quinta-feira, 29 de maio de 2014

Homens se separam mais das mulheres quando elas adoecem, mostra estudo

Males da desunião 
 
Ao analisar 2.717 casais de idosos, pesquisadores concluem que homens se separam mais das mulheres quando elas adoecem. Esse abandono pode agravar estado físico e psicológico delas 

 
Estado de Minas: 29/05/2014

Segundo o estudo norte-americano, muitas mulheres se separam porque preferem ser cuidadas por amigos e familiares  (STR/AFP - 24/8/2012)
Segundo o estudo norte-americano, muitas mulheres se separam porque preferem ser cuidadas por amigos e familiares 


Os laços construídos ao longo do vida parecem afrouxar justamente quando o corpo passa a sofrer mais com as complicações da idade. E geralmente são os homens que decidem cortar esses vínculos. A constatação é de um estudo feito na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Ao analisar 2.717 casais, cientistas concluíram que o risco de divórcio entre os mais velhos aumenta quando a esposa – e não o marido – fica doente. “As mulheres casadas com estado de saúde bem debilitado podem, ao mesmo tempo que sofrem com o impacto da doença, experimentar o estresse do divórcio”, comenta Amelia Karraker, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Social da universidade e responsável pela pesquisa.

Amelia e o coautor do estudo, Kenzie Latham, da Universidade de Indiana, analisaram dados sobre as milhares de uniões copilados pelo Instituto de Pesquisa Social Americano desde 1992. O instituto começou a coletar informações sobre a saúde de cada casal quando pelo menos um dos parceiros tinha mais de 50 anos. A partir dos relatórios, os pesquisadores começaram a relacionar o aparecimento de quatro enfermidades consideradas graves e que tinham um alto grau de incidência dentro do grupo de pesquisa: câncer, problemas cardíacos, doenças pulmonares e acidente vascular cerebral (AVC). Os males foram relacionados com adversidades nos relacionamentos daqueles que haviam ficado doentes.

Os resultados mostraram que, de um modo geral, 31% das uniões terminaram em divórcio no período analisado, sendo que em 15% dos casos, a mulher ficou doente. Além disso, a incidência de novas enfermidades crônicas foi aumentando com o tempo, com mais maridos do que mulheres desenvolvendo problemas de saúde. A pesquisadora explica que as mulheres acabam sendo, diante dessa situação, duplamente vulneráveis à dissolução conjugal em face das complicações na saúde. “Elas são mais propensas a ficar viúvas a partir do fato de que são os maridos que ficam doentes com maior frequência. Agora, se quem ficar doente for a mulher, aumenta-se muito a possibilidade de que o relacionamento acabe em divórcio”, explica.

Influência social Embora o estudo não tenha avaliado o porquê de o divórcio ser mais provável quando as mulheres ficam gravemente doentes, Amelia Karraker oferece algumas possíveis explicações ao fato. “As normas de gênero e as expectativas sociais sobre o que demanda o cuidado com o outro podem tornar mais difícil, para o homem, prestar cuidados ao cônjuge doente”, sugere.

Psicólogo e professor da Universidade Federal de Goiás, Cláudio Freitas, especialista no acompanhamento de casais idosos, acredita que as diferenças entre os gêneros, os costumes e as aspirações individuais acabam prevalecendo com o passar da idade. “E isso costuma aflorar quando o cônjuge fica doente. Mas, para a mulher, que muitas vezes passou todo o casamento se dedicando ao marido e aos filhos, ter de cuidar do companheiro pode não ser uma mudança tão grande de realidade”, compara.

Segundo Freitas, para o idoso, cujas preocupações muitas vezes giram em torno do provimento da família, essa situação pode ser desesperadora. “Além disso, a diferença de como a sociedade enxerga uma idosa separada e o ex-marido dela acaba fazendo com que os homens divorciados tenham mais escolhas, tanto de novas atividades quanto de potenciais novas parceiras.”

