Músculos regenerados com células de porco
Procedimento criado por cientistas dos
EUA destina-se ao tratamento de lesões graves. O material é implantado
nas feridas dos pacientes e acelera a recuperação dos tecidos
Vilhena Soares
Estado de Minas: 04/05/2014
Quando graves, quedas
e torções de membros podem provocar danos sérios à musculatura,
prejudicando movimentos exigidos em atividades do dia a dia, como dobrar
uma perna e correr. A reversão de problemas como esse nem sempre é a
desejada. Um grupo de pesquisadores americanos, porém, desenvolveu uma
técnica de regeneração do tecido muscular com resultados positivos. A
técnica baseia-se na aplicação de células retiradas de porcos no local
do machucado e tem potencial de ser aplicada em tratamentos de outros
tecidos do organismo humano.
De acordo com Stephen Badylak, um dos autores da pesquisa divulgada na revista Science Translational Medicine, participaram do experimento voluntários com diferentes tipos de perda da massa muscular em decorrência de lesões, também detectadas em grupos musculares distintos. Os cinco voluntários receberam uma matriz extracelular – substância que preenche o espaço entre as células e tem por componentes fibrosos – retirada da bexiga de porcos.
Após a cirurgia, os pacientes foram tratados com fisioterapia. A junção de tratamentos, de acordo com os cientistas, resultou em melhora de movimentação em todos os operados. Os pesquisadores explicam que a matriz extracelular induziu as células-tronco dos participantes a se tornarem células musculares.
Badylak avalia que uma das grandes vantagens da técnica é de, diferentemente das tradicionais, cultivar células-tronco em um ambiente externo ao corpo e depois injetá-las em pacientes. Dessa forma, a pessoa recebe estruturas “indutoras” de regeneração diretamente na ferida, simplificando e agilizando a reação do corpo. “Utilizar uma abordagem que não envolve a entrega de todas as células é importante porque simplifica muito os obstáculos regulatórios que precisariam ser superados e também o custo da terapia. Conseguimos um método eficaz para a restauração muscular vascularizada”, explica o também professor do Departamento de Cirurgia da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos.
Os pesquisadores acreditam que a matriz extracelular funciona como um andaime biológico. “A ciência por trás desse estudo mostra que o material implantado é quimiotático, ou seja, os peptídeos liberados por ele servem de dispositivo para as células-tronco do próprio corpo serem recrutadas para o local da lesão e, em seguida, poderem se diferenciar”, explica Badylak.
Patrícia Prank, coordenadora do Laboratório de Hematologia e Células-Tronco da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que a técnica usada no estudo é uma alternativa de tratamento já explorada por outros pesquisadores da área. “O andaime tem esse nome justamente por servir como um suporte para o crescimento de células-tronco. Ao ser implantado, atrai as células até o local em que o tecido precisa ser regenerado. No nosso laboratório, produzimos uma matriz biodegradável (ainda em testes). No caso desses cientistas, eles retiraram o material de porcos, possivelmente pela semelhança dos organismos e conseguiram sucessos reais em humanos”, relata.
Reabilitação imediata Além do impulso da matriz celular, a fisioterapia a que os participantes foram submetidos exerceu papel importante nos resultados atingidos. Os cientistas frisam que, sem o acompanhamento quase imediato, os músculos não teriam recuperado o desempenho. “Esses pacientes foram colocados em reabilitação em um prazo de 24 a 48 horas após a cirurgia. É nesse intervalo que as células entram e se anexam. Depois, o paciente vai para a terapia física, ele se ‘estica’ e as células se carregam e começam a trabalhar”, detalha Badylak.
Ricardo Garcez, pesquisador do Laboratório de Células-Tronco e Regeneração Tecidual da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explica que as atividades físicas servem como mais um estímulo a fim de que os músculos recuperem a elasticidade. “O tecido muscular está em movimento constante. À medida que ele se movimenta, mais elasticidade terá. É um trabalho conjunto entre a cirurgia e a recuperação”, destaca.
O cientista brasileiro também avalia que o trabalho americano se destaca por não ter gerado efeitos colaterais. “Essa técnica mostra resultados muito positivos, principalmente por não ter nenhuma rejeição às células implantadas, que também acabam se degradando com o tempo, sem nenhum dano ao corpo humano”, complementa.
