Atenção aos dentes na terceira idade
Estudo japonês mostra os riscos de desnutrição em idosos gerados por problemas relacionados às perdas na dentição
Vilhena Soares
Estado de Minas: 27/03/2014
Puxões de orelha
para escovar os dentes são comuns em crianças, que ouvem o alerta dos
pais durante toda a infância. A saúde bucal, porém, precisa de
vigilância também décadas depois das primeiras broncas: na terceira
idade. Com o tempo, muitas pessoas perdem dentes por conta de descuidos e
doenças, o que compromete a ingestão de alimentos e pode debilitar um
organismo já marcado pelas fragilidades acarretadas pelo envelhecimento.
Cientistas japoneses realizaram estudo que mostra o quanto os idosos
podem se prejudicar ao deixar de cuidar da boca. Eles reforçam que mais
visitas ao dentista e tratamentos como implantes e próteses podem
contribuir para a diminuição de deficiências nutricionais depois dos 60
anos.
Shingo Moriyaa, um dos autores do estudo e pesquisador do Instituto Nacional de Saúde Pública Health, explica que o trabalho buscou analisar se os idosos com problemas de dentição enfrentavam mais dificuldades relacionadas à alimentação. Ele destaca que essa preocupação tem sido constante e foco de estudo de muitos cientistas. “Examinamos as relações entre as condições bucais e as gerais, ou seja, a nutrição, o desempenho físico, a capacidade funcional, a necessidade de cuidados de longa duração e a longevidade. Essas ligações foram estabelecidas em muitos outros trabalhos”, destaca, no estudo publicado na revista Japanese Dental Science Review.
Segundo Moriyaa, os idosos analisados que tinham menos de 28 dentes relataram um significativo consumo menor de cenouras, saladas e fibras alimentares em comparação àqueles com a dentição mais completa. “Eles também apresentaram menores níveis de betacaroteno (antioxidante presente em plantas, ácido fólico e vitamina C), indicando que a condição dentária afetava significativamente a dieta e a nutrição”, destaca o cientista.
O organismo malnutrido, entre outras debilidades, dificulta a locomoção de idosos, aumentando os riscos de quedas. Estudo recente da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca indica que a mortalidade acumulada em um ano em decorrência de tombos é de 25,2% em idosos vítimas de quedas graves e de 4% nos que sofreram acidentes mais leves. “Muitos estudos como o nosso têm mostrado que a mortalidade é significativamente associada com o estado dental. Para corrigir essa mastigação, acreditamos que nada mais adequado do que a utilização de próteses”, defende Shingo Moriyaa.
Professora de odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Dalva Padilha ressalta que outros recursos podem ser utilizados para que esses problemas não afetem a saúde dos idosos. “No caso da desnutrição, pode-se cuidar para que a pessoa tenha uma dieta mais adequada. Ela precisa se adaptar ao que pode comer”, diz. No entanto, a especialista frisa que o mais importante é a manutenção dos dentes. “O ideal é fazer sempre uma boa manutenção, visitando o dentista periodicamente. Nada é melhor do que a dentição natural. Existe um mito de que, ao envelhecer, perderemos todos os dentes. Isso está errado, podemos seguir toda a vida com eles”, complementa.
Léo Kriger, coordenador de Saúde Bucal do Estado do Paraná e professor da PUC Paraná, também ressalta que a manutenção é a melhor arma de proteção para os idosos. “Antigamente, não existia um diagnóstico adequado. Até a descoberta de problemas na boca o paciente enfrentava um longo percurso. Hoje, já temos técnicas mais avançadas. As novas gerações vão chegar à terceira idade com todos os dentes, pois há muitas intervenções eficazes e que garantem a longevidade da dentição.”
Kriger acredita que os idosos têm se preocupado mais com a saúde bucal e ido mais ao dentista em busca de minimizar problemas. Em alguns casos, uma postura que reflete mudanças no atendimento oferecido pelo sistema público de Saúde. “Durante muitos anos, as secretarias de saúde deram atenção somente à saúde bucal das crianças, mas isso está mudando. Agora, o foco é no paciente durante toda a vida e isso fez com que as pessoas mais velhas procurassem mais esses serviços. Esse cuidado é de extrema importância, pois existem problemas que podem até influenciar problemas cardíacos, que podem se agrava na terceira idade”, complementa.
