gosto apurado, inteligência musical: Pery tinha tudo isso de sobra e cantava todos os estilos. Ele tinha cinco irmãos: um de pai e mãe (Ubiratan), três por parte de pai (Fernando, Yaçanã e Herivelto Jr.) e uma irmã adotiva, por parte de mãe. Pery teve dois filhos: Paula, do primeiro casamento, com Tereza, e Bernardo, do casamento com Ana Duarte. Morou durante 10 anos com a segunda família em Miami, na Flórida, retornando em 2007 para o Rio de Janeiro.
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