As mais recentes pesquisas de intenção de voto nas eleições para o
Parlamento Europeu, a serem realizadas de 22 a 25 de maio, captam um
fenômeno novo e, até certo ponto, histórico. Da Finlândia à Grécia,
organizações de origens e perfis variados, mas que compartilham uma
forte rejeição à imigração e um discurso abertamente racista parecem
prontas a deixar a marginalidade política onde vegetaram nos últimos 25
anos e se tornar uma força decisiva em Estrasburgo.
O caso mais surpreendente é o da Grã-Bretanha, onde o Partido
Independente (Ukip, em inglês) ostenta mais de 30% de intenção de voto
na faixa mais convicta do eleitorado. Ontem, um candidato do Ukip foi
obrigado a renunciar depois de sugerir que o comediante Lenny Henry
voltasse para “um país de negros”.
Na França, a Frente Nacional (FN), de Marine Le Pen, que conquistou
importantes prefeituras em cidades pequenas e médias no último pleito
municipal, conquistaria, segundo as estimativas, 20 dos 74 assentos
europeus a que o país tem direito. Na Dinamarca, um partido
anti-imigrantes lidera as pesquisas com 27%. Na Áustria, o Partido da
Liberdade, que foi um dia comandado pelo racista ex-governador da
Caríntia Jörg Haider e hoje faz campanha contra a “islamização”, alcança
20%.
Embora a discriminação tenha uma longa história na Europa e nunca
tenha deixado de ser popular, a bandeira mais vistosa desses partidos,
todos situados à direita do arco político, é a campanha contra a
participação na União Europeia. Enquanto o megainvestidor
húngaro-americano George Soros diz em entrevista à mais recente edição
da revista The New York Review of Books que “o euro veio para ficar”, a
maioria dos cidadãos europeus vê o bloco como incapaz de oferecer mais
do que soluções tecnocráticas para a crise econômica. Até o momento, a
extrema direita não esboçou uma política verdadeiramente europeia – a
maioria desses partidos mira antes de tudo o poder doméstico. Mas, se
acordarem em 26 de maio como segunda ou terceira força no Parlamento
Europeu, terão de arcar com as novas responsabilidades. Diante disso,
será preciso pensar em algo mais do que selfies com bananas nas redes
sociais.
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