Alternativas nutricionais
Um dos maiores problemas nutricionais enfrentados pelo idoso é a deficiência na digestão proteica, que pode provocar a diminuição de produção de ácido clorídrico, necessário para a digestão. A condição pode ser agravada pela dificuldade de mastigação, segundo o nutricionista Murilo Pereira, do Centro Universitário Iesb de Brasília. “A diminuição do ácido clorídrico, que nós chamamos de hipocloridria, exige ainda assim uma mastigação melhor dos alimentos, porém muitos idosos sofrem com esses problemas dentais e precisam de uma atenção maior quanto à alimentação”, destaca.
Pereira explica que uma alternativa utilizada é o uso de suplementos. “Para preencher os nutrientes que não são ingeridos em alimentos mais duros, principalmente a carne, recomendamos o uso de proteínas hidrolisadas, suplementos proteicos que não necessitam de trituração mecânica, e que auxiliam também na digestão caso exista a diminuição do ácido clorídrico”, destaca. “Aminoácidos de forma líquida e o whey protein também podem ser utilizados para preencher o déficit de ingestão proteica.”
O especialista destaca que o grande desafio é substituir os nutrientes das carnes pela textura dela. “No caso de frutas e legumes, eles podem ser batidos para a ingestão. Com a carne já não podemos usar essa alternativa.” (VS)
Palavra de especialista
Katyuscia Lurentt, cirurgiã dentista do Hospital Adventista Silvestre, no Rio de Janeiro
Métodos mais acessíveis
“ É um mito falarmos que, com a idade, iremos perder os dentes. Se for feita a visitação de seis em seis meses ao dentista, a pessoa poderá conseguir prevenir a perda óssea e da gengiva e chegar aos 80 ou 90 anos com todos os dentes. Uma das preocupações que temos com os idosos, por exemplo, é em relação ao uso de antidepressivos, comuns nessa idade, e que podem provocar uma salivação menor. A saliva é algo importante, pois previne o dente e a mucosa. Quanto à mastigação, estratégias podem ser a mudança da dieta e as próteses. Mas, caso haja recursos financeiros, vale investir no implante fixo, que substitui as funções exatas de um dente. Uma opção para quem não pode pagar pelos implantes é buscar faculdades que desenvolvem trabalhos nessa área. Nelas, os idosos podem ser atendidos a custos mais baixos.”
Shingo Moriyaa, um dos autores do estudo e pesquisador do Instituto Nacional de Saúde Pública Health, explica que o trabalho buscou analisar se os idosos com problemas de dentição enfrentavam mais dificuldades relacionadas à alimentação. Ele destaca que essa preocupação tem sido constante e foco de estudo de muitos cientistas. “Examinamos as relações entre as condições bucais e as gerais, ou seja, a nutrição, o desempenho físico, a capacidade funcional, a necessidade de cuidados de longa duração e a longevidade. Essas ligações foram estabelecidas em muitos outros trabalhos”, destaca, no estudo publicado na revista Japanese Dental Science Review.
Segundo Moriyaa, os idosos analisados que tinham menos de 28 dentes relataram um significativo consumo menor de cenouras, saladas e fibras alimentares em comparação àqueles com a dentição mais completa. “Eles também apresentaram menores níveis de betacaroteno (antioxidante presente em plantas, ácido fólico e vitamina C), indicando que a condição dentária afetava significativamente a dieta e a nutrição”, destaca o cientista.
O organismo malnutrido, entre outras debilidades, dificulta a locomoção de idosos, aumentando os riscos de quedas. Estudo recente da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca indica que a mortalidade acumulada em um ano em decorrência de tombos é de 25,2% em idosos vítimas de quedas graves e de 4% nos que sofreram acidentes mais leves. “Muitos estudos como o nosso têm mostrado que a mortalidade é significativamente associada com o estado dental. Para corrigir essa mastigação, acreditamos que nada mais adequado do que a utilização de próteses”, defende Shingo Moriyaa.