Ainda assim, a decisão de terminar a relação costuma partir delas, segundo as análises lideradas por Amelia. “A justificativa para isso pode ser o fato de que, quando as mulheres ficam doentes, os maridos não fazem um bom trabalho para cuidar delas, que acabam preferindo o apoio de amigos e familiares”, esclarece a pesquisadora.


Feliz contramão Nair e José Santos Golvea, de 71 e 68 anos, respectivamente, trilham um caminho distinto da estatística. A aposentada sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) há cinco anos, e o susto acabou por unir o casal que, à época, passava por dificuldades no relacionamento. “Depois de 38 anos de casados, a gente estava meio distante um do outro. Quando eu tive o AVC, o José parece que se assustou com a possibilidade de ficar sem mim e não quis me largar mais”, conta Nair, que, em decorrência do derrame, teve o lado esquerdo do corpo parcialmente paralisado e perdeu parte da audição.

Os sintomas do problema vascular começaram a aparecer ainda em casa, com Nair sentindo náuseas e dores de cabeça. José, que estava na rua, foi encontrá-la no hospital e “desde então, não saiu do lado” da mulher. “A ideia de que um problema como esse tenha nos unido novamente pode parecer estranha, mas chega a me fazer agradecer por ter passado por isso. Não imagino como seria ficar a velhice distante do companheiro da minha vida”, declara-se a aposentada.

Dada a crescente preocupação com os custos de saúde resultantes do envelhecimento populacional, o professor Cláudio Freitas acredita que é de vital importância que os legisladores estejam cientes dessa relação entre o agravamento da saúde e o risco de divórcio. “A oferta de serviços de apoio e especialização de cuidadores conjugais pode reduzir a tensão e evitar as separações em idades avançadas”, sugere o psicólogo.

Freitas alerta ainda que o impulso para encerrar a relação pode se dar por causa dos problemas de saúde, mas, na grande maioria das vezes, ficar sozinho não é uma boa opção para quem está doente. “Pode-se passar décadas, e o relacionamento vai ter fases boas e ruins. Por isso, é importante avaliar bem a situação e não generalizar os casos. Continuar o casamento, contanto que a união seja saudável, é sempre a melhor opção”, afirma.

Em alta

No Brasil, o divórcio na terceira idade tem crescido mais do que a média em outras faixas etárias. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em quase 10 anos, houve um aumento de 9,1% no número de separações e divórcios no país: cerca de 441 mil em 1999 e 482 mil em 2008. Desse total, a quantidade de pessoas que decidiram encerrar o relacionamento quando tinham mais de 60 anos de idade passou de 14,3 mil para 25,5 mil – um aumento de 79%.

Sem solidão

Confira as dicas do geriatra José Luiz Santos para que o divórcio na terceira idade não o transforme em uma pessoa solitária ou infeliz.

1. Faça a cabeça funcionar a mil: leituras, tapeçaria, palavras cruzadas e quebra-cabeças movimentam os neurônios, estimulam o cérebro e distraem

2. Namore muito: quando a mulher entra na menopausa, às vezes perde a motivação para a vida a dois. Se isso ocorrer, procure ajuda para se adaptar à fase, que pode ser tão ou mais satisfatória que a juventude. O sexo deve ser cultivado sempre

3. Divirta-se mais: não perca convites para festas, bailes e encontros com amigos para jogar conversa fora. A vida social faz um bem enorme e evita que a depressão entre em cena e roube momentos preciosos

4. Aceite as mudanças: depois do divórcio, a vida muda drasticamente. Depende de você se vai ser para pior ou melhor. A maneira mais eficiente de e adaptar a essa nova etapa é aceitar que nada vai ser como antes e admitir que haverá transformações

5. Procure ajuda profissional: se está difícil superar o rompimento, tente mudar de vida, de cidade, de endereço, reinvente-se. Quando todo o mais não der resultado, procure ajuda profissional 

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