Badylak acredita que, se as feridas tratadas pela técnica tivessem sido recentes, os resultados seriam ainda melhores. Como estariam “abertas”, a ação da matriz extracelular seria facilitada. O trabalho ainda precisa de mais aprofundamento, como o teste em um número maior de pacientes, mas o pesquisador tem esperanças de que o procedimento seja benéfico para outras partes do corpo humano. “Quando você quiser mover essas células para outros tecidos, como o do coração, do trato gastrointestinal ou do reprodutivo, os conceitos são os mesmos e os fenômenos vão se repetir. Acho que a possibilidade existe, a lógica está lá, mas, como qualquer boa ciência, vai precisar ser provada. Acreditamos que esse é um dos mecanismos mais importantes na área de remodelação construtiva.”
De acordo com Stephen Badylak, um dos autores da pesquisa divulgada na revista Science Translational Medicine, participaram do experimento voluntários com diferentes tipos de perda da massa muscular em decorrência de lesões, também detectadas em grupos musculares distintos. Os cinco voluntários receberam uma matriz extracelular – substância que preenche o espaço entre as células e tem por componentes fibrosos – retirada da bexiga de porcos.
Após a cirurgia, os pacientes foram tratados com fisioterapia. A junção de tratamentos, de acordo com os cientistas, resultou em melhora de movimentação em todos os operados. Os pesquisadores explicam que a matriz extracelular induziu as células-tronco dos participantes a se tornarem células musculares.
Badylak avalia que uma das grandes vantagens da técnica é de, diferentemente das tradicionais, cultivar células-tronco em um ambiente externo ao corpo e depois injetá-las em pacientes. Dessa forma, a pessoa recebe estruturas “indutoras” de regeneração diretamente na ferida, simplificando e agilizando a reação do corpo. “Utilizar uma abordagem que não envolve a entrega de todas as células é importante porque simplifica muito os obstáculos regulatórios que precisariam ser superados e também o custo da terapia. Conseguimos um método eficaz para a restauração muscular vascularizada”, explica o também professor do Departamento de Cirurgia da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos.
Os pesquisadores acreditam que a matriz extracelular funciona como um andaime biológico. “A ciência por trás desse estudo mostra que o material implantado é quimiotático, ou seja, os peptídeos liberados por ele servem de dispositivo para as células-tronco do próprio corpo serem recrutadas para o local da lesão e, em seguida, poderem se diferenciar”, explica Badylak.
Patrícia Prank, coordenadora do Laboratório de Hematologia e Células-Tronco da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que a técnica usada no estudo é uma alternativa de tratamento já explorada por outros pesquisadores da área. “O andaime tem esse nome justamente por servir como um suporte para o crescimento de células-tronco. Ao ser implantado, atrai as células até o local em que o tecido precisa ser regenerado. No nosso laboratório, produzimos uma matriz biodegradável (ainda em testes). No caso desses cientistas, eles retiraram o material de porcos, possivelmente pela semelhança dos organismos e conseguiram sucessos reais em humanos”, relata.
Reabilitação imediata Além do impulso da matriz celular, a fisioterapia a que os participantes foram submetidos exerceu papel importante nos resultados atingidos. Os cientistas frisam que, sem o acompanhamento quase imediato, os músculos não teriam recuperado o desempenho. “Esses pacientes foram colocados em reabilitação em um prazo de 24 a 48 horas após a cirurgia. É nesse intervalo que as células entram e se anexam. Depois, o paciente vai para a terapia física, ele se ‘estica’ e as células se carregam e começam a trabalhar”, detalha Badylak.
Ricardo Garcez, pesquisador do Laboratório de Células-Tronco e Regeneração Tecidual da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explica que as atividades físicas servem como mais um estímulo a fim de que os músculos recuperem a elasticidade. “O tecido muscular está em movimento constante. À medida que ele se movimenta, mais elasticidade terá. É um trabalho conjunto entre a cirurgia e a recuperação”, destaca.
O cientista brasileiro também avalia que o trabalho americano se destaca por não ter gerado efeitos colaterais. “Essa técnica mostra resultados muito positivos, principalmente por não ter nenhuma rejeição às células implantadas, que também acabam se degradando com o tempo, sem nenhum dano ao corpo humano”, complementa.
Badylak acredita que, se as feridas tratadas pela técnica tivessem sido recentes, os resultados seriam ainda melhores. Como estariam “abertas”, a ação da matriz extracelular seria facilitada. O trabalho ainda precisa de mais aprofundamento, como o teste em um número maior de pacientes, mas o pesquisador tem esperanças de que o procedimento seja benéfico para outras partes do corpo humano. “Quando você quiser mover essas células para outros tecidos, como o do coração, do trato gastrointestinal ou do reprodutivo, os conceitos são os mesmos e os fenômenos vão se repetir. Acho que a possibilidade existe, a lógica está lá, mas, como qualquer boa ciência, vai precisar ser provada. Acreditamos que esse é um dos mecanismos mais importantes na área de remodelação construtiva.”
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