Professora de odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Dalva Padilha ressalta que outros recursos podem ser utilizados para que esses problemas não afetem a saúde dos idosos. “No caso da desnutrição, pode-se cuidar para que a pessoa tenha uma dieta mais adequada. Ela precisa se adaptar ao que pode comer”, diz. No entanto, a especialista frisa que o mais importante é a manutenção dos dentes. “O ideal é fazer sempre uma boa manutenção, visitando o dentista periodicamente. Nada é melhor do que a dentição natural. Existe um mito de que, ao envelhecer, perderemos todos os dentes. Isso está errado, podemos seguir toda a vida com eles”, complementa.
Léo Kriger, coordenador de Saúde Bucal do Estado do Paraná e professor da PUC Paraná, também ressalta que a manutenção é a melhor arma de proteção para os idosos. “Antigamente, não existia um diagnóstico adequado. Até a descoberta de problemas na boca o paciente enfrentava um longo percurso. Hoje, já temos técnicas mais avançadas. As novas gerações vão chegar à terceira idade com todos os dentes, pois há muitas intervenções eficazes e que garantem a longevidade da dentição.”
Kriger acredita que os idosos têm se preocupado mais com a saúde bucal e ido mais ao dentista em busca de minimizar problemas. Em alguns casos, uma postura que reflete mudanças no atendimento oferecido pelo sistema público de Saúde. “Durante muitos anos, as secretarias de saúde deram atenção somente à saúde bucal das crianças, mas isso está mudando. Agora, o foco é no paciente durante toda a vida e isso fez com que as pessoas mais velhas procurassem mais esses serviços. Esse cuidado é de extrema importância, pois existem problemas que podem até influenciar problemas cardíacos, que podem se agrava na terceira idade”, complementa.
Alternativas nutricionais
Um dos maiores problemas nutricionais enfrentados pelo idoso é a deficiência na digestão proteica, que pode provocar a diminuição de produção de ácido clorídrico, necessário para a digestão. A condição pode ser agravada pela dificuldade de mastigação, segundo o nutricionista Murilo Pereira, do Centro Universitário Iesb de Brasília. “A diminuição do ácido clorídrico, que nós chamamos de hipocloridria, exige ainda assim uma mastigação melhor dos alimentos, porém muitos idosos sofrem com esses problemas dentais e precisam de uma atenção maior quanto à alimentação”, destaca.
Pereira explica que uma alternativa utilizada é o uso de suplementos. “Para preencher os nutrientes que não são ingeridos em alimentos mais duros, principalmente a carne, recomendamos o uso de proteínas hidrolisadas, suplementos proteicos que não necessitam de trituração mecânica, e que auxiliam também na digestão caso exista a diminuição do ácido clorídrico”, destaca. “Aminoácidos de forma líquida e o whey protein também podem ser utilizados para preencher o déficit de ingestão proteica.”
O especialista destaca que o grande desafio é substituir os nutrientes das carnes pela textura dela. “No caso de frutas e legumes, eles podem ser batidos para a ingestão. Com a carne já não podemos usar essa alternativa.” (VS)
Palavra de especialista
Katyuscia Lurentt, cirurgiã dentista do Hospital Adventista Silvestre, no Rio de Janeiro
Métodos mais acessíveis
“ É um mito falarmos que, com a idade, iremos perder os dentes. Se for feita a visitação de seis em seis meses ao dentista, a pessoa poderá conseguir prevenir a perda óssea e da gengiva e chegar aos 80 ou 90 anos com todos os dentes. Uma das preocupações que temos com os idosos, por exemplo, é em relação ao uso de antidepressivos, comuns nessa idade, e que podem provocar uma salivação menor. A saliva é algo importante, pois previne o dente e a mucosa. Quanto à mastigação, estratégias podem ser a mudança da dieta e as próteses. Mas, caso haja recursos financeiros, vale investir no implante fixo, que substitui as funções exatas de um dente. Uma opção para quem não pode pagar pelos implantes é buscar faculdades que desenvolvem trabalhos nessa área. Nelas, os idosos podem ser atendidos a custos mais baixos.”
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