domingo, 18 de maio de 2014

Intolerantes #nãosomostodos - Lucas Soares Rodrigues

Estado de Minas: 18/05/2014 



Fato (1): em 27 de abril de 2014, Daniel Alves – jogador do Barcelona – comeu uma banana jogada por um torcedor. Repercussão (principal): manifestações de repúdio ao ato do torcedor. A maior delas foi iniciada por Neymar, ao publicar uma foto em rede social segurando uma banana e com a hashtag #somostodosmacacos. Em questão de horas, diversas pessoas, muitas delas celebridades, também compartilharam fotos pessoais com uma banana na mão e a mesma hashtag.

No entanto, um dia depois da atitude lamentável do torcedor espanhol, outro fato (2) – em decorrência da manifestação de repúdio de Neymar – tomou conta das redes sociais: o apresentador e empresário Luciano Huck (um dos que compartilharam suas fotos) lançou, por meio de sua grife, uma camisa com a hashtag #somostodosmacacos para venda, pelo valor de R$ 69. Imediatamente, o foco mudou. A discussão sobre o racismo foi praticamente posta de lado e se iniciou uma discussão sobre se Huck foi ou não oportunista.

Interessante notar nesse contexto que as atitudes de Daniel Alves, Neymar e Luciano Huck foram diferentes, porém com um mesmo objetivo: o fim do racismo. De uma forma ou de outra, são atitudes aceitáveis, respeitáveis (obviamente, o que não é o caso do ato do torcedor). Assim, não seria melhor essa análise mais geral, em vez de criticar um deles?

Entretanto, Huck foi massacrado por supostamente visar o lucro na luta contra o racismo. O apresentador até escreveu uma nota justificativa, assegurando que 100% da renda das vendas da camisa  seriam doados para o terceiro setor. E se não fosse? E se os 100% do lucro fossem para o seu bolso? Qual o problema? Algum crime? Então, por que sobrepor o caso Daniel Alves pelo caso Luciano Huck? Não obstante, poder-se-ia dizer que sua ação foi imoral, pois oportunista.

Ainda que haja concordância quanto a isso, foi mais imoral do que o racismo? Afinal, racismo é condenável no mundo inteiro, há muito tempo. E sobre o oportunismo? O que dizer? Onde se encaixa? Não seria birra demais contra uma pessoa de maior poder aquisitivo? Provavelmente, se outra pessoa – com menos dinheiro e com menos fama – tivesse lançado uma camisa com os dizeres “100% macaco”, nos moldes da antiga “100% negro”, muitos dos que criticaram Huck permaneceriam calados (isso se não elogiassem a visão de tal pessoa).

Ora, historicamente, o mundo – e, principalmente, o Ocidente – lutou e ainda luta pela liberdade. E uma sociedade liberal busca formas nas quais os indivíduos possam satisfazer suas aspirações. A condição necessária para tanto é que a sociedade não apresente um modelo de vida impositivo, único, devendo comportar e acolher (na medida do possível) as diferenças.

Infelizmente, o que ocorre é que vivemos numa época em que muitos não querem acolher as diferenças. Querem instituir um modelo social e, se não for do jeito deles, está errado, é nazista, é preconceituoso, é “coxinha”. Por fim, não respeitam o direito individual e querem enfiar goela abaixo sua teorias, sejam sociais, políticas, econômicas ou morais.

Enfim, o #somostodos é sempre do jeito deles. Quem defendeu o apresentador foi tachado dentro da hashtag #somostodosbabacas. Mas que #fiqueadica: dentro de certos limites – os quais não foram trespassados por Luciano Huck –, os homens devem saber conviver uns com os outros cientes de que todos são diferentes, e um pensamento universal soa bem totalitário, uma vez que, dentro de nossas particularidades e personalidades únicas, #nãosomostodos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário