Ana Clara Brant
Estado de Minas: 29/05/2014
Marcius, que é formado em jornalismo e durante 15 anos cobriu o mercado financeiro |
Apesar de não estar mais envolvido com as
notícias, ele revela que sente falta do meio e que levou muita coisa dos
tempos do jornalismo para a televisão |
Marcius Melhem cria vários personagens no programa humorístico: do apresentador de auditório ao compositor Mozart |
O principal destaque de Tá no ar – A TV na TV, na Globo, cujo penúltimo episódio da primeira temporada vai ao ar hoje à noite, é sem dúvida Marcelo Adnet. Mas quem idealizou o programa que caiu no gosto do público e da crítica e, principalmente, pensou em algo para que o humorista ex-MTV brilhasse foi o ator e roteirista Marcius Melhem, de 42 anos. “A ideia inicial foi minha, mas depois mudamos um pouco o conceito. Desde o começo, pensei em escrever um programa em que o Adnet pudesse mostrar todo o repertório dele, seja como ator, cantor ou imitador. E não é só ele quem está brilhando. Acho que todo o elenco, de uma maneira geral”, ressalta Marcius, que além de atuar, é um dos roteiristas de Tá no ar.
A atração, que estreou no começo de abril, tem sido muito comparada com o extinto TV Pirata, já que também satiriza situações e personagens típicos da televisão, além do fato de o espectador ter a sensação de assistir TV sem o domínio do controle remoto.
Mesmo com o horário um pouco ingrato, já que vai ao ar às 0h10 de quinta para sexta, a audiência da atração superou as expectativas. Tanto é que a segunda temporada já está praticamente assegurada. No fim do segundo semestre, os atores entram em estúdio para gravar. “É um programa com alguns méritos. Ele tem uma linguagem e um formato muito diferente. É ágil, dinâmico, muito bem realizado, tem uma boa direção, e você realmente acredita que está mudando de canal, porque cada série, cada quadro, tem a sua luz própria, seu cenário. É uma junção de fatores que explica esse sucesso. Sem falar nessas magias que só acontecem em televisão”, diz.
Com quase três meses no ar, e “zoando” de tudo e todos, Marcius Melhem conta que a única reação negativa com relação ao programa ocorreu na semana passada, quando exibiram uma paródia do seriado Friends, intitulada Crentes, no qual brincaram com algumas peculiaridades e comportamentos dos evangélicos. “Foi uma minoria mais barulhenta que reclamou, pois boa parcela dos evangélicas pediu até mais humor. A gente brinca com todas as religiões, seja com o budismo, o catolicismo ou com os evangélicos. Não há perseguição específica a ninguém. Aliás, brincamos com tudo. Não somos rancorosos. Somos democráticos”, enfatiza o humorista.
Mercado financeiro
Marcius, que é formado em jornalismo e durante 15 anos cobriu o mercado financeiro – que foi sócio da Agência Leia de Notícias, especializada em conteúdo para economia –, diz que nem passava pela sua cabeça se tornar artista. Descobriu por acaso a vocação para ator. “Era um bom aluno e focado no jornalismo. Comecei a fazer curso de teatro no Tablado como se fosse uma espécie de academia. Em vez de malhar, ia para o curso de interpretação”, lembra.
Apesar de não estar mais envolvido com as notícias, ele revela que sente falta do meio e que levou muita coisa dos tempos do jornalismo para a televisão. “Essa coisa de escrever sob pressão. Ter de fazer roteiro, escrever um programa, dividir tarefas; ajuda muito no momento de comandar uma equipe. Na hora de criar os quadros, principalmente os do jornal do Tá no ar, ajuda demais, porque o jornalismo dá muito material. Quando entrei na TV, a coisa foi me consumindo muito, mas sinto saudade da adrenalina daqueles tempos. Sou viciado em notícias, compro todos os jornais e revistas. É uma grande paixão”, revela.
Talento múltiplo, Marcius se desdobra como ator – inclusive com participações em novelas como Caminho das Índias, Da cor do pecado e Mulheres apaixonadas –, roteirista, jornalista, humorista e dublador. Deu voz a personagens dos desenhos Meu malvado favorito, da série Osmar, a primeira fatia do pão de forma, exibida pelo Gloob, e da animação Bons de bico, entre outros. “Precisava ganhar dinheiro, e a dublagem surgiu para isso. Mas até hoje continua”, diz.
E ele não para. O último programa de Tá no ar será exibido dia 5 de junho, e quem pensa que ele entrará de férias está enganado. Durante o Mundial, o artista vai participar da Central da Copa diariamente, dando palpites e comentando os jogos. “Tive essa experiência em 2010 e na Copa das Confederações do ano passado e foi bem bacana”, revela o flamenguista roxo, que anda meio desiludido com o time.
Quando o torneio mais importante de futebol do planeta acabar, ele começa a escrever a segunda temporada de Tá no ar. “Não tem muito descanso não. Vamos fazer o roteiro, gravar, e no fim do ano já começa a divulgação do filme Os cara de pau, que estreia no dia 25 de dezembro”, avisa.
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três perguntas para...
Marcius Melhem ator e roteirista
Como você define o Tá no ar?
É um programa de humor que dialoga com o que está acontecendo com universo da TV e levanta algumas questões que estão aí na sociedade. A gente fala de padrão Fifa, de seriados policiais, de seriados médicos, de programas sensacionalistas. A gente aborda o universo infantil e a violência. O programa dialoga com o seu tempo. E ainda expõe discursos oficiais e não oficiais.
É complicado fazer humor nos tempos de hoje, em que tudo deve ser politicamente correto?
É, sim, difícil fazer humor no país nesse momento. As pessoas estão com os ânimos muito exaltados. Como o programa brinca com tudo, inclusive com ele mesmo, foi muito bem acolhido. A gente brinca com tudo e, brincando, levantamos questões para a sociedade discutir, sem deixar de levar diversão.
Você sempre foi um cara engraçado?
Eu era uma criança engraçada. Entrei na adolescência sendo um cara engraçado, fui um adulto engraçado, mas aí, quando entrei na televisão, fiquei mais sério. De verdade. Na vida, agora, sou mais sério. Interessante isso não é?
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